Numa destas caminhadas na zona Sul da ilha de Saint Louis fomos abordadas por uma rapaz. Na verdade, fomos abordadas mil e quinhentas vezes por toda a ilha, mas a maioria das vezes era sempre o mesmo: “Hola, donde son? De España? Mira quieres hacer una vuelta de caballo?", ou então "Quieres ir en barco?”. E a história ficava por aqui: "não, somos de Portugal e estamos bem".

Voltando à abordagem com historia. O rapaz começou também com um "olá", mas este era um olá português. “Olá”, respondemos de volta, e ele começou a falar numa mistura de português com outra coisa qualquer, apercebi-me logo que era guineense e comecei a falar crioulo. Pumba! Na mouche.

O Alfuseni sorriu de orelha a orelha, trabalhava num hotel, que estava fechado por causa da pandemia e, nos últimos meses, a única coisa que fazia era ir lá todos os dias de manhã regar as plantas. Portanto, imaginem a sua felicidade quando nos viu.

Tinha tirado a manhã para fazer umas fotografias à cidade e ver hotéis, mas não consegui. O Alfuseni não parava de dizer que estava muito feliz por nos ter encontrado… e eu não tinha como dizer para se ir embora, então acabei por convidá-lo para almoçar com um amigo, o Moustapha, que me recebeu o ano passado em sua casa, tendo sido o meu couchsurfing.

Bom, sem muito me alongar, acabou por depois vir connosco à casa do Moustapha, bebemos uns sumos e conversamos e, no regresso, queria continuar a passear pela tarde fora. Aí, tive de engolir em seco e dizer que tinha de ir visitar os hotéis sozinha, porque ele insistiu em vir. Às vezes, penso que posso ter sido rude mas tinha de trabalhar, e queria estar descansada a fazer as minhas coisas.

Percorre a galeria de vê algumas imagens de Saint Louis.

À procura do "El Dorado"

Procurava por todas as ruas uma loja em especial, numa delas estava lá o artista que me tinha recebido há um ano, onde nos sentamos a beber ataia* e a falar sobre a vida.

Lembro-me que gostava imenso dos quadros dele, principalmente de um que me chamava muita atenção. “El Dorado” representava um barco que rumava para a Europa cheio de pessoas com sonhos e esperanças, que deixavam a sua terra natal em busca de algo que pensam ser o auge da vida.

Para trás deixam família, casas, e a incerteza se iriam voltar, pois nem sabiam se iriam chegar. Uma viagem que pode levar 10 dias até Espanha, entre tempestades, naufrágios e em condições precárias, o que os move é a esperança e a fé.

Encontrei!

Era fácil reconhecer o cantinho do Zeus (o seu nome artístico). Na entrada do seu espaço, meio que em ruínas, tem em exposição dezenas das suas obras.

Assim que entrei ele me reconheceu e me mostrou a foto que tínhamos tirado há um ano! Fiquei tão feliz que se lembrasse de mim.

Encontro com Zeus
Encontro com Zeus créditos: Boleias da Marta

Sentei-me a observar os seus quadros, enquanto ele trabalhava e preparava-se para uma exposição, tinha de enviar as telas em dois dias para Paris!

Da outra vez não tinha comprado nada porque estava com a bicicleta e não tinha como levar, mas desta vez não tinha desculpa nenhuma e, na verdade, só queria ajudar este artista que em tempos de pandemia viu o seu ganha pão a ir por água abaixo. Não há turistas, ou seja, não tinha a quem vender a sua arte.

Depois de negociar, optei por uma tela pequena de forma a poder levar e ficar bem no meu quarto.

A passagem foi curta por esta cidade linda, no dia de partida lá tivemos que nos levantar às seis da matina para apanhar mais um autocarro de regresso a Dakar.

No próximo episódio saímos de Dakar rumo a Sul, na minha opinião, para a parte mais bonita e especial da viagem. Estão prontos?

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*Ataia - chá que bebem no Senegal