No Brasil é Carnaval em todas as estações do ano: conheça o Folianópolis

Ana Caetano

23 jan 2025 14:00

No país irmão, o espírito do Carnaval não conhece limites de calendário, e o Folianópolis é a prova disso. O SAPO Viagens atravessou o Atlântico para viver de perto uma das maiores micaretas brasileiras e conta-lhe tudo.

Anualmente, a semana do Carnaval movimenta milhares de pessoas pelo Brasil. Sabemos que falta um pouco para fevereiro, mas o entusiasmo do povo brasileiro por esta celebração é tão grande que acabou por dar origem ao conceito do “Carnaval fora de época”. Contagiado pela folia que parece não ter horas, o SAPO Viagens cruzou o Atlântico para experienciar a micareta, umas das festas mais carismáticas do país.

O termo vem da expressão “mi-carême”, uma festa tradicional francesa do século XV que, tal como o nome indica, se realiza no “meio da Quaresma”, com o propósito de atenuar o longo período de abstinência imposto pelo calendário católico-cristão. Neste dia, os fiéis podiam dedicar-se aos prazeres terrenos e interromperem o jejum, atos de caridade e outras penitências.

No Brasil, as micaretas chegaram apenas no século XX, sob influência da Belle Époque e consta-se que a primeira aconteceu em Jacobina, município no interior da Bahia, em 1912. Naturalmente, a primeira manifestação não contou com todo o aparato que hoje marca as micaretas que acontecem por todo o Brasil, especialmente porque apenas em 1950 foi criado o primeiro trio elétrico, carro alegórico que transporta a banda pelo recinto dos festejos.

Durante vários anos, esta festividade ficou condicionada aos limites da Bahia, expandindo-se por outros estados apenas por volta de 1989 e tornando-se, atualmente, uma grande atração turística que movimenta milhares de pessoas e capital por todo o Brasil.

Folianópolis: a micareta mais bonita do Brasil desde 2006

Uma das micaretas mais icónicas realiza-se em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, no sul do país, onde o SAPO Viagens marcou presença. A primeira edição teve lugar em maio de 2006, na Passarela Nego Quirido, o sambódromo da cidade localizado no bairro Prainha. No entanto, desde então, todas as edições passaram a decorrer em novembro, no mesmo local.

O Folia estende-se por três dias e atrai, em média, cerca de 50 mil pessoas. Destes, 65% são turistas, o que significa que mais de 10 mil visitantes viajam anualmente a Florianópolis para participar na micareta. Estima-se ainda que o evento movimenta cerca de 45 milhões de reais (7.2 milhões de euros) na economia local: "Procuramos trazer inovações constantes e novas experiências para o público, mas sempre mantendo a relevância do evento como um dos principais momentos turísticos da capital catarinense. Bom para quem vem aproveitar a micareta e as praias, mas também para os cerca de 3 mil trabalhadores que se beneficiam direta e indiretamente de toda essa injeção de recursos que o evento traz”, afirma Doreni Caramori Jr, diretor do Grupo ALL, empresa organizadora do Folianópolis, em comunicado.

Personalizar o abadá: a regra é não haver regras

Apesar de acontecer em novembro, os preparativos para a festa mais aguardada do ano começam muito antes, com a personalização do “abadá” - túnica de origem africana utilizada para a celebração de um determinado ritual – que, neste caso, funciona como uma espécie de bilhete de entrada no recinto e distingue os foliões dos diferentes blocos carnavalescos.

“Você tem de customizar o seu abadá! Faz parte da experiência!”, foi o conselho que me deram poucas horas antes da festa, quando recebi a túnica. Um conselho que, admito, me arrependi de ter ignorado assim que cheguei ao recinto. Não que os foliões reparem particularmente em quem não personaliza a t-shirt, mas, ao deparar-me com um universo ilimitado de possibilidades criativas, fiquei com pena de não ter desafiado a minha imaginação.

Uma simples túnica pode transformar-se em praticamente tudo – acredite! Logo à entrada do recinto, vi t-shirts que tinham sido reinventadas como saias, vestidos, bandoletes, calças, casacos, criações dignas de desfile. Lantejoulas, pedrarias, fitas de cetim, rendas, plumas... todos os materiais possíveis foram usados. Se houvesse um concurso para escolher o modelo mais criativo, tenho a certeza de que seria impossível determinar um vencedor.

