Lofoten é um arquipélago Norueguês situado no Círculo Polar Ártico aquele que, dos cinco grandes círculos de latitude que marcam a Terra, se localiza mais a norte. Caracteriza-se por um distinto e dramático cenário de montanhas e picos, imponentes fiordes a rasgar o mar, zonas em estado virgem, praias intocadas e baías abrigadas.

Este território é considerado inóspito por muitos e desde os primórdios que foi ocupado apenas pelos mais bravos homens do mar: primeiro os Vikings e mais tarde, os pescadores de bacalhau, especialmente no Inverno quando o bacalhau migra do mar de Barents para o Sul e chega às ilhas Lofoten para desovar.

Aurora boreal, Noruega
Aurora boreal créditos: Pixabay

Apesar dos rigorosos invernos, devido à corrente quente do Golfo, o arquipélago tem um clima muito mais ameno do que outras partes do globo na mesma latitude. É essa localização que permite vivenciar duas das mais bonitas experiências que a Mãe Natureza tem para oferecer: o sol da meia-noite e as auroras boreais. Comecemos então a viagem que nos vai guiar ao longo das Lofoten, um dos últimos locais em estado selvagem na Europa.

Primeira Paragem: Tromsø

Tromsø é a “Capital do Norte”, já que é considerada a cidade do mundo localizada mais a norte, mais precisamente a 350 km a norte do Círculo Polar Ártico. É conhecida como a “porta do Ártico”, uma vez que é ponto de partida de muitas expedições com destino ao Ártico. É uma cidade moderna onde a natureza e a cultura andam de mãos dadas e, por ser rodeada por água, é um importante polo da industria pesqueira Norueguesa.

O centro da cidade tem o maior número de antigas casas de madeira existentes no norte da Noruega, sendo que a mais antiga data de 1789. Mas Tromsø alberga também diversos edifícios de arquitetura moderna, como a Biblioteca de Tromsø, o Museu Polaria e a Catedral do Ártico. Com uma população composta por mais de 100 nacionalidades diferentes, Tromsø é uma verdadeira cidade multicultural conhecida por ter uma vida noturna animada e por acolher vários festivais ao longo do ano.

Casas de madeira em Tromsø
Casas de madeira em Tromsø créditos: Pixabay

Dada a sua localização, a cidade é um dos locais mais procurados para apreciar as Auroras Boreais, um fenómeno que ocorre entre Setembro e finais de Março. De facto, Tromsø fica exatamente no meio da zona onde ocorrem as Auroras Boreais, mas é melhor afastar-se um pouco da cidade e vê-las a partir das zonas rurais, onde as luzes da cidade não perturbam a observação. Entre finais de Maio e de Julho, é possível apreciar o Sol da Meia-Noite e, devido à alta latitude de Tromsø, o crepúsculo é longo, o que significa que não há verdadeira escuridão durante esse período do ano. Por outro lado, entre finais de Novembro e meados de Janeiro, o sol mantém-se abaixo da linha do horizonte, dando origem à chamada noite polar, um período durante o qual não se vê o sol.

A caminho das ilhas Lofoten

Viajando para sul o caminho oferece ainda mais beleza. O carro é uma boa opção uma vez que o limite de velocidade reduzido permite apreciar as belíssimas vistas. Há pontes sobre o mar ligando ilhas e há túneis debaixo de água. Ao fim de cada curva é-nos oferecida uma imagem digna de postal. De vez em quando, destacam-se pequenas aldeias com casas de madeira pintadas de vermelho que contrastam com a dominante paisagem azul, marcada pelo mar e pelo céu. Tudo parece tão calmo que é fácil perceber que a vida a esta latitude flui lentamente, seguindo o ritmo das estações do ano.

Vale a pena ir parando de vez em quando para apreciar a vista, para descansar e para respirar o ar puro enquanto se usufrui do silêncio interrompido apenas pelos sons da natureza. Está convidado a fazer um picnic, a acampar ou até mesmo a fazer uma fogueira. Na Noruega não há restrições ao direito de acesso nas áreas rurais, incluindo os parque nacionais. Como é do senso comum a única regra é respeitar a natureza e deixar o local como o encontrou.

Ilhas Lofoten
A paisagem das Ilhas Lofoten é única créditos: Pixabay

É bom não esquecer que este território é também a terra do povo Sami, os indígenas do norte, que têm um estilo de vida muito próprio e único e que falam a língua Sami, que é uma das línguas oficiais da Noruega. O povo Sami, na Noruega, vive essencialmente da criação de renas, mas, tradicionalmente, subsistiam através da pesca, da pecuária e da caça realizada ao longo da costa nos fiordes e nos grandes rios, mais para o interior. Aproveite a oportunidade para conhecer a sua cultura, música e artesanato.

