Fui abordada pela Manusha, uma rapariga do Sri Lanka (@travel_dreams_srilanka) que ambiciona ver o Mundo e todos os meses coloca algum dinheiro do seu salário numa espécie de mealheiro. Daí o seu nome de perfil do instagram ser bem sugestivo quanto a sonhos de viagem. Apesar das dificuldades, acredita que irá conseguir concretizar a sua ambição de partir à descoberta do mundo com o marido. E Portugal está entre os seus destinos idealizados. No seu "sonho português", ela sublinha como quer poder ver os nossos castelos. E por causa da história dos conquistadores portugueses no antigo Ceilão (atual Sri Lanka).

Enquanto não pode sair do país, ela publica bastante sobre os sítios estonteantes do Sri Lanka e vê-se a sua alegria em cada visita dentro do seu país. Sabem o que eu vejo? Os mesmos lugares que eu lá visitei, a mesma beleza e a mesma humildade das gentes do Ceilão.

A Manusha viu o meu perfil de instagram e percebeu que eu era de Portugal e que tinha recentemente visitado o país dela. Perguntou se eu gostei e respondi “amei”. Acrescentei que foi um dos países que mais gostei de explorar. Ela, comentou também a ‘sorte’ que eu tinha de conhecer meio mundo. E, ainda, confessou-me algo: “quero muito conhecer Portugal, mas não sei se algum dia irei conseguir”.

Nisto, senti que tinha de a entrevistar e pedi que me falasse da sua wish-list de viagens. E porquê Portugal, sendo ela de tão longe? Fiquei fascinada com a carta que ela me enviou. Sim, ela enviou-me uma carta, em Inglês, por email, e pesquisou esta minha coluna de escrita de viagens e de viajantes. Tenho de a citar, pois o que ela escreve é tão forte, e coaduna-se com as viagens em tempos de uma guerra que está longe dela, mas que ela reconhece. Ora percebam porquê.

Ela começa por se apresentar a si e ao seu esposo: ela é costureira e ele é mecânico, sendo que ambos têm as mesmas aspirações de vida. Entre elas, conhecer Portugal. Passo a citá-la,

“É nossa intenção visitar países com os quais o nosso país [Sri Lanka] tenha relação desde há séculos. Portugal é um dos meus países favoritos.”

Além de Portugal, a sonhadora cingalesa continua:

“Há muitos lugares maravilhosos que foram construídos por pessoas inglesas no nosso país. Atualmente, esses lugares são muito importantes e bonitos no Sri Lanka. Estou feliz por já ter visitado tais lugares, mas agora eu quero poder conhecer essas pessoas que edificaram tais lugares [no Sri Lanka]. Especialmente Portugal.”

Ela comenta, por isso, que tem de visitar os portugueses e os seus “edifícios antigos, as suas imagens, saborear a comida portuguesa e ver o nosso estilo”. Muito curioso ela ter-me referido, na carta, que quer visitar os nossos museus e “passar uma noite num palácio antigo”.

Enquanto vos escrevo, olho calmamente para o Palácio Nacional da Ajuda, aqui da minha janela. Tão perto de mim, tão longe desta sonhadora de viagens e de palácios portugueses.

Ela justifica: “o sentimento de ir aos lugares antigos é indescritível. Mas, infelizmente, ainda não visitei nenhum dos países que quero.”

Uma das razões ela já me adiantara: é difícil obter o visto para Portugal. Mas há mais: “a taxa aérea, (…) tudo depende do nosso salário. Devido à situação atual do nosso país [Sri Lanka], o custo de vida está a aumentar diariamente. Viajar para outro país é um sonho que talvez eu não consiga realizar antes de morrer. Esta é a razão pela qual o meu instagram se chama ‘Travel Dream’”.

Ela conta que da sua janela do instagram consegue, pelo menos, ficar feliz com as fotografias dos turistas por esse mundo fora. E fiquei emocionada quando, enquanto a traduzia, li isto:

“Eu envio mensagens, via instagram, a turistas portugueses e de outras nacionalidades que estão neste momento a planear vir ao Sri Lanka. Eu gosto de falar com os turistas, de conhecer novas ideias. Mas algumas pessoas gozam comigo. Eu gostaria de falar com mais visitantes portugueses. De facto, eu conheci uma mulher portuguesa simpática (“Portuguese kind woman”) para quem eu estou a escrever agora mesmo”.

Um escritor, mesmo que em reportagem, não é alheio nem a sonhos, nem à humildade de pessoas e de culturas. Impactante.

Ela menciona outros países, além do sonho português:

“Eu gostaria de visitar também países como Turquia, Grécia, Escócia, Itália e Alemanha. Mas, apenas para ver os lugares que referi acima [lugares antigos]. Eu não gosto de sítios onde as pessoas estão em guerra”.

Ficamos impressionados como do outro lado do Mundo nos estão a ver, como nos querem conhecer. E como não querem a mesma guerra que estamos a observar de perto, aqui no continente europeu.

E finaliza com um desejo maior, uma herança:

“Eu guardo um pouco de dinheiro todos os meses. Se eu não conseguir realizar este sonho de viajar antes de morrer, eu vou deixar este dinheiro a um turista que pense tal e qual como eu”.

Manusha, espero que consigas visitar Portugal e todos os países da tua lista, pois ainda és muito jovem. Cá te esperam os palácios e as memórias dos portugueses que fizeram a diferença na criação do Ceilão. Agora, o paraíso Sri Lanka.