À entrada do novo Museu do Tesouro Real, a sensação é a de estarmos prestes a entrar num aeroporto. As boas-vindas estão a cargo de seguranças, que controlam a passagem dos visitantes por detetores de metais (sim, "é favor tirar o cinto") e examinam os seus pertences através de equipamentos de raio-x.

Mais à frente, a porta blindada de cinco toneladas desfaz qualquer dúvida: trata-se de uma das maiores caixas-fortes do mundo, efetivamente do tamanho de um edifício e da qual a fachada exterior envidraçada do Palácio Nacional da Ajuda é só o invólucro. A construção, análoga à de uma boneca russa, é um dos extremos a que o museu recorreu para garantir a segurança do seu valioso recheio.

A cautela não é para menos: entre joias da Coroa, insígnias, moedas e outras peças de ourivesaria real portuguesa, o Museu do Tesouro Real tem à sua guarda uma coleção com mais de mil peças, uma das mais completas do mundo e, paradoxalmente, das menos conhecidas. Destacamos algumas das preciosidades que nos impressionaram na nossa visita ao museu no seu primeiro dia de abertura ao público.

Impressões iniciais

Do alto da Ajuda, o novo museu destaca-se literalmente no panorama cultural da cidade. Instalado na renovada ala poente do Palácio Nacional da Ajuda, está aberto ao público desde 2 de junho, dia em que alguns visitantes já faziam fila para passar nos detetores de metais.

No interior, passamos da grande luminosidade admitida pela fachada envidraçada para a penumbra da enorme caixa-forte, onde pequenos focos de luz incidem sobre as preciosidades guardadas nas 76 vitrines à prova de bala. A escuridão favorece naturalmente os brilhos e reflexos das joias expostas (assim como alguns encontrões), mas nenhuma mais do que a Insígnia da Ordem do Tosão de Ouro, um adorno espantoso com mais de 1700 diamantes, 190 rubis e uma safira.

Com 27 centímetros de altura, a Insígnia é um dos objetos mais reluzentes da primeira sala, com direito à sua própria redoma. A designação e origem de outros objetos, alguns deles reunidos no mesmo expositor, poderá suscitar mais dúvidas aos visitantes casuais devido à opção por uma sinalética sem números ou outros elementos que facilitem a identificação (o catálogo, uma possível ajuda, ficará disponível brevemente).

Mantido fechado durante décadas nos cofres do Estado português, o Tesouro Real é agora colocado ao serviço da cultura e do turismo da capital, onde se espera que receba 275 mil visitantes no seu primeiro ano, 60% dos quais estrangeiros. O museu representa um investimento de 31 milhões de euros, pago com verbas provenientes da taxa do turismo de Lisboa, do Ministério da Cultura e da Associação Turismo de Lisboa.