Ballstad: uma das maiores vilas pesqueiras das Lofoten

O arquipélago tem muitas ilhas e bonitas aldeias costeiras, oferecendo muitíssimas opções. O melhor é escolher um local para ficar alojado e ir conhecendo as redondezas, descobrindo e experienciando estas ilhas mágicas.

O nosso destino é uma aldeia costeira e pequena ilha ao largo da ponta sudoeste da ilha de Vestvågøya, no condado de Nordland. A experiência por excelência das ilhas Lofoten é ficar alojado nas antigas cabanas dos pescadores (robuer) que foram restauradas e convertidas em alojamento para viajantes. Uma vez instalado, as atividades ao ar livre no arquipélago são muitas: passeios de bicicleta, subir montanhas, viagens de barco, pesca, rafting em mar alto, surf e mergulho.

Ilhas Lofoten
Um dos cenários que vai ver nas Ilhas Lofoten créditos: Pixabay

A forma mais simples de explorar Ballstad é caminhar e usufruir da beleza desta aldeia de pescadores protegida do mar aberto por diversas pequenas ilhas. Trata-se de uma comunidade piscatória desde há possivelmente mil anos e ainda se mantém na atividade com uma grande frota de barcos. A paisagem é soberba e uma das coisas mais interessantes em que vai reparar é aquela que é uma das imagens mais icónicas das Lofoten: o bacalhau pendurado a secar, tal como roupa num estendal. O bacalhau é seco ao ar livre pelos fortes e salgados ventos marítimos, o que significa que pode ser mantido depois por um longo período, em alguns casos, durante décadas! Se tiver energia suficiente não deixe de subir ao topo da Ballstad-Heia, uma montanha que oferece vistas espetaculares e que é relativamente fácil de escalar, tendo como ponto mais alto o Nonstind a 459 metros acima do nível do mar.

Nusfjord: em tempos, a aldeia piscatória mais importante

A viagem de barco até Nusfjord é uma aventura em si mesma. Devido às águas agitadas e ao vento que nos bate na cara, o trajeto de barco faz qualquer um sentir-se um verdadeiro bravo pescador norueguês! Ao chegar ao destino vai encontrar uma das mais antigas e bem preservadas aldeias piscatórias que mantém a sua tradição de pesca. Com edifícios datados de 1800, os primeiros vestígios de pesca industrial também foram descobertos aqui, em Nordland, o que faz deste lugar um ativo porto de pesca desde há séculos.

Nusfjord
A aldeia piscatória de Nusfjord créditos: Christoph Strässler/CC

Atualmente, Nusfjord é uma espécie de museu, dispondo de uma loja ao estilo vintage, uma oficina onde se produz óleo de fígado de bacalhau, uma serraria e uma ferraria. Há também um restaurante e alojamento nas antigas cabanas dos pescadores. Esta aldeia é um verdadeiro paraíso para pescadores dos mais variados níveis e permite usufruir da verdadeira experiência da pesca em alto mar. O ponto alto é o Inverno, aquando da época da pesca, mas há bastante peixe para pescar ao longo de todo o ano. O bacalhau é a espécie mais comum, mas também vai encontrar halibute, badejo, arinca e escamudo. O cais de Nusfjord dispõe de bancos para limpar e filetar o peixe. O visitante pode cozinhar o peixe que acabou de pescar na sua cabana ou, se preferir, o chefe do restaurante local pode confecionar uma deliciosa refeição com o peixe pescado por si mesmo.

Borg: a maior casa Viking do mundo

O arquipélago das Lofoten foi ocupado pelos Vikings durante séculos. Em 1983 arqueólogos descobriram aquela que seria a casa do chefe da aldeia de Borg, um enorme edifício da era dos Vikings, que se pensa datar do ano 500. Quando as escavações terminaram, os vestígios daquela que terá sido uma casa Viking ficaram visíveis e o edifício foi reconstruído ligeiramente a norte do local das escavações e convertido num museu. O Lofotr Viking Museum consiste na total reconstrução da casa do chefe com 83 metros de cumprimento, uma forja de ferreiro, duas réplicas de barcos Vikings e várias reconstituições que permitem ao visitante imergir no estilo de vida da época dos Vikings.

*Artigo originalmente publicado em outubro de 2017