As preocupações com a conduta dos tripulantes em voos comerciais voltaram a estar em destaque após um episódio insólito num voo da British Airways, no qual um assistente de bordo foi encontrado nu e a dançar na casa de banho da classe executiva, alegadamente sob o efeito de drogas. O incidente ocorreu em maio, durante uma ligação entre São Francisco e Londres, tendo o funcionário sido detido à chegada ao aeroporto de Heathrow.

O caso causou consternação entre passageiros e especialistas do sector da aviação, mas está longe de ser um episódio isolado. Uma lista elaborada pela AirAdvisor, plataforma internacional que defende os direitos dos passageiros e promove a segurança aérea, apresenta 10 incidentes que envolvem profissionais em serviço sob a influência de álcool e drogas desde o ano 2016. Só em 2025, já foram registados três incidentes envolvendo tripulantes que causaram distúrbios.

Confira 10 incidentes envolvendo tripulantes sob o efeito de álcool e drogas desde 2016

1. British Airways – maio de 2025
Comissário de bordo de 41 anos encontrado nu e a dançar na casa de banho da classe executiva, num voo entre São Francisco e Londres. Foi contido pela tripulação e detido à chegada. Suspenso enquanto decorre investigação.

2. SAS – abril de 2025
Comissário reprovado num teste de alcoolemia pré-voo no aeroporto de Arlanda, Estocolmo. Teor de álcool no sangue de 0,26‰ (acima do limite legal de 0,2‰ na Suécia). Afastado do serviço.

3. Southwest Airlines – janeiro de 2025
Piloto detido no aeroporto de Savannah após sinais evidentes de embriaguez. O voo sofreu um atraso de quase cinco horas. O caso está a ser analisado judicialmente.

4. Cathay Pacific – julho de 2024
Piloto júnior reprovado num teste de álcool antes de voo internacional no aeroporto de Sydney. O voo sofreu atraso de 24 horas e o caso está a ser investigado.

5. Delta Air Lines – novembro de 2024
Dois comissários reprovados em testes aleatórios no aeroporto de Schiphol, Amesterdão. Um deles apresentava 1,43‰ — quase sete vezes o limite. Ambos foram suspensos e multados.

6. Air India – março de 2024
Comandante reprovado em teste pós-voo entre Phuket e Deli. Foi demitido e denunciado à autoridade de aviação indiana, podendo perder a licença.

7. Delta Air Lines – junho de 2023
Piloto embriagado apresentou-se para voo entre Edimburgo e Nova Iorque. Foi preso e condenado a 10 meses de prisão.

8. Alaska/Horizon Air – outubro de 2023
Piloto de folga tentou desligar motores em pleno voo, sob efeito de cogumelos alucinógenos. Foi dominado e preso. Enfrenta acusações criminais.

9. United Airlines – julho de 2023
Piloto apresentou-se embriagado durante voo de Paris para os EUA. O voo foi cancelado e o profissional suspenso.

10. Citilink Indonesia – dezembro de 2016
Piloto iniciou briefing pré-voo com fala arrastada. Passageiros alertaram a segurança. O incidente tornou-se viral e levou à suspensão do piloto e à demissão de executivos da companhia.

O advogado especializado em direito aeronáutico e CEO da AirAdvisor, Anton Radchenko, reforça que os passageiros têm o direito de se sentir seguros a bordo, o que inclui saber que a equipa de voo está sóbria e em plenas condições de trabalho. Para Radchenko, o recente episódio da British Airways é particularmente alarmante e volta a levantar questões urgentes sobre a toxicodependência entre tripulantes.

Ainda assim, o especialista acredita que situações como esta devem ser vistas como uma oportunidade para reforçar os padrões de segurança e fiscalização em toda a indústria. “Embora raros, estes casos são alertas sérios de que a segurança não deve ser subestimada. No entanto, é importante manter a perspetiva que a aviação continua a ser um dos sectores mais seguros do mundo. O essencial é que as companhias atuem cada vez mais com transparência e celeridade, garantindo que os direitos dos passageiros sejam respeitados”, afirma.

Radchenko destaca ainda que as companhias aéreas estão sujeitas a regulamentação rigorosa e cultivam uma cultura de segurança proactiva. É prática comum a realização de testes obrigatórios de álcool e drogas antes e após os voos, sendo que muitos países adotam políticas de tolerância zero. As penalizações para os infratores incluem suspensão imediata, revogação da licença e, em alguns casos, acusações criminais.

O CEO da AirAdvisor sublinha que, caso um voo seja atrasado ou cancelado devido à incapacidade de um membro da tripulação, os passageiros têm direito a indemnização financeira ao abrigo do Regulamento (CE) n.º 261/2004 ou do regulamento equivalente no Reino Unido (UK261). Os montantes podem variar entre €250 e €600, dependendo da distância e duração do atraso. “Se um voo for perturbado porque um tripulante não passou num teste de álcool, quase sempre a responsabilidade recai sobre a companhia aérea e os passageiros têm direito a ser compensados”, esclarece.

Radchenko recomenda que os passageiros apresentem queixas diretamente junto das companhias ou recorram a plataformas especializadas.

Passageiros também sob escrutínio

A questão do comportamento a bordo não se restringe à tripulação. Recentemente, a Ryanair anunciou que começará a aplicar coimas de €500 a passageiros que causarem distúrbios a bordo, na sequência do aumento de incidentes ligados ao consumo excessivo de álcool, sobretudo em voos entre o Reino Unido e Ibiza. A transportadora apelou ainda aos bares e lojas duty free dos aeroportos para limitarem a venda de bebidas alcoólicas. Outras companhias estão a considerar medidas semelhantes.

“Estar embriagado num avião não é apenas irresponsável, é perigoso. Coloca em risco a segurança do voo, causa atrasos, cancelamentos e perturbações em cadeia na operação”, alerta Anton Radchenko.