Estabelecemos a nossa estadia para esta viagem num apartamento de turismo rural no centro do Parque Regional Natural do Luberon (algo equivalente ao nosso Gerês). Recomendamos este local uma vez que fica bastante próximo dos principais pontos de visita e a uma distância semelhante de quase todos eles, não implicando grandes viagens durante a nossa estadia na Provença. Isto, claro, excluindo o primeiro dia.
Dia 1
Após uma boa noite de sono e um pequeno-almoço no terraço, cheios de entusiasmo e sedentos de estradas provençais, decidimos ir até Avignon. Este, pelo menos, era o plano inicial, porque quem faz 54Km, também faz 96Km e vai até Nîmes e, sendo assim, quem faz 96Km também faz 147Km e vai até Montpellier. E fomos.
Não ficamos deslumbrados. É uma cidade grande, bonita, mas não o que se procura na Provença. Portanto almoçamos, demos um curto passeio e iniciámos o percurso inverso. Parámos em Nîmes, ainda uma cidade grande mas bem mais pequena do que Montpellier e com pontos bastante interessantes, dos quais destacamos o Coliseu (bem conservado, parecido com o de Roma numa dimensão inferior), a Maison Carré (um templo romano lindíssimo que mantém praticamente toda a estrutura original) e ainda a catedral de Nîmes. Se tiverem muitos dias para explorar, recomenda-se a visita.
Seguindo então o plano original, continuámos até Avignon, onde chegámos perto do final da tarde, cheios de expetativas, uma vez que esta cidade foi residência papal durante cerca de 70 anos. Bem, não esperem encontrar um mini Vaticano, mas a cidade entre muralhas é de facto bonita. Infelizmente não conseguimos visitar o Palácio Papal, pois chegámos mesmo em cima do horário de fecho, mas acreditamos que valha a visita.
A nossa falta de entusiasmo com Avignon não se prende então com a beleza do local, mas sim com o ambiente em que nos insere, que mais parece o de uma verdadeira feira popular, com pretensão de ser uma Broadway. Cartazes de espectáculos colados em todas, mas mesmo todas, as paredes, fitas a unir os prédios cheias de bandeirinhas publicitárias, entrega de publicidade a cada passo… Bom, uma verdadeira confusão, nada ao estilo provençal. À medida que a noite caía vimos a força policial ser reforçada, algo que nunca é um bom cartão de visita.
Talvez Avignon não seja sempre assim. Pelo que sabemos coincidiu com um festival de teatro, mas de qualquer forma não cumpriu as expetativas. No meio disto tudo, a caminho da famosa ponte Saint-Bénézet, lá encontrámos uma rua bastante sossegada, com um restaurante muito agradável onde jantámos e bebemos o nosso primeiro (de muitos) copo de vinho rosé. Afinal estávamos na Provença.
Dia 2
No segundo dia, ansiosos por pequenos vilarejos, explorámos a zona de Vaucluse, começando então por Fontaine de Vaucluse, uma 'vilazinha' muito ao estilo do Gerês, ao pé de um rio e cuja atração principal é uma belíssima queda de água.
De lá seguimos então para Roussillon, uma das vilas mais bonitas e diferentes que se pode encontrar na Provença. Roussillon destaca-se pelo ocre que lhe confere uma cor vermelha, presente desde a terra até às casas. Visitámos as antigas minas de ocre, podendo optar-se por um percurso mais curto ou longo (estávamos perto da hora de almoço e o nosso estômago levou-nos a optar pelo passeio curto). Custa 2,50€ e vale muito a pena, uma vez que parece que, momentaneamente, saímos da Europa e fomos transportados para os canyons americanos.
Hipnotizados por toda aquela palete de vermelhos e alaranjados, decidimos dar um passeio pela vila e acabámos por almoçar por lá, de onde seguimos para Bonnieux, a antiga vila de férias dos papas de Avignon. Uma viagem curta, de apenas 11km, mas que nos brindou com imensos campos de girassóis, daqueles que obrigam à paragem na beira da estrada para sessão fotográfica. Provença também é isto, parar antes da meta (repetidamente), porque o percurso é sempre tão interessante quanto o destino. Entre campos de lavanda, girassóis e charmosos vilarejos, a Provença é um regalo para os sentidos.
Gordes foi o vilarejo onde decidimos acabar o dia, não sem uma paragem antes na Abadia de Senanque, um dos cartões de visita da Provença, com todo o mérito.
