Do miradouro, os turistas observam a paisagem ondulante da savana de Bogotá. Também podem ver um dos maiores aterros sanitários da América Latina, enquanto os agricultores afetados pelo lixo ensinam a importância do cuidado com o meio ambiente.

Ao fundo, a atração curiosa é o Aterro Sanitário Doña Juana, onde todos os dias chegam cerca de 6 mil toneladas de lixo, exalando um cheiro nauseante, uma mistura de plástico queimado e restos orgânicos em decomposição.

Sob a terra, num monte, estão escondidos os resíduos acumulados ao longo de mais de 30 anos, que se espalham em direção às casas de cerca de 5 mil moradores dos bairros vizinhos. À superfície, trabalhadores com maquinas pesadas trabalham para enterrar os novos resíduos.

Aterro sanitário de Doña Juana
Aterro sanitário de Doña Juana Vista geral do aterro sanitário de Doña Juana, em 10 de maio, 2024 créditos: AFP/Raul Arboleda

Raul Rivera, um agricultor com chapéu de caubói, e as suas filhas Paola e Andrea dão as boas-vindas aos turistas. Num passeio pelo aterro de 700 hectares, eles ensinam-os a cuidar das fontes de água e oferecem iogurte e queijo feitos com o leite das vacas que pastam perto do local em decomposição.

Também os convidam a reduzir o lixo que geram em suas casas. A iniciativa, diz Paola, é um ato de "resistência".

"Vocês devem ficar a saber que há uma população aqui que está a lutar para evitar que o aterro sanitário passe por cima das suas casas", disse à AFP a líder de um grupo de estudantes e professores universitários, de 22 anos.

É uma batalha desigual entre os agricultores e o lixo de uma das maiores metrópoles da América Latina, com oito milhões de habitantes.

"Esta não é uma montanha criada por Deus, mas uma montanha de lixo", diz Andrea, irmã de Paola, que nasceu em 1988, ano em que o aterro abriu.

O aterro corrói os bairros de Mochuelo Alto e Mochuelo Bajo. Em 2019, uma dúzia de famílias, incluindo os Riveras, criaram a associação Mirachuelo Ecoambiental para chamar a atenção das entidades públicas e educar sobre o cuidado com o planeta.

Aterro sanitáiro de Doña Juana
Aterro sanitáiro de Doña Juana Vista aérea do aterro sanitário de Doña Juana créditos: AFP/Raul Arboleda

Sara González, uma turista de 20 anos e estudante de antropologia, contempla Doña Juana e nota danos "impressionantes": o lixo produzido em casas como a dela em Bogotá consome aos poucos este território.

"Não esperava ver praticamente um deserto, é uma terra árida, às vezes em montes com cheiros estranhos", acrescenta.

Em 2018, um tribunal decidiu contra o operador do aterro sanitário por violações de contrato, em particular pelo tratamento do lixiviado - um líquido tóxico produzido pela fermentação de resíduos enterrados - argumentando que a área estava contaminada há vários anos, especialmente o rio Tunjuelito.