Um novo bairro de inspiração parisiense reflete a febre do desenvolvimento em Phnom Penh, capital do Camboja, um dos países mais pobres da Ásia, onde o luxo dos milionários prospera entre a miséria.
Com as suas esplanadas e cafés, a "mini Paris" é apresentada como um enclave chique longe de engarrafamentos e poluição sonora.
Uma réplica do Arco do Triunfo fica em frente a um braço do rio Mekong. O bairro, chamado "Eliseu", está localizado em Koh Pich, uma ilha que se tornou o símbolo do renascimento de Phnom Penh após décadas de guerra civil até os anos 1990.
Este antigo pântano, com os seus arranha-céus, uma escola internacional e um hospital, pretende ser a mostra de um Camboja aberto à globalização.
O país registou uma das taxas de crescimento mais elevadas do mundo nas últimas duas décadas, mas à custa de desigualdades persistentes e de perigos ambientais, segundo o Banco Mundial.
A riqueza continua concentrada nas mãos de uma elite próxima do ex-primeiro-ministro Hun Sen, que liderou o país durante quase quarenta anos antes de ceder o posto ao filho Hun Manet no verão passado.
O metro quadrado pode custar 1.300 dólares (cerca de 1.190 euros), explica Thierry Tea, vice-presidente do promotor do projeto OCIC, ou seja, um valor ligeiramente inferior ao PIB anual per capita.
Apesar do preço proibitivo para a maioria dos cambojanos, mais de 80% das 229 unidades foram vendidas, afirma, reconhecendo que nem todas são habitadas.
Rejuvenescimento das elites
O bairro foi lançado em 2015 e as obras, que custaram 400 milhões de dólares (366 milhões de euros), estão quase concluídas.
O país tenta atrair investidores estrangeiros, com preços considerados competitivos na região.
Sob Hun Sen, o Camboja estendeu o tapete vermelho aos investimentos chineses graças ao boom da construção, mas também à proliferação de casinos e outras atividades associadas à lavagem de dinheiro.
Mas em Phnom Penh, as empresas elogiam o potencial de um jovem reino que Hun Manet quer transformar numa economia desenvolvida até 2050.
Perto de Koh Pich, um centro comercial com capacidade para 75 lojas de luxo abrirá as portas nos próximos meses.
O Camboja "é a nova atração", diz Pierre Balsan, diretor da BlueBell no Camboja, responsável pela obra. O desenvolvimento das classes "média e média alta" impulsionará a procura, na sua opinião.
"O principal desafio foi mudar a imagem do Camboja para as marcas de luxo. A chegada de um primeiro-ministro mais jovem foi crucial", destaca.
Formado em universidades americanas e inglesas, Hun Manet, 46 anos, encarna a renovação das elites nos últimos anos. Mas mantém o controle de um sistema de corrupção herdado do seu pai e a repressão a todas as formas de oposição.
Assistimos à "captação da renda imobiliária por pessoas que lucram ao máximo" graças às suas ligações políticas, detalha Gabriel Fauveaud, professor da Universidade de Montreal.
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