"O Centro das Artes é uma referência não só concelhia, como regional, nacional e até internacional e, a nível cultural, foi uma mais-valia para o concelho da Calheta", diz à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal, Carlos Teles, lembrando, no entanto, que "houve o receio" de que a obra se transformasse num "elefante branco".

A infraestrutura, da autoria do arquiteto madeirense Paulo David, ocupa uma área coberta de 12.000 metros quadrados, onde se encontram diversos espaços para exposições e oficinas artísticas, auditório, biblioteca, lojas, cafetaria, restaurante e um parque de estacionamento subterrâneo com capacidade para 92 lugares.

A obra custou 16 milhões de euros e surgiu como prolongamento da Casa da Cultura da Calheta, instalada no solar Casa das Mudas, sendo que a integração na paisagem, numa zona sobranceira à vila e com vista para o mar, é um dos aspetos mais notórios do projeto, que já recebeu várias distinções internacionais, entre as quais o Prémio Europeu de Arquitetura Contemporânea.

Casa das Mudas
créditos: LUSA

"Tivemos sorte. As grandes obras, como o Centro das Artes, o porto de recreio, a praia de areia dourada, o Centro Cívico do Estreito da Calheta, todas tiveram retorno e têm tido algum sucesso", afirma o autarca, sublinhando que subscreve as declarações do então presidente do executivo, Alberto João Jardim, quando declarou, no dia da inauguração, em outubro de 2004, que a obra era um "hino de glória" ao povo da Calheta.

"Concordo plenamente e acredito que todos os calhetenses têm orgulho naquela obra, mesmo aqueles que não são frequentadores habituais do espaço, mesmo esses sentem orgulho naquela obra", sublinha, acrescentando a "coragem" do Governo Regional, que "não teve medo de descentralizar" e construiu o maior polo cultural da Madeira fora do Funchal num concelho marcado pela atividade agrícola.

A gestão do Centro das Artes - Casa das Mudas esteve a cargo da Sociedade de Desenvolvimento Ponta Oeste, promotora da obra, até agosto de 2015, altura em que o novo executivo regional, liderado por Miguel Albuquerque, a transferiu para a Direção Regional de Cultura. Dois meses mais tarde, foi lá instalado o Museu de Arte Contemporânea da Madeira, que funcionava desde 1992 no Forte de São Tiago, no Funchal.

"Penso que foi uma mudança importante e que vai melhorar a gestão daquele espaço", diz o presidente da Câmara Municipal, realçando que a autarquia "está satisfeita" com a dinamização da economia local gerada à volta do Centro das Artes, embora diga que "ainda mais e melhor pode ser feito", sobretudo na promoção junto dos turistas.

O concelho da Calheta, fundado em 1502 e composto por oito freguesias, é o mais extenso da Região Autónoma da Madeira (111,52 quilómetros quadrados) e conta com 11.521 habitantes (Censos 2011), sensivelmente metade dos que lá viviam nos anos 40/50 do século XX, antes dos grandes surtos migratórios.

Nos anos 90, o Governo Regional procedeu a recuperação de um solar do século XVIII, conhecido por Casa das Mudas, pois ali tinham morado duas fidalgas que eram mudas, e transformou-o em Casa da Cultura da Calheta.

Uma década mais tarde, na sequência da constituição das sociedades de desenvolvimento (entretanto em falência técnica), foi levada a cabo uma monumental ampliação do espaço, que resultou no aparecimento do Centro das Artes, por onde passaram já muitos nomes incontornáveis da cultura contemporânea.

A exposição "Grande Escala", que assinalou a inauguração e esteve patente até janeiro de 2005, por exemplo, era constituída por obras de Picasso, Francis Bacon, Léger, Stella, Botero e Calder, pertencentes à coleção do comendador Joe Berardo.

"Houve descentralização e, na altura, muito boa gente viu isto como uma má aposta, mas o tempo provou que essas pessoas estavam erradas", afirma o presidente da Câmara Municipal, salientando, no entanto, que é necessário lutar contra a "barreira psicológica" que ainda coloca a Calheta a mais de três horas do Funchal, como acontecia antigamente, quando, na verdade, hoje em dia dista apenas 30 minutos.