Sempre que se marca a próxima viagem e o destino possa ter uma diferença de uma ou sete horas em relação ao nosso país de origem… sim vai ter jetlag! Uma hora de diferença causa jetlag? Claro que sim. Pode ficar com humor impossível? Sim! Mas há formas que deve conhecer para ir e voltar sem qualquer problema quanto a isso. Mas não há milagres de ‘não jetlag’. Além de escritora, escrevo noutros domínios. Sou cientista e uma das minhas áreas está relacionada com os ritmos do ser humano. Um deles é o sono e a nossa forma de estar despertos. E tem de saber isto: viajar implica alterações de sono e de estar desperto ‘fora do normal’. Mais: o seu humor pode explodir. Cientificamente, sempre que nos movemos, em termos de latitude e em termos de tempo, estamos a ajustar o nosso corpo e o cérebro ao novo destino. Se viajar para Oriente (nem que seja para Barcelona, aqui ‘ao lado’), saiba que vai andar mais cansado no início da manhã e vai querer dormir tardíssimo sem perceber o motivo. De certeza que os viajantes do Oriente já sentiram um estado eufórico à noite e pensam que é pura energia da viagem. Não é hipótese de pôr de parte, pois a correria entre praias e monumentos é para isso mesmo: recarregar baterias e deixar-nos felizes. Mas a explicação científica é mesmo o desregular do sono nos primeiros sete dias que nos fará estar ‘do avesso’.
E agora podem ficar a pensar: então mas e se a viagem for…precisamente de sete dias? Sem problema, basta levar daqui algumas dicas. Saiba que deve beber muita água enquanto não passam os primeiros sete dias do jetlag. Quando chegar ao destino e estiver na sua hora de dormir (mesmo que lá estejam a acordar) tente contrariar só no primeiro dia e fique desperto com alguma cafeína. Sem exageros, pois o cérebro depois castiga. Se estiver ainda um final de tarde luminoso no destino, mas já for tarde para si, o conselho da ciência é evitar a luz natural e deitar-se. Descanse que amanhã será novo dia, novo Mundo. Também, se puder e só sendo adulto, tem outra dica: tome melatonina uma meia hora antes do horário que escolheu para dormir (melatonina natural!).
Outra coisa que deve ter conhecimento para ficar descansado mesmo depois de terminarem as férias: quando regressa a casa vai ter o segundo efeito do jetlag. Ora o seu relógio biológico está outra vez do avesso. Mas sobretudo um sentimento depressivo e que não tem a ver com saudades, apenas, da viagem maravilhosa que fez. Ou com saudades do sol do hemisfério sul ou trópicos. Não, é mesmo uma estrutura específica do nosso cérebro que nos troca tudo e está a ajustar-se.
Durante mais sete dias vai experienciar sensações de apatia e mesmo mau humor. Depois passa tudo. Nunca notou isso em si e nos seus? Importante também saber que as crianças estarão menos afetadas porque o seu ritmo biológico ainda não está tão consolidado como o dos adultos viajantes. E não vale a pena dizer que nunca sentiu o jetlag, pode não sentir na sonolência diurna, mas sentirá noutras sensações. Faça como eu: sinto o jetlag, mas penso que sou uma sortuda por o sentir, pois estou a viajar! No seu itinerário aconselho, como alma de viajante experiente, que reserve dias mais descansados para o primeiro e segundo. Acredite que vai usufruir mais ainda da sua viagem. Claro que se as suas rotas envolverem menos dias, não pode fazer essa ‘reserva’.
Depois é importante lembrar outras duas coisas: viajar a trabalho. O jetlag afeta, mas pode ser só mais desconfortável para viagens profissionais. Outra coisa: viagens de atletas. Os atletas são os mais afetados pelo jetlag por causa do impacto na competição. Também, portanto, são viagens a trabalho. Os estudos indicam que o jetlag afeta de forma significativa os kite surfers. Estes estão em movimento constante, em viagem. São populações muito estudadas pela ciência. Pode pesquisar na Pubmed, por exemplo, e tem lá a prova!
Se estiver a planear ou já mesmo em rota para o Ocidente, o jetlag sente-se, mas de forma mais confortável: acorda mais cedo sem compreender bem se é da sua energia súbita de ir conhecer o lugar. E sentirá, pelas 18h, um sono monstruoso. É tudo normal, mas não tem de sentir esse peso se seguir as dicas que dei anteriormente neste artigo. Ah, e considere sempre as horas a mais ou a menos nas refeições, nos emails trocados com os hotéis e agências turísticas do destino (eles podem estar a dormir e você acordado!), assim como nos momentos de embarque. Eu confesso que perdi um voo de Casablanca para Lisboa pois pensava que estava noutro tempo! Vamos lá acertar o relógio e sair de casa? É que o jetlag social (outro conceito) está a afetar imenso quem está parado ‘de viagens’ por causa da COVID-19. Prova científica também.
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