Os guias, que a partir de janeiro começam a ser vendidos nos postos de turismo daquelas cidades, cruzam a ciência com a história, a cultura e a arquitetura, explorando as construções de espaços urbanos como uma ferramenta narrativa, em que os materiais que estiveram na sua origem são os personagens, contou Luís Azevedo Rodrigues, o mentor do projeto e um dos autores do guia.

"Todas essas rochas têm uma história. Umas têm fósseis, outras vieram de longe", explicou o paleontólogo, sublinhando que existem igrejas do século XIII construídas com rochas recentes, assim como é possível encontrar na entrada de um prédio moderno, em Faro, vestígios de corais com milhões de anos.

O percurso traçado em Faro tem oito paragens, partindo da Igreja do Carmo e passando por construções mais recentes, pela calçada portuguesa da Rua de Santo António, terminando na zona mais antiga da cidade, nomeadamente na Igreja da Sé, onde se pode observar a presença de fósseis, no pavimento junto ao púlpito, assim como uma profusão de rochas na capela lateral.

A equipa que fez o guia identificou rochas de diversas proveniências - desde a pedra lioz, um tipo raro de calcário que ocorre em Portugal, como a brecha da Arrábida, entre outras -, assim como fósseis de corais e animais já extintos, como o molusco Amonite ou alguns gastrópodes, que são identificados no guia, que, em alguns casos, apresenta uma reconstituição visual de como era o animal.

O paleontólogo sublinhou, contudo, a dificuldade em fazer uma classificação mais aprofundada das rochas, por terem várias origens e, por vezes, tamanhos muito pequenos, embora no guia os materiais estejam identificados através de fotografias, com a localização dos vestígios, para facilitar a observação nos locais.

"As análises que nós fizemos foram, através do olhar, perceber se havia fósseis, o tipo de rocha, a idade provável e de que região provinham. Foi um estudo que não usou todas as possibilidades da ciência, já que não podíamos retirar material dos locais", explicou o também diretor do Centro de Ciência Viva de Lagos.

De acordo com Luís Azevedo Rodrigues, os materiais presentes nas construções mais antigas são normalmente rochas regionais, enquanto que nos edifícios mais modernos a maioria das rochas não são portuguesas e vêm de longe, dada a maior facilidade de transporte que existe atualmente.

A conceção do guia, em formato de bolso e bilingue, em português e inglês, foi apoiada pela Agência Nacional de Ciência Viva e pela Região de Turismo do Algarve.