
Situado no Palácio Coculim, um edifício do século XVI que foi destruído em 1755 pelo grande terramoto de Lisboa, o hotel Áurea Museum guarda vestígios que vão desde sete mil anos atrás até ao século passado, incluindo, uma das estelas fenícias mais antigas da Europa Ocidental.

O que é uma estela fenícia?
Para quem não se recorda, uma estela fenícia é uma placa de pedra que contém inscrições na antiga língua fenícia. Esculpidas diretamente na pedra, as inscrições serviam para registar acontecimentos importantes, homenagear os mortos ou eternizar nomes e datas.
A estela, que pode ver na exposição permanente da unidade hoteleira da Eurostars Hotel Company, refere-se a uma lápide funerária e é a evidência de escrita mais antiga identificada na Península Ibérica.
A lápide, encontrada durante a construçao da unidade hoteleira, constitui igualmente uma prova clara da antiga e intensa presença fenícia na costa atlântica do Extremo Ocidente.
Segundo o professor e linguista Marco Franco Neves, o nome inscrito na lápide traduzido para português dizia algo como "Estela de Wadbar, filho de Ibadar".
"Tendo em conta a dimensão dos achados e os próprios nomes, que não são típicos dos fenícios", partilha o professor nas redes sociais, "o mais provável é que fossem mesmo pessoas daqui [Lisboa] que assumiram a língua e os costumes fenícios", acrescenta. "Este Ibadar, que teve um filho chamado Wadbar, é o mais antigo lisboeta que se conhece o nome", conclui.
Para além da curiosidade sobre dois nomes com mais de 2500 anos, a estela simboliza um momento de transição cultural, em que as populações autóctones começaram a assimilar a língua e as práticas dos fenícios.
Que mais descobrir sobre Lisboa no Áurea Museum?
Para entender a importância da exposição do Áurea Museum, vale a pena recuar na história da capital portuguesa, uma das cidades mais antigas do mundo.
Nascida há mais de três mil anos, Lisboa iniciou a sua jornada no Neolítico e na Idade do Ferro. Mais tarde, foi a romana Olisipo, a islâmica al-Ušbūna e, finalmente, a Lixbona medieval. Ao longo dos séculos, atravessou a idade moderna e a revolução industrial, moldando-se até se tornar na cidade cosmopolita que hoje conhecemos.
Com tantas vidas, Lisboa contou com a proteção das suas muralhas, erguidas desde o século I para a defender de invasores. Ao longo do tempo, essas muralhas foram remodeladas e integradas na malha urbana — incluindo em vários palácios da zona ribeirinha.
Um desses exemplos é o antigo Palácio de Coculim, do século XVI, hoje ocupado pelo Áurea Museum. O edifício, que sofreu com o terramoto de 1755, preserva ainda parte da muralha, visível na exposição permanente e até na sala do restaurante, onde é servido o pequeno-almoço.
A exposição, gratuita para os hóspedes e com um custo de cinco euros para os visitantes externos, apresenta achados de diferentes épocas da história de Portugal que passam pelos tempos da ocupação romana até à época industrial.
Fique a saber mais neste artigo.
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