Prosseguindo o voo em direção aos confins da maior floresta tropical do mundo, chega-se a gigantescas cicatrizes castanhas, onde a floresta é derrubada e depois queimada para abrir caminho para estradas, explorações de ouro, campos agrícolas e quintas de criação de gado.
São os famosos "arcos do desmatamento", que sulcam canais através da América do Sul - uma catástrofe para o nosso planeta.
Até recentemente, graças à sua vegetação exuberante e à fotossíntese, a bacia amazónica absorvia grandes volumes das crescentes emissões de carbono da atmosfera, travando o pesadelo das mudanças climáticas antes de se tornarem incontroláveis.
Mas estudos mostram que a Amazónia se aproxima do "ponto de inflexão", que a verá se transformar em savana, com a morte de suas 390 mil milhões de árvores, uma depois da outra.
Atualmente, a destruição se acelera, sobretudo desde que o presidente Jair Bolsonaro, um cético do aquecimento global, chegou ao poder em janeiro de 2019. Bolsonaro quer abrir as terras protegidas ao agronegócio e à mineração nos 61% da Amazónia localizada em território brasileiro.
A destruição também está em andamento para o viveiro extremamente rico de espécies interdependentes - mais de três milhões catalogadas - entre elas o emblemático gavião-real e a majestosa onça.
Os povos indígenas, guardiões da floresta graças às suas tradições milenares, sofrem ainda com incursões violentas de garimpeiros nos seus territórios.
Mas a catástrofe não vai parar aí. Se a Amazónia atingir o "ponto de inflexão", em vez de limitar o aquecimento global, ela irá acelerá-lo bruscamente, liberando na atmosfera uma década de emissões de carbono.
"Nós estamos matando a Amazónia", diz Luciana Gatti, química atmosférica. "Hoje a floresta já é fonte (de carbono), muito antes do que se imaginava que isso aconteceria. Aquele cenário horrível vai chegar muito mais cedo", lamenta.
Em muitos aspetos, trata-se de uma história de terror: sujeitos violentos com chapéus de cowboy exploram uma região sem lei, aproveitando-se da corrupção política e de irregularidades maciças para enriquecer.
Mas é também uma história da Humanidade: a nossa relação com a natureza, o nosso apetite insaciável, a nossa incapacidade de nos determos antes que seja tarde demais.
Pois o ouro, a madeira, a soja, o gado que destroem a Amazónia têm a ver com a oferta e a demanda mundiais. Os produtos que asfixiam a Amazónia podem ser encontrados nos lares de todo o mundo.
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