Mary (@marycarforamakeup) é o nome perfeito para começar a falar da viagem de vida da portuguesa com um sotaque que traz do mundo latino. Ela começa por dizer “a minha história dava um livro”. Dona de uma beleza bem portuguesa, traz laivos e traços bonitos da Venezuela onde viveu muitos anos. Representa muito bem o orgulho da diáspora portuguesa para alcançar futuro noutros continentes. Depois do trágico desaparecimento do pai na ilha da Madeira (que nunca apareceu), viajou muito jovem com a sua família para a Venezuela. Primeiro impacto: ficou separada das irmãs e deparou-se com uma realidade crua e dura na Venezuela. A realidade da subserviência. Sem folgas e quase ausência de contacto familiar como tinha em Portugal, Mary Carfora estava à beira do colapso na antiga Venezuela. Essa Venezuela era rica em petróleo e ouro, além de uma moda muito apurada e bem desenvolvida no país.
Foi aí que Mary começou a interessar-se por tendências de vestuário e de maquilhagem. Aos 17 anos ‘fugiu’ na própria Venezuela e começou a trabalhar por contra própria e aprendeu a administrar as suas finanças, tendo estudado para poder compreender melhor sobre gestão. Ainda concluiu um curso de maquilhagem. Tudo sozinha, embora viesse a encontrar o amor ali também na Venezuela. Juntos vieram para a Madeira, deixando a fantástica Venezuela (hoje perigosíssima) para trás.
A Venezuela é um país que tem tudo, desde serra até praias paradisíacas, segundo a Mary. E quando a oiço lembro-me de uma outra entrevista com o Grande Viajante @migueljudice que referia a Venezuela como sendo um dos setenta países que visitou com maior beleza e diversidade. Não obstante o perigo, é um país a não perder, mas onde ‘se pode ser perdido’.
Mary aprova outro ponto da Venezuela: pessoas felizes e com “um potencial enorme que lamentavelmente (…) não tem sido valorizado". Essa desvalorização aparece numa voz mais esmorecida da nossa portuguesa emigrante pois os conflitos que conhecemos sobre a Venezuela são ignominiosos e tornam-na indesejável de conhecer. Voltou a Portugal, especificamente à Madeira, mas poderia ter começado a nova vida em qualquer outro ponto do mundo. Mas a Madeira foi a aposta da sua ‘última’ viagem.
O que tornou Mary conhecida? As suas técnicas de make-up que aprendeu entre os profissionais latinos da Venezuela. Até 2013 anualmente visitou a Venezuela, sendo que passou a estranhar aqui duas coisas por comparação com a Venezuela: o clima e a dificuldade de êxito. Por outro lado, e ainda nesta comparação, ela refere que na Madeira pode cirandar na rua de forma livre, pode “viver com tranquilidade e harmonia”. Aqui pode “esquecer uma mala no restaurante e eles guardam”. Os filhos podem ir ao cinema de forma segura. Tudo isto foi a novidade face ao outro lado do Atlântico!
A Madeira tornou-se a raiz segura para criar os seus filhos e para se expandir na área da moda com coleção de vestuário (@marycarforacollection) inspirada nas caraterísticas madeirenses. Em plena pandemia a Mary compete com o vírus, com o medo e com as grandes empresas para “mostrar ao mundo que o nosso país também tem uma qualidade excelente (…) lamentavelmente não é o momento ideal”, mas ela tem fé em Portugal. Afinal ela subiu a pulso e viu de tudo na Venezuela, veio de lá fortalecida.
“Ver um padrão destes com tanta cor e alegria (…) aí é onde o nosso nome como portugueses vai chegar àqueles que ainda não nos visitaram”. Esta é uma forma das pessoas “viajarem levando o que nós [ela] produzimos nas ilhas e continente”. Reparem como conseguimos ver o galo de Barcelos ou vestígios dos azulejos portugueses nos fatos de banho da sua marca.
Mary refere que o seu limite é o céu e nem o momento COVID-19 a faz refrear na vontade de “apostar no que é nosso”. Inspirem-se nas cores e na moda portuguesa do projeto da Mary que conclui, aos 44 anos, que o seu retorno à pátria foi um passo de confiança: “estou a fazer tudo por tudo (…) a dar conhecimento da nossa ilha pelo mundo fora”.
O seu objetivo é um produto final que chegue aos quatro cantos do planeta e sejam também souvenirs para turistas e emigrantes portugueses. São estes últimos que têm comprado cada vez mais a marca e viajado, assim, até Portugal através dela e da sua nova coleção.
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