Nem só de trio se faz uma micareta

As portas do recinto abrem, por norma, a partir das 19h, mas a festa começa muito antes de o trio elétrico entrar em ação. A organização garante inúmeras atrações para entreter o público: ativações de marcas, carrosséis, espaços para fotografias e outras surpresas que prometem criar momentos memoráveis.

Sob o tema “Astrologia”, a 17.ª edição do Folianópolis alinhou os astros e trouxe para a Passarela Nego Quirido toda a magia do universo, tornando a micareta mais bonita do Brasil ainda mais inesquecível.

Embora o acesso ao trio elétrico seja muito exclusivo, é comum ver foliões junto ao portão que separa o bloco do carro alegórico, na esperança de conseguir um lugar no topo e aproveitar a festa ao lado dos artistas. Apenas cerca de duas dezenas de pessoas têm a sorte de viver essa experiência única, e, na noite em que Ivete Sangalo, uma das maiores estrelas da música brasileira, subia ao palco pela 15.ª vez no evento, eu fui uma das felizardas.

No dia anterior, tive a oportunidade de desfrutar da micareta a partir do camarote, embalado pelos ritmos contagiantes da Banda Eva, Léo Santana e Bell Marques. No entanto, nada se compara à energia avassaladora que se sente no topo do trio elétrico, onde tudo se transforma num mar de alegria e cores. Cercada por milhares de pessoas a pular, cantar e vibrar em uníssono, é impossível traduzir em palavras a emoção que se vive naquele momento – é simplesmente indescritível.

Conselhos antes de ir a uma micareta

Chegue cedo: as micaretas são uma celebração que atraem milhares de pessoas. Chegar com antecedência ajuda a evitar filas e confusões desnecessárias, assim como aumentar a probabilidade de conseguir um bom lugar (especialmente para quem tem bilhete para os camarotes);
Priorize o conforto: Sim, personalizar o abadá é uma parte divertida da experiência, mas garanta que a customização não compromete o seu conforto. Opte por roupas leves e calçado confortável, para que possa dançar e movimentar-se à vontade durante toda a festa;
Hidrata-se: O Brasil tem um clima tropical, por isso não espere temperaturas baixas, mesmo que a micareta seja durante o "inverno". Junte o calor humano de milhares de foliões a dançar, e rapidamente perceberá que hidratar-se é essencial. Não se esqueça de beber água regularmente, especialmente se planeia ficar no bloco para seguir o trio elétrico. Para comprar bebidas no recinto tem de adquirir uma pulseira cashless nos vários pontos de venda espalhados pelo espaço e carregá-la com o valor que desejar. No final do festival, poderá solicitar, no prazo de 7 dias, o reembolso do valor remanescente.
Leve apenas o essencial: Mochilas e malas grandes não são permitidas no recinto e podem ser bastante incómodas numa micareta. Leve apenas o indispensável, como documentos e telemóvel, e opte por uma mala pequena que possa usar à cintura ou a tiracolo.
Planeie o transporte com antecedência: ir e sair do recinto pode ser caótico devido à dimensão do evento. Pesquise as opções de transporte disponíveis antes de ir, para evitar longos tempos de espera ou imprevistos no regresso.
Só entra boa disposição: Se há algo em que o povo brasileiro é mestre, é em fazer a festa. Vista o seu melhor sorriso, entre no espírito e deixe-se contagiar pela energia positiva.

Como ir ao Folianópolis

Visitar Floripa e participar no Folianópolis a partir de Portugal nunca foi tão fácil. Com a nova rota direta da TAP Air Portugal, o estado de Santa Catarina e Lisboa estão agora conectados por uma viagem de apenas 11 horas.

Os voos entre Lisboa e Florianópolis operam às terças, quintas e sábados, partindo da capital portuguesa entre as 10h10 e as 10h50 e chegando a Florianópolis entre as 17h15 e as 17h55, horário local. No sentido inverso, os voos saem da capital de Santa Catarina entre as 19h35 e as 20h40, com chegada a Lisboa no dia seguinte, entre as 9h50 e as 10h55. Os voos de ida e volta rondam os 700€, segundo uma simulação realizada a 20 de janeiro de 2025.

O Folia 2025 realizar-se-á a 20, 21 e 22 de novembro e o valor dos bilhetes, para os três dias, começam em torno dos 53€. De relembrar que não é permitida a entrada a menores de 18 anos.