Quando as chamas devoraram, no dia 15 de abril de 2019, uma das maiores catedrais do Ocidente, património mundial da Unesco, o sentimento de pesar foi global. Notre-Dame tem quase mil anos: a construção da catedral, com as suas impressionantes gárgulas, começou por volta de 1163, durando dois séculos, até 1345.

Cinco anos de uma obra titânica, na qual participaram 250 empresas e centenas de artesãos, com um custo de quase 700 milhões de euros financiados por 846 milhões de euros em doações de 150 países, fizeram Notre-Dame renascer das suas cinzas.

Uma agulha idêntica

Símbolo da renovação da catedral, a agulha, uma torre alta e pontiaguda que desabou diante dos olhos dos parisienses e de milhões de telespetadores de todo o mundo, ergue-se novamente em direção ao céu, idêntica àquela projetada pelo arquiteto do século XIX Eugène Viollet-le-Duc.

Embora ainda haja gruas na joia parisiense e andaimes em alguns lugares, o trabalho excecional está a chegar ao fim, confirmou à AFP o órgão público que o supervisiona.

Na esplanada junto ao rio Sena, os turistas, ainda distantes atrás de cercas com arame farpado em alguns pontos, aglomeram-se diariamente para tentar ver as últimas obras exteriores, incluindo a aplicação de um novo pavimento em azulejos de calcário em frente à grande porta principal.

Notre-Dame de Paris
Notre-Dame de Paris Detalhe das famosas gárgulas Notre-Dame de Paris créditos: AFP

À espera de receber mais de 14 milhões de visitantes

Notre Dame recebeu 12 milhões de visitantes em 2017. A diocese e o órgão público esperam receber "entre 14 e 15 milhões" após a reabertura, que incluirá nova sinalização, um plano de circulação redesenhado e um sistema de reservas online.

A ideia de cobrar a entrada dos turistas foi apresentada em outubro pelo governo francês, reacendendo o debate sobre o financiamento do património religioso.

Ao entrar na catedral, fiéis e visitantes encontrarão um eixo central, móveis litúrgicos completamente novos e minimalistas em bronze escuro, um muro-relicário contemporâneo de madeira de cedro e vidro formando uma auréola que abriga a coroa de espinhos de Cristo e uma catedral luminosa como nunca antes vista, cujo restauro a AFP pôde observar há alguns meses.

As paredes, enegrecidas pelo incêndio e pelo tempo, recuperaram o brilho.

Os vitrais, que não foram danificados pelo incêndio, foram limpos e restaurados e agora revelam as suas cores brilhantes, assim como as decorações pintadas das capelas de Viollet-le-Duc, que contrastam com o chão xadrez preto e branco.

O público também redescobrirá os grandes "mays" restaurados, pinturas destinadas ao altar e que eram encomendadas todos os anos no mês de maio a grandes artistas, entre 1630 e 1707, pela corporação de ourives que as doava à catedral.

O templo recuperou os seus oito sinos e receberá nesta quinta-feira o sino usado no Stade de France durante os Jogos Olímpicos.

Notre-Dame de Paris
Notre-Dame de Paris Turistas continuam a visitar o monumento, apesar de ainda estar fechado para obras créditos: AFP

Um órgão restaurado

Quanto à cerimônia de reabertura, à qual o papa Francisco, inicialmente esperado, acabará por não comparecer, poucos detalhes foram divulgados até agora.

O arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, anunciou que o presidente Emmanuel Macron discursará na catedral no dia 7 de dezembro e que o órgão, que foi "completamente desmontado, limpo e restaurado", será ouvido novamente.

Haverá missa no dia 8 de dezembro na catedral para consagrar o novo altar. Após esta cerimônia, haverá outros eventos para agradecer a todos os que contribuíram para o restauro da catedral.