Os dois governantes vão também inaugurar um memorial, com o nome dos 2510 presos que passaram pela cadeia política da Fortaleza de Peniche, entre 1934 e 1974.
"A exposição 'Por teu livre pensamento' é um embrião da exposição do futuro museu”, disse hoje a ministra da Cultura, Graça Fonseca, durante uma visita para jornalistas.
A mostra, de acesso gratuito, fica patente por um período de três meses, a partir de sábado, dia em que se comemoram os 45 anos da libertação dos últimos presos da Fortaleza de Peniche, com um programa cultural ao longo do dia.
A exposição "Por teu livre pensamento" está dividida em quatro núcleos distintos, separados por diferentes espaços da Fortaleza.
A sala do antigo refeitório da GNR procura retratar a história a partir da prisão de Peniche, sintetizando os conteúdos que o futuro museu vai mostrar: a resistência à ditadura e a conquista da liberdade com a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Iniciando com um painel com o poema de David Mourão-Ferreira, intitulado "Por teu livre pensamento", que dá nome à exposição, o núcleo integra maquetes do projeto de arquitetura, que está a ser elaborado pelo arquiteto João Barros Matos, e uma reprodução de uma pintura de Júlio Pomar, alusiva ao período da resistência.
Documentos, fotografias, objetos dos presos, recortes de jornais e conteúdos audiovisuais enriquecem a mostra, destacando-se uma mesa digital com desenhos feitos na cadeia pelo ex-dirigente comunista Álvaro Cunhal, depoimentos de antigos presos, apontamentos dos presos sobre o trabalho político e de estudo dentro da prisão, transcrições de escutas de Mário Soares com a mulher, Maria Barroso, quando esteve preso no Tarrafal, listagem dos livros proibidos na cadeia de Peniche, cartazes da campanha da oposição ao fascismo nas eleições de 1949, e fotografias do dia da libertação dos presos em Peniche.
No antigo Parlatório, espaço de visita aos presos, podem ser vistos depoimentos de familiares, painéis informativos, recortes de jornais, fotografias e outros documentos sobre a vida prisional, as condições em que decorriam as visitas aos presos e a solidariedade da população de Peniche para com os presos e respetivas famílias.
Entre o espólio exposto, estão desenhos enviados aos filhos por António Dias Lourenço, que protagonizou uma das três fugas que ocorreram da cadeia de Peniche, e fotografias de alguns dos casamentos que aí ocorreram, como o de Domingos Abrantes.
Muitos dos desenhos de Dias Lourenço estão reunidos no livro "Saudades... Não Têm Conto!: Cartas da Prisão para o meu Filho Tóino", publicado em 2004.
No Fortim Redondo, também conhecido por "segredo", onde os presos eram aí deixados durante dias para cumprirem castigos, foi criado um terceiro núcleo com painéis informativos, documentos da época e conteúdos audiovisuais sobre a história e protagonistas das oito fugas de Peniche.
A Capela de Santa Bárbara mostra o quarto núcleo da exposição, dedicado à história da Fortaleza de Peniche e a sua importância estratégica ao longos dos séculos, primeiro associada a funções militares de defesa, depois enquanto depósito de refugiados e como prisão política durante a ditadura.
Grande parte do espólio desta exposição, e do futuro museu, resultou de pesquisas e de um trabalho de investigação e recolha desenvolvido pela Comissão de Instalação dos Conteúdos e da Apresentação Museológica, presidida pela diretora-geral do Património Cultura e composta, entre outros, pelos ex-presos políticos Domingos Abrantes, Fernando Rosas, historiador, e José Pedro Soares.
O poema de David Mourão-Ferreira "Por teu livre pensamento", que dá título à mostra, constitui uma alusão direta à prisão do Forte de Peniche, foi musicado por Alain Oulman e cantado por Amália Rodrigues, sob o título "Abandono", popularmente conhecido como o "Fado de Peniche".
Fonte: Lusa
Comentários