Em 2022, Bogotá ocupou o primeiro lugar no ranking de cidades cuja população perde a maior quantidade de horas a deslocar-se, segundo um estudo da organização Traffic Index. Um inferno para milhões de moradores da capital, que passam o equivalente a um mês inteiro no autocarro ou dentro do carro.

Com 8 milhões de habitantes, a capital colombiana é uma das poucas megalópoles que não contam com esta infraestrutura no continente. A última linha inaugurada na América Latina foi a de Quito, em 2022.

"A cidade expandiu-se muito depressa. Em Buenos Aires, o metro foi construído no começo do século XX. Em Bogotá, demoramos muito o que faz com que seja cada vez mais difícil, porque é mais custoso", explicou à AFP Valentina Montoya, professora da Universidade dos Andes e especialista em mobilidade. Nos anos 1950, a cidade desenvolveu-se à volta do automóvel e cresceu "de forma informal e imprevisível", apontou.

Antagonismos políticos

Ao longo da sua construção falida, há uma disputa entre o poder nacional e o local, que, desta vez, coloca em lados opostos a autarca de Bogotá, Claudia López, e o presidente e ex-autarca da capital (2012-2015), Gustavo Petro. A autarquia é responsável pelo desenho e gestão do metro, mas a maior parte do financiamento vem do governo central e é dificil alinhar os interesses de ambos.

As obras de um metro elevado avançam no coração da cidade. A maquinaria escava as primeiras fundações da linha n°1, que custará 5 mil milhões de dólares, segundo López.

Quase 24 km de extensão irão conectar as regiões pobres do sul com o norte de Bogotá. Perante o tráfego caótico, a obra avança sob a responsabilidade de um conglomerado chinês. O objetivo oficial é inaugurar esta linha em 2028 e licitar a segunda antes do fim do ano.

Desde que foi presidente, Petro defende a construção de um metro subterrâneo, um projeto sepultado pelo sucessor, o opositor e duas vezes governante local Enrique Peñalosa (1998-2000/2016-2019), liberal. A centro-esquerdista López ateve-se aos planos já acordados, mas Petro chegou ao poder em agosto levantando as suas antigas bandeiras de um metro sob a terra.

Violência e deslocações

Quando o primeiro projeto foi lançado, a cidade tinha menos de meio milhão de habitantes. O assassinato de um candidato liberal à presidência, em 1948, desencadeou violentas manifestações na cidade, onde a rede de comboios foi parcialmente destruída. O magnicídio também estimulou um conflito interno, que obrigou milhares de colombianos a fugirem para os centros urbanos, sobretudo para a capital.

Erguida a aproximadamente 2.600 metros de altitude, Bogotá tem uma periferia mais densamente povoada do que o centro, o que faz com que as deslocações sejam enormes. Cada administração impõe  as "suas próprias ideias" e, no final, perde-se "a possibilidade de fazer grandes projetos", como o metro, explicou Darío Hidalgo, professor da Universidade Javeriana.

Transmilénio

Na década de 1990, o metro não parecia mais uma ilusão. Mas o país entrou numa grave crise económica e o governo deu prioridade à contrução de um metro em Medelín (noroeste), segunda maior cidade do país, que, à época, lutava para superar a violência ligada ao tráfico de drogas, que a havia convertido numa das cidades mais perigosas do mundo.

O projeto custou o dobro do previsto e, para se blindar em futuras oportunidades, o Congresso "expediu uma lei nacional que passou a exigir muito mais requisitos das cidades que quisessem ter um metro", lembrou Montoya.

No lugar do metro, o presidente Peñalosa optou pelo desenvolvimento de um sistema de autocarros com pistas exclusivas, o "Transmilênio", inaugurado em 2000, mas hoje envelhecido, saturado e criticado.

"O certo é que, hoje, o metro subterrâneo estaria a operar em Bogotá e teria custado 3 mil milhões de dólares . Quem são os responsáveis por abandonar este projeto?", questionou Petro no Twitter, no último dia 26.

Para Montoya, há uma crença popular de que o "metro irá solucionar tudo". Mas os especialistas entrevistados são unânimes: o metro não será suficiente para resolver os enormes problemas de mobilidade em Bogotá.