O projeto, com inauguração marcada para as 11:30, está a ser desenvolvido pelo município há cinco anos e ‘nasce’ numa “antiga casa burguesa” que pertenceu “a uma família abastada de cristãos-novos”, disse à agência Lusa o presidente do município, António Pita.

“Nós começámos a obra de reabilitação há cinco anos. Os dois primeiros anos foram de recuperação do edifício e os últimos três foram para trabalhos de museologia e museografia”, explicou o autarca.

o projeto de museologia foi da responsabilidade “do historiador especialista na área da Inquisição Jorge Martins”, que tem obra publicada sobre a matéria e estudou “todos os processos” que se encontram na Torre do Tombo, em Lisboa, relativos a judeus de Castelo de Vide alvo de processos do Santo Ofício.

A Casa da Inquisição, de acordo com António Pinta, pretende ser “uma experiência [e] não um museu no sentido clássico, estando a narrativa construída a partir do regimento da Inquisição”.

O também presidente da Associação Rede de Judiarias de Portugal explicou que o Tribunal do Santo Ofício tinha um regimento que determinava praticamente todos os procedimentos, desde que ocorriam as detenções, seguindo depois uma série de condutas até ao ato de fé, como a tortura ou a passagem pela sala de audiências.

“Esta casa vai permitir que se faça uma viagem ao passado, como se estivéssemos a entrar num palácio da Inquisição e estivéssemos a assistir, com um realismo bastante grande em função da figuração” presente no espaço, explicou.

Os conteúdos deste novo equipamento são acompanhados de espaços do ponto de vista cénico “bastante bem trabalhados”, reproduzindo os ambientes da época, acrescentou.

O edifício da Casa da Inquisição conta com uma capela do século XVII e “vestígios daquilo que poderia ser um antigo tabernáculo”, apresentando também a casa uma “dimensão de criptojudaísmo”, indicou o autarca.

Além da sonoplastia que vai recriar o ambiente daquela época, o equipamento vai apresentar conteúdos históricos que o visitante poderá acompanhar através da leitura de quadros interpretativos, em cada sala.

“Por outro lado, temos uma figuração hiper-realista a partir da figuração de voluntários, munícipes de Castelo de Vide, que serviram de modelo para essa figuração”, disse.

Como exemplo, o autarca disse que, a partir desses voluntários que serviram de modelos, foram criadas “figuras em cera e silicone [em tamanho real], um processo recente e de topo” que fez ‘nascer’ personagens que vão agora ‘habitar’ a Casa da Inquisição.

O equipamento, que custou à volta de um milhão de euros, com “a esmagadora maioria” do financiamento oriunda de fundos comunitários, através do Turismo de Portugal, dispõe ainda da oferta de realidade aumentada.

Esta permite, em diversos pontos, que apareçam através de um telemóvel, personagens que descrevem os respetivos espaços.

“Há um conjunto de elementos descritivos e virtuais a permitir que a pessoa possa fazer uma visita autónoma, obtendo toda a informação para melhor conhecer o que foi a Inquisição em Portugal”, disse António Pita.

A Casa da Inquisição é um projeto integrado na estratégia municipal para a implementação de uma rede de espaços museológicos para “qualificar e a diversificar” a oferta turística do concelho.

No que se refere ao turismo religioso, a herança judaica é um segmento “crescente” na Península Ibérica, segundo a autarquia, que indicou que após a musealização da Sinagoga Medieval de Castelo de Vide, em 2009, o espaço recebeu, até esta altura, “cerca de 362 mil visitas”.

“É um número simpático [número de visitantes] para uma terra do interior e da nossa escala. A oferta, nesta altura, já era pouca, tínhamos que dar o salto qualitativo e a Casa da Inquisição pretende colmatar a pouca oferta que há sobre esta temática”, realçou o autarca.