Escondidos na parte de trás de telas ou rabiscados em folhas de papel, esboços e rascunhos foram utilizados por artistas como Michelangelo ou Pablo Picasso para explorar e libertar a criatividade.

Apelidado de "Rascunhos e rabiscos - De Leonardo da Vinci a Cy Twombly", a exposição deste inusitado conjunto de desenhos leva-nos a descobrir deliciosos segredos que não deveriam ser vistos pelo público.

Isto é evidente nos painéis de madeira do majestoso "Tríptico da Virgem" de Giovanni Bellini, cuja traseira esconde "uma série de desenhos de palimpsestos, que nada têm a ver com o tema da frente", explicou à AFP Francesca Alberti, curadora da exposição.

"Dos grandes mestres do Renascimento, conhecemos pinturas, desenhos perfeitamente acabados (...) mas o que mostramos nesta exposição é uma série de desenhos onde a mão do artista liberta-se", resume Alberti.

Aqueles desenhos experimentais, transgressores, regressivos ou libertadores, que não se submetem às regras e constrangimentos da arte "oficial", lembram os rabiscos infantis.

O próprio Pablo Picasso referiu-se aos mesmos: "Levei quatro anos para pintar como Rafael, mas levei uma vida inteira para aprender a desenhar como uma criança".

Outra fonte de inspiração têm sido os grafites feitos às pressas nas paredes das grandes cidades. Até mesmo o divino Michelangelo (1475-1564) divertia-se no seu tempo a imitar as silhuetas pintadas rusticamente em algumas fachadas florentinas.

"Fora Putin!"

Menos rígidas e mais espontâneas, estas formas representam o lado oculto da obra do artista, mergulhando o visitante no cerne do processo criativo.

A proposta da Villa Medicis ignora de forma propositada a cronologia e mistura épocas com alegria, oferecendo conexões inéditas entre grandes mestres (Da Vinci, Michelangelo, Ticiano, Bernini...) com artistas modernos e contemporâneos (Picasso, Dubuffet, Cy Twombly, Basquiat...).

Na ampla escadaria da elegante Villa, originalmente destinada à entrada de cavalos, "apresentamos um diálogo entre desenhos renascentistas e desenhos contemporâneos", destaca Alberti ao mostrar um esboço de Pontormo (1494-1557) junto a dois "rabiscos" feitos em 1954 no escuro pelo artista americano Cy Twombly, que morreu em 2011 em Roma.

No centro da escada, a "Virgem e o menino" de Taddeo Zuccari (1529-1566) "desaparece entre linhas rabiscadas como se a mão do artista estivesse completamente livre".

Para a curadora, estes esboços e rabiscos eram "muito importantes" porque permitiam "soltar a tensão acumulada pelo desenho", "redesenhá-los com a mesma energia".

Os visitantes da exposição são também convidados a estimular a sua própria criatividade numa sala cujas paredes foram pintadas de cinza.

Alguns escreveram frases como "Fora Putin!", "Viva a paz" ou pintaram bandeiras listradas de azul e amarelo em homenagem à Ucrânia.

Outros deixaram inscrições irónicas: "Os dinossauros desapareceram porque ninguém acariciou-os, não devemos fazer o mesmo com as mulheres".