A Serra da Lousã é uma cordilheira localizada no centro de Portugal e em conjunto com a Serra do Açor e a Serra da Estrela formam o mais imponente alinhamento montanhoso de Portugal: a Cordilheira Central. Nesta serra, podemos encontrar florestas de carvalhos, castanheiros, pinheiros e outras espécies que proporcionam um habitat para uma variedade de animais, como veados, javalis, raposas, texugos ou rã ibérica. A Serra da Lousã, com o seu ponto mais elevado aos 1204 metros (Alto do Trevim), abrange oito municípios e doze aldeias de xisto. Mas o que são as aldeias de xisto?

As aldeias de xisto são pequenos povoamentos escondidos por vegetação envolvente, onde encontramos uma predominância do xisto e de quartzito como material de construção. A aldeia de xisto que serviu de base para os dois dias que passámos na Serra da Lousã foi a aldeia do Talasnal. A chegada é feita por uma estrada municipal digna de um filme, onde a luz do pôr-do-sol faz com que fique ainda mais cénica.

Aldeia de Xisto do Talasnal
Estrada de acesso à Aldeia do Xisto Talasnal créditos: Guilherme Teixeira

É preciso atenção redobrada quando conduzimos nesta estrada: o movimento é reduzido, mas a ravina acentuada de um dos lados e o curto espaço de estrada torna a viagem mais complexa do que aquilo que podíamos imaginar ou querer. À escrita deste post, reflito que a inexistência de pontos de paragem para observar a paisagem pode ser benéfico para evitar acidentes derivados da acumulação dos carros na via. No entanto, há quem desafie a sorte e “estacione” o carro no meio da estrada para tirar a fotografia nos placares “Isto é Lousã”.

Os primeiros minutos na aldeia do Talasnal foram abençoados com o avistamento de um javali fêmea e a sua cria: algo que não estávamos nada a contar! O javali Sus scrofa é um suíno com uma ampla distribuição geografia, desde a Europa à Asia, e apresenta um estado de conservação “pouco preocupante”. Esta classificação e o constante crescimento do número de efectivos fazem desta uma das principais espécies cinegéticas em Portugal. Com um porte robusto e corpo arredondado, os machos podem atingir 1,60 metros de comprimento e as fêmeas 1,45 metros; adicionalmente os machos apresentam uns caninos desenvolvidos e projectados para o exterior da boca. Não havia melhor forma de começar a estadia! Apesar de um javali fêmea na presença da sua cria ser um animal mais perigoso, esta mostrou ter um à-vontade grande com a presença de pessoas junto da curiosa cria. Na verdade, só vimos a fêmea por alguns segundos.

Serra da Lousã
As boas-vindas a Talasnal ficaram a cargo de um javali selvagem créditos: Guilherme Teixeira

Ao fundo ouvimos uma melodia que parece vir de uma cascata, no entanto um olhar mais atento revela-nos uma fonte que deixar cair a sua água para um tanque e posteriormente para um pequeno canal que acompanha o chão xistoso. Este som acompanha-nos até chegarmos às primeiras casas decoradas com videiras e onde o caminho principal diverge em becos e ruelas que nos levam até aos cantos mais bonitos da aldeia. É de notar que os habitantes souberam criar uma atmosfera convidativa para os turistas: restaurantes, cafés e lojas. Tudo podia indicar que estávamos num local demasiado turístico, mas a verdade é que as palavras de ordem são paz e sossego.

O dia seguinte foi dedicado a explorar a zona do Castelo da Lousã (ou Castelo de Arouce) e uma cascata na aldeia de xisto do Candal, mas vamos por ordem! Se há castelo que fica na memória, esse é o Castelo da Lousã. Não pela sua monstruosidade, mas sim pela simplicidade aliada à envolvência que é digna de qualquer quadro pintado pelos maiores mestres portugueses.

Castelo da Lousã
O Castelo da Lousã fica a 2km da vila e ficou celebrizado por José Saramago como sendo “paisagisticamente, das mais belas coisas que em Portugal se encontram” créditos: Guilherme Teixeira

Uma curta caminhada leva-nos para mais um tesouro da Serra da Lousã: a praia fluvial de Nossa Senhora da Piedade. Situada na Ribeira de São João, esta praia possui duas piscinas naturais, um bar com esplanada e uma vista fantástica sobre a serra. Estão ainda disponíveis balneários com chuveiro e casas de banho. Durante a época balnear, a praia é vigiada por um nadador-salvador com posto de primeiros socorros. A praia fluvial deve o seu nome à presença da Ermida de Nossa Senhora da Piedade, localizada no topo do monte e que pode ser acedido através de um caminho de xisto.

Dois dias não são suficientes para riscar a Serra da Lousã do mapa, na verdade fico com a sensação de que nem uma semana chega. Há tanto para fazer! Existem inúmeros trilhos para os amantes de caminhadas e de BTT; estradas com bom pavimento e subidas perfeitas para os amantes de ciclismo; paisagens (e não só!) que são de cortar a respiração para os amantes de fotografia. Se há algo de que me arrependo foi não ter dedicado o tempo necessário a fotografar a aldeia do Talasnal ao pôr-do-sol ou de ter fotografado o Castelo da Lousã à mesma hora. Estas “falhas” só deixam espaço para uma nova incursão a este local e quem sabe numa altura em que a paisagem está pintada com tons de castanho ou branco. É sem dúvida um local a regressar!

Podem seguir as caminhadas e experiências fotográficas do Guilherme no seu blog, Raw Traveller, onde uma versão deste artigo foi publicada originalmente, e no instagram.