A chegada a Córdoba não foi fácil! Foram precisas duas horas para conseguirmos estacionar. O centro histórico é composto praticamente por ruas de sentido único e isso faz com que tenhamos de andar aos círculos para ir de um sítio para o outro. Se a isto aliarmos o facto de ser sexta-feira à noite numa cidade conhecida pelas suas festas de despedida de solteiro, estacionar torna-se numa tarefa só ao alcance do monge mais relaxado do mundo.

A Mesquita-Catedral de Córdoba

O dia começou relativamente cedo e isso deveu-se a um bom motivo: a Mesquita-Catedral de Córdoba. É provavelmente o monumento mais importante da cidade e certamente o mais fascinante. A sua edificação data de 784 d.C. durante a ocupação muçulmana e, ao longo dos séculos, foi expandida e renovada várias vezes, sendo que nessa época serviu como importante centro religioso e cultural do Califado de Córdoba. No entanto, com a reconquista cristã (1236) a Mesquita foi transformada numa Catedral. E é neste ponto que as coisas ficam interessantes! A Catedral foi construída dentro da Mesquita, que passou a incluir uma nave central, um coro e capelas laterais. Após esta construção, a Mesquita-Catedral passou por várias mudanças arquitectónicas ao longo dos séculos: no século XVI, foi adicionada uma capela barroca; no século XVIII, o estilo rococó foi introduzido em algumas das capelas; no século XIX, a Catedral passou por uma grande restauração liderada pelo arquitecto espanhol Vicente Lampérez. Hoje, a Mesquita-Catedral de Córdoba está classificada como Património Material Imóvel pela UNESCO.

Ainda não eram 8h30 e já se estava a formar uma pequena fila à entrada do pátio que dá acesso à Mesquita-Catedral, parece que não somos os únicos a saber que a entrada é gratuita entre as 8h30 e as 9h30! A cidade, que horas antes fervilhava de emoção, estava deserta e nem parecia a mesma; as ruas movimentadas deram lugar a ruas calmas onde o som dos passarinhos era o ruído de fundo. A arquitectura clássica aliada com a primeira luz do dia dá uma beleza única às fotografias tiradas, principalmente se forem conjugadas com as poucas pessoas que andam na rua. Já na Mesquita-Catedral, reparo numa freira a falar com uma pessoa e o pensamento foi instantâneo “dava uma boa fotografia!” Hora de entrar na Mesquita-Catedral.

Córdoba
"reparo numa freira a falar com uma pessoa e o pensamento foi instantâneo “dava uma boa fotografia!” créditos: Guilherme Teixeira

Acordar cedo tem a vantagem de termos tempo para andar a passear pelas diversas ruas de Córdoba. Mas antes de vos falar das ruas, vou falar de um jardim incrível (parece ser uma tendência nesta viagem a Espanha). Vamos em direcção ao Alcázar de los Reyes Cristianos, não sem antes fazermos um pequeno desvio pela Judiaria e a sua Sinagoga. Esta parte da cidade é bastante encantadora! As ruas estreitas deste bairro levam-nos até ao exterior da muralha onde, ao passarmos pela Puerta de Sevilla, acabamos junto ao Alcázar. Este monumento foi construído no século XIV durante o reinado de Alfonso XI de Castela e hoje é classificado como Património Material Imóvel pela UNESCO. A sua impressionante arquitectura combina três estilos arquitectónicos: Gótico, Mudéjar e Renascentista. Na Torre dos Leões conseguimos ter uma vista panorâmica sobre Córdoba e o rio Guadalquivir. Os jardins são outro destaque; estes apresentam fontes, estátuas e uma grande variedade de plantas e flores.

Outro ex-libris que vos quero trazer é a Puente Romana que liga as duas margens do importante Guadalquivir e data, ainda que sem certeza, do século I a.C. durante a ocupação romana. Com 16 arcos semicirculares e um comprimento total de cerca de 247 metros, a ponte apresenta duas torres defensivas datadas da Idade Média.

As ruas de Córdoba
O sossego das primeiras horas da manhã nas ruas de Córdoba créditos: Guilherme Teixeira

Estávamos perto da hora de almoço quando atravessamos a ponte com o objectivo de ir ao brunch, mas primeiro tivemos que parar para admirar a beleza frágil que o rio Guadalquivir apresenta. Ao contrário de Sevilha, o caudal em Córdoba é bem mais baixo devido à presença de uma linha de antigos moinhos que infelizmente já se encontram em estado avançado de degradação. No entanto, houve outra coisa que me chamou à atenção! Não um, não dois, mas sim três Garças Noturnas e várias Garças-brancas-pequenas. É caso para dizer: por esta é que eu não estava à espera!

Uma cidade ciosa dos seus pátios

Os Pátios! Falta dar o merecido destaque a esta paixão Andaluza. Os Pátios Cordobeses são uma forma de expressão artística dos habitantes desta cidade. Estes são caraterizados por serem pátios internos, decorados com flores, plantas, azulejos e elementos tradicionais. Esta tradição remonta aos tempos romanos, quando as casas da região eram construídas em torno de um pátio central para criar uma zona de protecção contra o calor Andaluz. Mas é durante o Festival dos Pátios, realizado em Maio, que os mesmos ficam abertos ao público. Isto porque muitos deles estão em zonas privadas e a sua visita só é autorizada nesta altura. Os Pátios Cordobeses são reconhecidos como Património Cultural Imaterial pela UNESCO desde 2012.

Córdoba
Há sempre um canteiro à espreita nas ruas de Córdoba créditos: Guilherme Teixeira

A "Meca" das despedidas de solteiro

Nunca achámos que as despedidas de solteiro eram um problema nesta parte de Espanha, aliás bastou uma pequena pesquisa para ver a magnitude da questão! Não vimos uma, nem duas, nem três despedidas de solteiro! Acho que precisávamos dos dedos de quatro mãos para contar a quantidade surreal de pessoas vestidas a rigor no meio das ruas. Não ficámos a sentir que isso prejudicou a nossa visita ou que nos impediu de fazer o quer que seja, mas ficámos com a sensação de estarmos a viver dentro de um filme americano ou de termos ido parar a Ibiza ou algum desses destinos paradisíacos. Quem é que se iria lembrar que Córdoba podia ser a “Meca” das despedidas de solteiro?

Não senti que Córdoba fosse a cidade mais fotogénica desta pequena viagem à Andaluzia (vejam o meu artigo de Sevilha e do Complexo de Alhambra para complementar este artigo), mas é sem dúvida uma cidade rica em história e cultura. Estamos a falar de uma cidade com cinco locais classificados como Património Mundial da UNESCO. Neste artigo só falo de três, mas todo o centro histórico está sobre esta bandeira, assim como a Medina Azahara na periferia da cidade (é um local de que não falo, mas que vale muito a pena visitar). Ao nível fotográfico é um paraíso para qualquer fotógrafo mais vocacionado para a arquitectura.

Podem seguir as caminhadas e experiências fotográficas do Guilherme no seu blog, Raw Traveller, e no instagram.