"Conhecemos muito bem o período Picasso cubista, clássico, erótico, do minotauro, do pós-guerra (...) Mas esta época havia ficado um pouco esquecida porque é muito enigmática", afirma à AFP Emilie Bouvard, curadora da exposição no museu batizado com o nome do artista espanhol.

A mostra reúne 152 pinturas criadas entre 1926 e 1930 e é chamada "Picasso, quadros mágicos", adjetivo com o qual o crítico de arte Christian Zervos definiu em 1938 as obras criadas nesse período, habitadas por figuras estranhas, radicais, em contínua metamorfose.

Picasso, quadros mágicos
Cartaz da exposição "Picasso, quadros mágicos" créditos: Museu Picasso

No verão de 1926, Picasso tinha acabado de ser tema de uma grande retrospectiva em uma galeria parisiense, e instalou-se numa cidade na Costa Azul francesa, junto com a esposa Olga e o filho Paul.

O pintor "estava num ponto morto, havia feito a exposição, pintado as obras de dança, as violas (...) Nesse momento, tentou reinventar uma nova linguagem, que deu lugar ao Picasso que conhecemos tão bem", segundo Bouvard.

Nesse processo criativo, buscou reencontrar "as raízes de sua linguagem plástica, a invenção de um sistema de signos para descrever as partes do corpo, o retorno ao cubismo e à arte extra-ocidental", acrescentou a curadora.

O resultado foi uma experimentação sem limites da anatomia humana, primeiro com figuras lineares e depois com volumes monumentais. Picasso conferia aos personagens, quase sempre femininos, uma grande expressividade, com frequência brutal, com duplo perfil e traços invertidos, como ilustrado na exposição nas séries de mulheres em um sofá ou a dormir.

"O que caracteriza esse período é que não sabemos exatamente o que estamos vendo", explica a curadora. Picasso considerava-se naquela época um criador de "obras perturbadoras, estranhas e ilusionistas", acrescenta.