O drone de Cedric Petit sobrevoa o campo de uma quinta na Bélgica. De repente, um ponto branco no ecrã sinaliza a presença de uma pequena cria de veado escondida na vegetação, que em breve será salva de um destino macabro.

Há quatro anos, Petit, amante da vida selvagem, fundou o grupo “Salvem o Bambi” com uma missão simples: ajudar os agricultores a evitar a desagradável surpresa de encontrar o cadáver de um minúsculo mamífero preso às rodas de um trator ou nas lâminas de uma ceifeira.

O naturalista e os seus amigos voluntários costumam ser chamados pelos agricultores antes da colheita e, usando drones equipados com câmaras e sensores de calor, localizam os mamíferos perdidos e transportam-nos para uma floresta próxima.

“Os acidentes acontecem cada vez mais, é por isso que aqui estamos”, explica Petit após um resgate matinal em Eghezee, no centro da Bélgica.

“Com um clima imprevisível devido à mudança climática, o cultivo ocorre durante todo o ano e as colheitas começam cada vez mais cedo, mesmo entre o final de abril e o final de junho, que é o período de nascimento dos cervos”, explica.

A sua organização, que opera na Bélgica e na vizinha Luxemburgo, afirma ter resgatado 834 crias no ano passado, e 353 no ano anterior.

Veados na Bélgica
Cedric Petit, fundador da associação "Asbl Sauvons Bambi", utiliza um drone para detetar veados escondidos na vegetação alta dos prados de Mehaigne, na província de Namur, a 24 de junho de 2024 créditos: AFP/John Thys

O trabalho de Petit, de 40 anos, segue o exemplo da Alemanha e da Suíça, onde grandes redes de voluntários realizam milhares de resgates todos os anos em grandes áreas de cultivo.

A organização de resgate por si criada conta com cerca de 80 pilotos de drones que dedicam o seu tempo livre durante as seis semanas mais críticas do ano.

Às cegas

Os pilotos voam os drones a cerca de 70 metros de altura para ter boa visibilidade do campo e levar o tempo necessário para localizar os pequenos animais.

Com apenas algumas semanas de vida, as pernas magras dos animais são muito frágeis para suportar o seu peso, deixando-os expostos às rodas ou lâminas de uma ceifeira gigante.

Na quinta Eghezee, o sensor do drone deteta um coelho a saborear o seu lanche de alfafa e, em seguida, um cervo macho a caminhar por entre a vegetação.

Veados na Bélgica
Cedric Petit mostra no ecrã do seu drone um veado escondido na vegetação créditos: AFP/John Thys

Finalmente, Petit encontra um cervo a dormir encolhido.

Ele aproxima-se do animal usando luvas e um carrinho de mão para movimentar o animal da forma mais suave que consegue.

“Este aqui tem uma semana e meia, talvez duas semanas de vida. O objetivo agora é colocá-lo em segurança na beira da floresta, onde a sua mãe possa encontrá-lo e levá-lo”, explica Petit.

A maioria dos resgates são filhotes cujas mães os levam da floresta para o campo depois de nascerem para que recebam luz solar nos primeiros dias de vida.

“Os cervos juvenis são mais raros, são mais fortes e podem seguir a mãe logo após o nascimento”, explica Petit.

Além do argumento do bem-estar animal, “Salvem o Bambi” também ajuda a prevenir o envenenamento do gado por botulismo, que pode ocorrer se eles comerem feno contaminado com carcaças de animais.

Resgate de veado na Bélgica
Cedric Petit resgata um veado detetado com o seu drone nos prados de Mehaigne, a 24 de junho de 2024 créditos: AFP/John Thys

“Este é um grande problema que pode assim ser evitado”, resume o agricultor Bernard Debouche

Antes de conhecer o sistema de rastreamento, Debouche costumava encontrar restos de filhotes presos nas lâminas após a ceifa, algo que recorda como “uma experiência muito desagradável”.

“Antes andávamos às cegas e às vezes não os víamos. Eram tão pequenos que passávamos por cima deles”, lembra. “E ninguém quer ver um jovem cervo esmagado por uma máquina cortante”, insiste.