Cá do cimo vemos um terraço gigante de um preto-cinza, são as telhas que nos entram pelos olhos e nos contam dos anos que por elas passaram, de todos os sóis e de todas as chuvas que já acolheram, nos mais de 800 anos de vida. Descemos e deixámos os telhados para tocarmos o chão: é uma calçada que lembra o tempo em que foi construída, não esconde a quantidade de pés que já a percorreram e, entre estes, aqueles que faziam a antiga rota do chá e do cavalo. É difícil olhá-la, vê-la livre de pés, são tantos pés que a escolhem e a escondem, na pressa de ver tudo.

Entre ruelas, as lojas repetem-se, não houve um único dia em que não nos tivéssemos perdido no percurso para a nossa casa, que ficava numa dessas ruas estreitas da Old Town - a Qiyi –, e isto não se deve ao nosso sentido de orientação, a verdade é que cada rua parecia uma cópia da anterior e da seguinte, as mesmas lojas, a vender as mesmas coisas, de todas guardamos (em ouvidos) as que vendiam djembês. Lijiang fala assim, tem essa voz, a voz das batidas de djembê.

Lijiang, a bela cidade no sudoeste da China
créditos: Menina Mundo

Numa dessas lojas comprámos e repetimos o bolo de rosas que havíamos provado em Pequim, mas aqui tem outros poderes, trinquei e cresci – como cresceu a Alice no seu país das maravilhas - a sensação é a de uma porta de acesso ao imaginário, sem filtros. E estávamos lá os três, entre pontes de pedra que se repetem, em sombras feitas de sol, nos canais do rio Yuhe, que também se enchem de árvores, também feitas da sombra e do sol. Os moinhos, as paredes pintadas de verde pelas heras que as escondem, as casas de madeira e as pontas dos telhados que apontam o céu lá em cima.

Lijiang, a bela cidade no sudoeste da China
créditos: Menina Mundo

Foi por entre estas ruelas que ele, pequeno como ela, ficou de mãos a segurar o queixo, a pedir um olhar, enquanto ela, olhando de soslaio, se mostrava desinteressada. Foi nesta velha cidade que nasceu este amor de meninos. Cada um seguiu caminho e o nosso levou-nos ao Black Dragon Pool. É uma das paisagens mais bonitas que já vi, uma ponte que atravessa o lago, atrás jardins e pagodes vivos. Atravessámos a ponte, abaixo de nós: carpas que se passearam diante dos olhos, dos nossos e dos dela que andavam de um lado para o outro, repetindo-lhes o movimento e, lá à frente, a Montanha de Neve do Dragão de Jade.

Não consigo! Não consigo não recuar na história, não consigo não entrar nesse imaginário, não consigo não ver o dorso do Dragão de Jade naquela encosta, com a cabeça mergulhada nas águas que o protegem, que protege.

Lijiang, a bela cidade no sudoeste da China
créditos: Menina Mundo

Conseguem vê-lo?


Se forem a Lijiang, visitem:

- Jade Water Village: na base da Montanha de Neve do Dragão de Jade, a 3000 metros acima do nível do mar. A presença da água é forte, trata-se de uma nascente natural considerada sagrada para o povo Naxi. Tudo parece ser sagrado aqui, os templos, as fontes, os murais nas paredes. Estes últimos lembram-nos a crença do povo Naxi na coexistência do bem e do mal, da guerra entre os bons (os espíritos brancos) e os maus (os espíritos negros), da justiça e da punição. Contam histórias de paraíso, terra e inferno. Da ligação à natureza e à necessidade de a proteger. Aproveitem para fazerem soar o sino da paz e toquem o tambor da sorte. Podem atirar moedas às várias fontes, em trocas de desejos.

Lijiang, a bela cidade no sudoeste da China
créditos: Menina Mundo

- Baisha Village: uma aldeia onde nos cruzamos com o povo Naxi, uma das mais de 50 etnias reconhecidas pelo governo chinês. Na aldeia poderão apreciar os históricos murais Baisha, fruto de uma cooperação entre artistas de diferentes países, regiões e religiões e pintados ao longo de várias dinastias de imperadores chineses. Nos murais estão representados figuras do Budismo, Taoismo e Budismo Tibetano, em cada um contam-se mais de uma centenas de retratos pintados com cores vivas e linhas bem definidas. Há autenticidade nestes murais, ao contrário da aldeia, que é uma aldeia para o turista ver, mais povoada pelo comércio do que pelo dia-a-dia, melhor: o comércio é o dia-a-dia dos que ainda ali vivem. Repetem-se os lenços das lojas da cidade velha de Lijiang, repetem-se os djembés, repetem-se os convites para entrar, para comprar. Repete-se a máquina.

Lijiang, a bela cidade no sudoeste da China
Foto: Menina Mundo créditos: Menina Mundo

Almoçamos num restaurante da aldeia e talvez esse tenha sido o momento mais sincero que a aldeia nos ofereceu: o sabor.

A evitar:

Não visitem Lijiang durante a Golden Week, está apinhada de turistas nacionais que aproveitam essa semana de festividades e interrupção nos empregos para viajarem. Parece que nessa semana os preços chegam a subir 70%.

Passamos três dias, e é dúbio o nosso ponto de vista: chega, é pouco, é demasiado. Julgo que para quem viaja em família é pouco tempo, porém devido ao facto de estar carregado de turistas, uma vez que é um ponto turístico privilegiado para os próprios chineses, de tudo estar montado para funcionar com base no comércio e no consumismo e os custos elevados para alojamento e alimentação, leva-nos a ponderar se três dias não serão já suficientes.

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