A oposição à proposta, que se encontra em discussão pública até 28 de novembro, já foi materializada na petição "Não aos planos que destruam o caráter pitoresco do centro histórico de Olhão", documento que tinha reunido, até sexta-feira, mais de 1.200 assinaturas, sobretudo de cidadãos estrangeiros.

Um dos projetos que estão a merecer maior contestação é a Torre do Mirante, um edifício que funcionaria como miradouro, no bairro da Barreta, local onde se concentra a maior parte dos residentes estrangeiros em Olhão e onde a altura máxima das fachadas é de 6,5 metros, de acordo com o PP, que pode ser consultado no sítio de Internet da autarquia.

A viver em Olhão há 11 anos com a mulher, de ascendência francesa e britânica, Filipe Monteiro, que se mudou de Nova Iorque para a cidade algarvia, é um dos cidadãos que estão contra as alterações propostas no plano urbanístico e que defende, antes, a implementação de um plano de salvaguarda do património edificado existente.

O arquiteto discorda da criação de uma torre num dos bairros mais característicos de Olhão, onde reside. A construção está prevista para o local onde existe um edifício do século XVIII, propriedade da autarquia, Filipe Monteiro lembra que "a dois passos existe uma igreja com um miradouro", na qual se paga um euro para subir.

Olhão
Olhão créditos: simplethrill/CC 2.0

Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Olhão, António Pina, defendeu que, apesar de antigo, o edifício onde seria implantada a torre, que teria uma altura elevada para dali se poder observar a arquitetura cubista, "não tem valor arquitetónico", mas reconheceu que este projeto deve ser mais amplamente discutido.

"A Câmara Municipal reconhece que esta questão carece de uma discussão mais alargada e está disponível para encontrar mais soluções", afirmou o autarca, lembrando que se trata ainda apenas de uma proposta e que nada está decidido.

António Pina apelou ainda aos residentes do bairro da Barreta para que não fiquem "assustados" pelas "mentiras" que têm sido ditas relativamente ao plano, que, "para desmistificar o que tem sido dito", será objeto de uma apresentação pública na terça-feira.

"Há um grupo de pessoas, uns por desconhecimento e outros por questões políticas, que têm criado um cenário dantesco, de destruição, que não existe, o que só revela que não leram o plano", sublinhou.

Olhão
Olhão créditos: simplethrill/CC 2.0

Filipe Monteiro afirmou, por seu turno, que os signatários da petição pretendem que haja um plano, mas de salvaguarda, para a "proteção da autenticidade de Olhão", que é exatamente o que os turistas atualmente procuram quando viajam para outro país.

"Estamos contra um plano de reabilitação, o que devia ter sido feito era um plano de salvaguarda, mas aí teria que se propor um processo de classificação, que numa zona histórica não é um processo simples, já que tem que ser feito quase casa a casa", rematou.

Detlev von Rosen, que vive em Portugal há mais de 40 anos, é outro dos habitantes preocupados com o plano e considera que seria importante definir o que se quer dizer com reabilitação, já que esta é uma palavra que "dá para tudo".

De origem estónia, o empresário, que cresceu na Suécia, mas passou mais de metade da sua vida em Portugal, ainda recorda como era Olhão há 40 anos e teme que suceda no bairro da Barreta o que aconteceu, por exemplo, na Avenida da República.

"As casas tinham normalmente dois andares e algumas ainda outra divisão em cima, uma dimensão humana e virada para o mar, mas agora vemos lá prédios de oito andares feitos em betão, mudou completamente", observou.

O empresário, que é também signatário da petição, receia que se o plano não for bem estudado, a zona histórica da cidade fique descaracterizada e se destrua a relação com a ria Formosa.

Os signatários contestam ainda a edificação de um "grande e novo" centro cultural na cidade, a alteração das cérceas e do número de pisos dos edifícios, a remoção de calçada portuguesa e a instalação de iluminação e mobiliário urbano "impróprio".

O Plano de Pormenor para a zona histórica de Olhão identifica como objetivos imediatos a recuperação de edifícios em ruínas ou descaracterizados, a devolução do centro histórico da cidade ao peão, a criação de novos motivos de interesse para turistas e residentes e a colmatação de algumas lacunas em termos equipamentos culturais, entre outros.