Foto aqui, foto ali e lá fomos nós para Gordes, uma vila que conquista mesmo antes de lá chegarmos pelo impacto visual que oferece a quem se aproxima. Gordes ganhou fama após o filme “Um Bom Ano” (Ridley Scott, 2006) o que acabou por inflacionar um pouco os preços dos serviços, desde alojamento a restauração, cuja oferta não é muito abundante e encerra cedo, por volta das 22h00. Mesmo assim, encontramos um restaurante bem simpático, onde jantamos, desfrutando do belo terraço.
Dia 3
Visita a Aix-en-Provence com a afamada “avenida mais bonita de França”. É fácil gostar de Aix-en-Provence, que cresceu sem perder a identidade provençal. Animada, carismática, repleta de praças e esplanadas que convidam a desfrutar da cidade na companhia de um cocktail ou de um gelado bem característico da zona – pêssego e lavanda, delicioso!
De lá seguimos para Les-Baux de Provence, mais um dos magníficos vilarejos da região. Foi amor à primeira vista, com o castelo habilmente construído no cimo de um rochedo, rodeado de imponentes montanhas a lembrar cenários da Guerra dos Tronos. Impecavelmente conservada e limpa (aliás, como todos os locais por onde passámos), com lojinhas charmosas de produtos da região. O ideal é perder-se pelas ruazinhas em direção ao castelo. O bilhete para visitar o castelo é um pouco dispendioso (10 euros), mas vale completamente a visita, assim como ir com tempo para explorar todas as ruínas e desfrutar da vista deslumbrante que se tem lá do alto.
Já nem apetecia vir embora, mas ainda havia mais um ponto de visita para esse dia, Saint-Rémy de Provence. Um charme de vila. Consegue ser pitoresca e sofisticada em simultâneo, não admira que Van Gogh tenha encontrado aqui tanta inspiração para criar algumas das suas mais conhecidas obras. É aqui que se encontra o asilo onde ele viveu os seus últimos anos, podendo visitar-se o edifício com direito a passagem pelo quarto do pintor. Além disso, Saint-Rémy é também conhecida pela arte na cozinha, com uma excelente oferta de gastronomia típica da região. Provámos e aprovámos.
Por falar em comida não passem pela Provença sem experimentar o hambúrguer ao estilo da região, a sopa de peixe e o creme brûlée aromatizado com lavanda.
Dia 4
Destino: Gorges du Verdon. O percurso escolhido não podia deixar de atravessar as estradas nacionais com passagem bem no epicentro dos campos de lavanda, a planície de Valensole. Aqui, quando já pensamos ter encontrado o maior e mais bonito de todos os campos de lavanda, bastam-nos 500 metros para perceber que há sempre mais, muito mais.
A lavanda nunca cansa, portanto entre várias paragens na beira da estrada, lá seguimos viagem com direito a mais uma antes do destino final, Moustiers Sainte Marie, outro dos belos vilarejos franceses. Construída entre rochedos, com a igreja lá no alto da rocha, camuflada de tal forma que mais parece fazer parte dela, atravessada por um riacho que desce criando quedas de água na escarpa, esta vila é verdadeiramente impressionante. Paragem fundamental para quem faz o percurso até Gorges du Verdon, para onde seguimos depois.
O Vérdon é um rio que desce desde os Alpes até ao lago Saint-Croix, atravessando as montanhas e criando cenários deslumbrantes de desfiladeiros com a sua cor turquesa a contrastar com o cinza da pedra. Impossível não ficar emocionado ao virar uma curva na serpenteante estradinha dos Alpes e ser surpreendido com o azul da água bem lá em baixo (até quem não tem vertigens treme um bocadinho). Descendo até ao lago, é possível alugar um caiaque ou um barco de pedal e seguir o percurso do rio pelo desfiladeiro. Infelizmente, no dia em que fomos não deu para o fazer devido às condições meteorológicas, por isso tivemos que nos contentar com um mergulho no lago (o que com 35ºC também não caiu nada mal).
Informações sobre esta viagem:
Preço médio da refeição: 25 euros por pessoa, com entrada+prato ou prato+sobremesa, copo de vinho e café.
Orçamento para os quatro dias: Aproximadamente 400/500 euros para os dois.
Como chegámos lá: Avião Ryanair de Porto para Marselha, tendo custado cerca de 80 euros por pessoa, ida e volta. De Marselha ao hotel escolhido são 90 km, com carro alugado no aeroporto (23 euros por dia).
Mês escolhido: julho, melhor altura para observar os campos de lavanda em flor.
Alojamento: Le Saint Massian - Chambres d'hotes, em Apt, tendo custado 65 euros a noite com pequeno almoço incluído.
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