Nas montras das lojas de recordações, há televisões que passam os melhores momentos e as “marradas” das touradas à corda, que despertam a curiosidade dos turistas.
Ainda que nem todos apreciem touradas, muitos concentram-se em frente às montras durante vários minutos a assistir e há quem compre DVD como recordação da ilha.
Diferentes das touradas de praça, as touradas à corda realizam-se nas ruas, em percursos limitados por riscos e encerrados aos automóveis, onde correm quatro touros (um de cada vez), amarrados por uma corda que é segurada por pastores.
A população assiste, gratuitamente, nas varandas e janelas das casas e os mais aventureiros permanecem nas estradas, enfrentando o animal ou fugindo quando ele se aproxima.
Por vezes, as brincadeiras com o touro terminam com uma “marrada” e são sobretudo esses momentos que prendem o público ao ecrã.
Fotógrafo há mais de 40 anos, Gabriel Silva foi um dos primeiros a descobrir o potencial dos vídeos das touradas à corda como negócio.
Quando as começou a filmar, em 1989, não tinha qualquer objetivo comercial, mas o interesse dos aficionados terceirenses fê-lo perceber que podia tirar lucro de uma atividade que para a maior parte das pessoas representava diversão.
“O meu pai gostava muito de touradas, então eu comprei uma máquina de filmar. Ia às touradas filmar e depois chegava a casa ligava à televisão e o meu pai via a tourada”, contou, em declarações à Lusa.
Atualmente, Gabriel Vieira grava em média 140 a 150 touradas por ano e só não vai a mais, porque muitas vezes estão a decorrer três ou quatro em freguesias diferentes à mesma hora.
Nos primeiros anos, ainda passou “alguns sustos” com o touro, porque filmava na estrada, mas depois encontrou uma solução para garantir maior qualidade de imagem e segurança.
“Eu tenho uma cadeira em ferro que coloco num poste da luz, um ou dois dias antes da tourada. E depois sento-me ali a faço a filmagem descansado. Não há perigo nenhum de estar ali”, disse.
Nos tempos em que os vídeos das touradas à corda eram novidade, chegou a vender entre 12 mil a 13 mil exemplares por ano, mas com as novas tecnologias e o aumento da concorrência, a procura diminuiu.
“As pessoas da ilha estão fartas. Já não é novidade para ninguém da ilha. Agora só se vende às pessoas que estão aqui de passagem e querem uma recordação ou aos emigrantes”, adiantou o fotógrafo, acrescentando que são sobretudo os turistas do continente português manifestam mais interesse.
Ainda assim, Gabriel Vieira edita quatro DVD por ano e mantém uma carteira de clientes fiel, que lhe permite vender entre dois a três mil exemplares.
O fotógrafo partilha também vídeos na internet e conta já com 56 milhões de visualizações e 40 mil visitas diárias à sua página.
Apesar de assistir a mais de 100 touradas à corda por ano, Gabriel Vieira confessa que não é um grande aficionado e que pouco percebe de touros.
“Gosto da tourada pelo ambiente. Vamos ao mato, estamos a conviver. Chegamos à freguesia, vamos a casa de um amigo, vamos a uma tasca…”, salientou.
Em 2016, registaram-se 216 touradas à corda na ilha Terceira e habitualmente são ultrapassadas as duas centenas de manifestações tauromáquicas por ano.
Este mês, estão agendadas apenas dez, porque uma grande parte das touradas está associada às festas do Espírito Santo, que se iniciam a seguir à Páscoa.
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