Dia 1

Vista de qualquer ângulo (de longe e de perto), o Corvo parece mais rochedo do que ilha. De facto, em 1452 quando os navegantes portugueses descobriram as duas ilhas do Grupo Ocidental, um dos nomes dados à ilha mais pequena foi Ilhéu das Flores. Mas em 1548, quase 100 anos depois, começou-se a povoar a ilha, primeiro com escravos e mais tarde com habitantes das Flores. Entretanto, já se passaram mais de quatro séculos. Com pouco mais de 400 habitantes, todos concentrados na única vila da ilha, muitos (me) perguntam como é viver ali. Bom, nada como ir espreitar e voltar a casa sem saber como responder a essa pergunta – é o efeito secundário expectável de uma viagem ao Corvo. Nota bairrista: tenho pai corvino e mãe florentina, e por isso um pé em cada ilha e o coração nas duas. Não acreditem se vos tentarem convencer que o Corvo “vê-se num dia”, num day trip a correr a partir das Flores.
Para descansar
  • Explorar a Vila do Corvo
    Apesar de a ilha ter aeroporto e voos regulares, chegar ao Corvo de barco é o melhor começo da experiência. E nem falo dos possíveis avistamentos de golfinhos no canal entre Flores e Corvo. Aquela aproximação ao Porto da Casa, com as casas da vila a equilibrarem-se sobre o penhasco, é das minhas partes favoritas da viagem ao Corvo. Depois é dispensar o transfer até ao hotel, se possível, e ver onde é que as ruas nos levam.
  • Ir ao Caldeirão
    A única caldeira da ilha, resquícios do vulcão que deu origem à ilha, é provavelmente das lagoas mais bonitas dos Açores. Não há vento, chuva ou nevoeiro que faça quem seja arredar pé, a não ser que os Corvinos desencorajem a visita (nestas coisas deve-se ouvir sempre a gente da terra). As vacas, essas, estão habituadas a ser estrelas de Instagram e não se chateiam com as visitas. Depois há que fotografar os Moinhos de Vento. Os três moinhos de vento do Corvo, recuperados em 2013, são mais do que o sítio perfeito para tirar aquela fotografia-postal perfeita. Há mais moinhos nas outras ilhas, mas o estilo destes três é exclusivo do Corvo. Chamam ao estilo “continental sul” porque os moinhos se assemelham aos dos encontrados no sul de Portugal continental.
  • (Nadar na) Praia da Areia
    Para quê complicar os nomes das coisas numa ilha com poucas praias? A Praia da Areia foi batizada precisamente pelo seu areal negro, a única praia de areia da ilha, no sul do Corvo. Nadar está entre parênteses no título porque na realidade são as águas-vivas e as caravelas portuguesas que ditam se se pode ir à água ou não. Visite ainda a Casa do Tempo do Ecomuseu do Corvo. Acho que se aprende mais em conversas de café e a observar a vila do que em museus. Contudo, nem sempre o que se ouve por portas travessas tem contexto. E contexto, histórico e cultural, é o que se aprende na Casa do Tempo do Ecomuseu do Corvo.
  • Onde comer
    A vida é complicada na ilha mais pequena, mas também não é o degredo. Precisa-se, é certo, de algum poder de encaixe, mas se se vai para o Corvo à espera de passar férias num resort, não é o sítio certo. Posto isto, há quatro sítios onde comer no Corvo: Restaurante Traineira; Snack Bar Irmãos Metralha; BBC (bar dos Bombeiros Voluntários do Corvo) e o Restaurante Caldeirão.
  • Onde ficar: Hotel Comodoro
    O Hotel Comodoro, gerido por uma família Corvina de gema, brinda os seus hóspedes com duas coisas imperdíveis: os produtos locais e caseiros ao pequeno-almoço e as conversas com o dono, Manuel Rita. O sr. Manuel tem mil e uma histórias para contar sobre o Corvo e sobre os anos que viveu nos Estados Unidos. Da ilha pode trazer como lembrança queijo e as tradicionais barretas do Corvo, feitas de lã.