Do alto da sua colina na margem esquerda do rio Mondego, o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova é um dos edifícios que mais se destacam no horizonte de Coimbra. Sem surpresa, o antigo mosteiro feminino, erguido no século XVII, reserva uma das melhores vistas da cidade e para alguns dos seus visitantes, especialmente aqueles chegados a pé, uma merecida recompensa.

Os peregrinos que tiverem feito o seu trabalho de casa não ficarão admirados por encontrarem aqui, paredes-meias com um Monumento Nacional, um albergue onde podem passar a noite. A igreja do mosteiro foi dedicada à memória da Rainha Santa Isabel, padroeira de Coimbra e uma das mais ilustres figuras da monarquia portuguesa a fazerem a peregrinação até Santiago de Compostela (no verão longínquo de 1325).

687 anos depois da sua morte, o culto da Rainha Santa faz-se notar por todo o mosteiro. A sua urna ocupa o lugar de destaque no altar da igreja, possivelmente um dos mais ostensivos e peculiares do país. O retábulo, todo ele revestido em talha dourada, apresenta uma janela a meio que permite ver a urna de prata contendo os restos mortais de Isabel de Aragão. Em ocasiões especiais, que dão seguimento a uma tradição com séculos, uma cortina é corrida para dar a ver a mão direita da rainha, aparentemente “incorrupta” pela passagem do tempo (os mais curiosos, ou céticos, poderão comprová-lo já em 2025, ano em que a mão real ficará novamente descoberta).

Mais à frente, é ainda possível ver o túmulo original da rainha, trabalhado por Mestre Pêro a partir de um único bloco de pedra calcária de Ançã. A tampa apresenta a estátua deitada de D. Isabel com uma dimensão fora do comum. Como sinal da sua devoção jacobeia, a figura da rainha aparece esculpida com uma pequena bolsa à cintura decorada com uma vieira, o símbolo da peregrinação a Compostela desde a Idade Média.

Depois da igreja, passamos por outro dos tesouros do Mosteiro, o claustro. Descrito como o maior "do país", também aqui se nota a reverência à Rainha Santa. À hora em que o visitamos, já com a última luz do dia a escoar-se rapidamente, as rosas de todas as cores que embelezam o espaço dão a sensação de conversarem entre si, trocando confidências, quem sabe, a partir dos quatros cantos do grande pátio. D. Isabel, a quem é atribuída a lenda do milagre das rosas, seguramente apreciaria a tranquilidade que ali se faz sentir ao final de uma tarde de sol, matizada pelos roseirais.

A visita habitual não inclui este desvio, mas basta cruzar uma porta para espreitarmos o Albergue Rainha Santa Isabel, instalado num edifício anexo ao mosteiro e a funcionar desde 2014. Quem nos mostra os cantos à "casa" é Henrique de Sousa Teixeira, um dos responsáveis pelo alojamento e descrito num comentário deixado no Google Maps “como rigoroso, mas um peregrino de coração”. As dezenas de Compostelas (o documento que certifica a conclusão de uma peregrinação) que nos mostra com o seu nome provam-no. Já o rigor advém do escrutínio da credencial do peregrino, uma espécie de passaporte que deve ser carimbado em cada etapa do itinerário e cuja apresentação é obrigatória aqui para permitir a pernoita.

Wifi do albergue do Convento de Santa Clara-a-Nova
A reverência à Rainha Santa Isabel faz-se sentir até nos detalhes mais mundanos do albergue créditos: Pedro Neves

Tirando a localização privilegiada, o alojamento não se distingue da maioria dos albergues para peregrinos, oferecendo apenas o estritamente essencial em matéria de conforto. O preço da dormida num dos quartos partilhados (10€) reflete isso mesmo. Por outro lado, os peregrinos que aqui pernoitarem não vão precisar de cansar mais as pernas para ficarem a conhecer a história de uma das figuras mais importantes da peregrinação jacobeia em Portugal.

O SAPO Viagens visitou o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova a convite do Turismo Centro de Portugal.