O Bruno e a Daniela são um casal de portugueses que vivem a saltitar de país em país com empregos remotos e um blog onde narram as suas aventuras. Já viveram em 8 países diferentes e preparam-se para partir à descoberta da América do Sul.

Como começou a vossa aventura?

Tudo começou quando decidimos deixar tudo para trás e partir numa viagem de 8 meses. Durante muito tempo tivemos este sonho, mas nunca nos pareceu possível. Entretanto, no ano de 2019, decidimos que a altura certa tinha chegado, parecia que as estrelas se tinham alinhado. Mal nós sabíamos! Estávamos a viver juntos numa casa arrendada, tínhamos algumas poupanças, fruto do nosso trabalho, e decidimos arriscar.
No início de 2020 despedimo-nos. Fizemos um plano meticuloso, um cronograma de gastos, a viagem estava toda planeada e prevista para garantir que conseguíamos sobreviver 8 meses em viagem sem fontes de rendimento.
Infelizmente, e de forma inesperada devido à pandemia, a viagem durou apenas 4 semanas e acabámos retidos no Uzbequistão. Estávamos em completo choque e negação. Como é que uma coisa destas foi acontecer?

Deve ter sido difícil perceber que a viagem não podia acontecer. Como lidaram com isso?

Não lidámos de todo! Entrámos em negação. Nada nos fazia prever que um vírus tivesse um impacto destes. As fronteiras estavam todas encerradas a nível mundial e por isso a nossa única alternativa seria voltar a Portugal. Foi uma peripécia conseguir voltar a casa num mundo sem circulação de pessoas e onde as fronteiras estão fechadas. Dava um livro!
Naquela altura, sem empregos, sem casa, sem fontes de rendimento e a viver com familiares, estávamos em completa negação. Lembro-me de comentarmos muitas vezes que dentro de poucas semanas tudo voltaria ao normal.

Mas nada voltou ao normal.

Exatamente. O tempo foi passando e a situação não evoluía de forma positiva. Tivemos eventualmente que aceitar a derrota.
Grande parte das empresas portuguesas não estava a recrutar nesta altura. Pelo contrário, havia muitos despedimentos. Por esse motivo, decidimos explorar opções que, noutras circunstâncias, nunca teríamos procurado. Ofertas de trabalhos remotos internacionais, trabalhos freelancer, tudo o que viesse à rede era peixe. E foi assim que, por obra do acaso, tropeçámos nos empregos que temos hoje (e que adoramos)! O que funcionou muito bem a nosso favor foi o facto de termos as expectativas mesmo muito baixas. Não queríamos um trabalho para a vida, queríamos apenas algo que nos pudesse dar algum dinheiro para aqueles meses de pesadelo, e algo que pudéssemos fazer a partir de casa. Acabou por ser das melhores decisões que já tomámos.

Quanto tempo demorou até perceberem isso?

Ainda hoje estamos incrédulos. Às vezes não acreditamos no quão sortudos fomos, no meio de tanto azar. Ainda temos receio que seja sol de pouca dura.

Querem partilhar um bocadinho do que fazem?

Eu trabalho como tradutor, intérprete e copywriter. A Daniela trabalha como coach e terapeuta de casal. Nenhum de nós tem formação nestas áreas, o que é irónico. Saber falar inglês fluente é realmente uma mais-valia neste mundo globalizado.

O que é que muitas pessoas pensam ser verdade sobre o trabalho remoto, mas não é?

As pessoas imaginam que trabalhamos em esplanadas ou na praia. E muitas vezes pensam que vivemos das redes sociais ou coisa do género. Não é verdade. Temos horários de trabalho que temos que respeitar, precisamos de espaços adequados, sossegados e com excelente acesso à internet. E temos que ter um sentido de responsabilidade muito forte. Os nossos colegas de trabalho e patrões nunca nos conheceram presencialmente. Se temos que cumprir um prazo, fazemos o possível e o impossível para não falhar. Tem que ser. Estes empregos só funcionam quando há confiança plena nas equipas. Daí termos liberdade para o fazer em Portugal, na Arménia ou no Egipto. Eles sabem que não vamos falhar independentemente da localização onde estamos.

Têm que estar sempre contactáveis?

Não, de todo. Temos um horário de trabalho, e fora dele desligamos completamente. Claro que ter tudo disponível à distância de um clique faz com que estejamos sempre atentos, apesar de não nos ser exigido.

Bruno a trabalhar
Bruno a trabalhar O Bruno e a Daniela despediram-se dos seus trabalhos de escritório em 2020 créditos: Circum Mundum Blog

Têm saudades de trabalhar num escritório?

Nenhumas! Este estilo de vida é excepcional. Acordamos de manhã e saímos para passear pelas ruas de Varsóvia, ou então vamos explorar as ruelas caóticas do Cairo, ou ainda daquela vez que aproveitámos as nossas folgas para conhecer o Kosovo? Temos uma liberdade incrível. Somos tão mais produtivos. Há tantos empregos que podem ser feitos de forma remota, why not? É revolucionário para os colaboradores, mas também para as empresas. Um funcionário feliz vale muito.

Algumas recomendações para quem gostaria de encontrar um emprego assim?

Começa por perceber se o teu emprego atual poderia ser convertido em emprego remoto, e tenta gentilmente dar passos nessa direção. Caso não seja possível, trabalha o teu inglês e começa à procura em plataformas de emprego, como por exemplo: HubStaff, Remotive, We Work Remotely, DailyRemote, etc. E não desistas. Nós demorámos meses a encontrar opções interessantes. É preciso ser resiliente.

Onde já viveram neste registo?

Até ao momento: Polónia, Bulgária, Sérvia, Macedónia do Norte, Albânia, Arménia, Geórgia e Egipto.

Qual é a viagem que se segue?

Daqui a um mês e pouco vamos explorar a América do Sul.

Obrigado aos dois!

Podem acompanhar as aventuras do Bruno e da Daniela na sua página de Instagram @circum_mundum_blog e visitar o seu blog de viagens Circum-Mundum.