Por Cláudia Miguel

Estou a preparar este passeio há um ano, desde que em 2021 fui à procura dos tão famosos campos de amendoeiras. O seu tempo de floração é tão curtinho, todavia, que quando as encontrei, em Março, já todas as suas flores tinham dado lugar às verdes folhas que protegem os frutos. Lição aprendida, comprometi-me a fazer o trabalho de casa necessário e a não falhar este ano.

Amendoeiras em flor no Alentejo
créditos: Cláudia Miguel

A amendoeira é a primeira espécie fruteira na família das Rosáceas a florescer, ali entre janeiro e março, numa altura em que o tempo frio e o cinzento ainda dominam. É por isso que a sua colorida floração se tornou uma espécie de prelúdio da primavera e um motivo de interesse para excursões organizadas um pouco por todo o país, do Douro ao Algarve.

Este ano, com o trabalho de pesquisa feito e um pouco de sorte, pude assistir a esse espetáculo da natureza no Alentejo. O esforço da viagem valeu a pena assim que me deparei, em finais de fevereiro, com esta vista de fazer perder o fôlego, num amendoal situado na zona de Baleizão, uma freguesia do município de Beja.

Amendoeiras em flor no Alentejo
créditos: Cláudia Miguel

Quando as suas pétalas começam a cair em força, é como se o solo ficasse coberto por neve, a fazer lembrar a lenda algarvia de Ibn-Almundim, segundo a qual este rei mouro terá mandado plantar amendoeiras por todo o seu reino, numa tentativa de apaziguar as saudades de casa de Gilda. Esta princesa nórdica estaria habituada às paisagens cobertas de neve da sua terra-natal, daí o recurso cenográfico do rei às amendoeiras. Terá o espetáculo florido, em tons branco e rosa, apaziguado a nostalgia da princesa?

Não podemos admirar a beleza proporcionada por todas estas amendoeiras em flor, todavia, sem referir as inquietações ambientais que também suscitam. É que campos como este podem estender-se por muitos hectares do interior alentejano, com amendoeiras, e oliveiras também, em cultura intensiva. A sua implantação nestas paisagens foi possível devido à construção da barragem do Alqueva, que disponibiliza a água de que estes sistemas dependem. As alterações climáticas que se prevêem a curto e médio prazo (relembrar que este inverno está a ser um dos mais secos dos últimos anos) podem vir a provocar cada vez mais e piores secas no interior alentejano, colocando em causa a viabilidade destas culturas intensivas.

A Cláudia Miguel é a autora do blog A Borboleta Verde, onde regista as suas viagens e paixão pela fotografia.