Em declarações à agência Lusa, Izak Smit, ecologista há 14 anos no Parque Nacional de Kruger, a maior reserva natural da África do Sul, explicou que a implementação de umaa "nova abordagem de gestão adaptativa", que tem vindo a ser implementada na reserva desde 1990, permitiu a promoção da "heterogeneidade e variabilidade" das espécies.
De acordo com o ecologista, no Parque Nacional de Kruger, que tem quase 20 mil quilómetros quadrados de extensão, existem cerca de 500 espécies de pássaros, 151 espécies de mamíferos e 2000 espécies de plantas.
"Desde que adotamos a nova abordagem de gestão, o parque parou com o abate dos grandes herbívoros, aumentou as fronteiras da reserva, deixando cercas entre o parque e as áreas protegidas vizinhas e removeu dois terços dos reservatórios de água artificial. Acreditamos que estas mudanças, o sistema funciona hoje de forma mais natural", afirmou.
Izak Smit, que falava à margem da Conferência Internacional do Parque, iniciativa que arrancou ontem e prossegue hoje na Fundação de Serralves, no Porto, adiantou que a interrupção do abate e o alargamento em cerca de 50 quilómetros das fronteiras entre o Parque Nacional do Kruger e o Parque Nacional do Limpopo, em Moçambique, fez com que a população de hipopótamos, búfalos e elefantes aumentasse.
"As ações de gestão relacionadas com o fim do abate de grandes herbívoros, com a remoção dos poços artificiais e aumento do estado de conservação, em combinação significam que as densidades e distribuições de animais são agora mais heterogéneas e variáveis", apontou.
Segundo Izak Smit, o encerramento "estratégico" de dois terços dos poços de água artificiais existentes na reserva, revelou ser bastante importante, especialmente "em sistemas de savanas semiáridas e áridas" e para as espécies animais que ao serem menos dependentes da água, preferem zonas mais distantes deste recurso.
"Além disso, acreditamos que as áreas distantes da água sejam importantes durante as secas, uma vez que essas áreas normalmente têm pastagens disponíveis por períodos mais longos durante as secas, ao contrário das áreas próximas à água que pastam mais cedo durante uma seca", esclareceu.
À Lusa, o ecologista adiantou que a equipa de monitorização da reserva tem prestado bastante "atenção" às colaborações com as entidades responsáveis pelas bacias hidrográficas dos rios, com o propósito de garantir que os rios "continuem a fluir" não só para a biodiversidade do parque, mas também para as comunidades que vivem em seu redor e que dependem desses recursos.
Izak Smit afirmou que tendo em conta os resultados obtidos com a implementação desta nova estratégia, assente na integração, inovação e internacionalização, a equipa de monitorização do Parque Nacional do Kruger pretende “continuar a mudar e a gerir com base nas novas informações que vão sendo recolhidas”.
“Vamos tentar continuar a aprender, pois, por vezes as aprendizagens surgem daquilo que fazemos. Decidimos mudar a gestão do parque tendo em conta determinadas ideias e vamos continuar a fazê-lo”, concluiu.
A estratégia de gestão do Parque Natural de Kruger foi um dos temas apresentado durante a Conferência Internacional do Parque, uma iniciativa que visa trazer a debate os desafios relacionados com a conservação da biodiversidade da África Austral e o seu desenvolvimento sustentável.
Fonte: Lusa
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