Muitas vezes temos medos, dúvidas e incertezas sobre fazer ou não fazer voluntariado, o que é normal. Mas, para ajudar neste processo, existem várias ONGs a quem podes recorrer.

No meu caso, foi a Para Onde, uma associação portuguesa que trabalha com várias organizações a nível local, em diferentes países do mundo. Na Para Onde tens um apoio personalizado, tanto a nível de preparação para o projeto que vais integrar como durante todo o teu tempo de voluntariado. Independentemente da tua área, podes trabalhar a nível de educação, apoio comunitário, proteção ambiental e animal, saúde, empoderamento feminino, artes, desporto, apoio a migrantes e refugiados.

Antes de escolheres o projeto de voluntariado que queres integrar, aconselho-te a perderes um bocadinho do teu tempo a ler sobre os objetivos do projeto, aquilo que te propõem enquanto voluntário, o país para onde vais e testemunhos de outros voluntários. É super importante que estejas aberto a novos desafios e que estejas disponível para conhecer novas realidades diferentes da tua.

O voluntariado é uma experiência que nos tira completamente fora da nossa zona de conforto, é o dormir em condições às quais não estamos habituados, é o tomar banho de alguidar, é o lavar a roupa à mão. Mas também é a maneira mais pura e sincera de ajudar o outro. Não vamos mudar o mundo em um, dois meses, mas vamos contribuir para essa mudança. Vamos ser os irmãos mais velhos, vamos ser alguém em quem as crianças confiam, vamos ser o porto seguro. Vamos mostrar-lhes novas perspetivas de ver o mundo, não melhores ou piores, simplesmente diferentes. Vamos aprender a dançar e fazer tranças nos nossos cabelos. Vamos valorizar as características de cada um.

Nos últimos anos, integrei dois projetos de voluntariado com a Para Onde. Estive quatro meses em São Tomé com a Kêlê e dois meses em Bissau com a escola HBS.

Na Kêlê, tínhamos três projetos. O da roça foi sem dúvida o maior desafio e o meu preferido por ser a nossa "segunda casa". Cheguei meio que à toa e sem saber o que fazer no meio do caos de pedidos de ajuda em matemática e francês e acabei por encontrar a solução em ajudar a estudar português e geografia. Era na roça que também tirávamos um bocadinho do nosso tempo para ir limpar o lixo na praia e ainda fazíamos formações como o papel da mulher na sociedade.

O lar das irmãs por si só já era especial por acolher raparigas que vivem muito longe da escola. Aqui também ajudávamos na parte do estudo e, mais do que isso, éramos irmãs mais velhas a part time. Ouvimos os problemas, dávamos conselhos e acompanhávamos o crescimento destas miúdas.

No ATL, começávamos o dia a cantar o hino nacional e acabávamos a ensinar português e matemática ao mais pequenos. Era aqui que também recebíamos os maiores abracinhos e onde precisávamos de ter mais energia para acompanhar os mais pequenos.

Na escola HBS, todos os dias era esmagada por crianças que vinham a correr com sorrisos gigantes acompanhados pelo chocolate do pão. Na Guiné, o criolo tornou-se a língua mãe por isso o nosso trabalho era muito focado no ensinar português. Fazíamos atividades com os mais pequenos de forma a mostrar-lhes que aprender era “sabi” (fixe) e nós é que ainda acabávamos a aprender criolo. As tardes eram passadas entre filmes da Disney ou jogos do lencinho. Normalmente, também dávamos apoio à direção com gestão de matrículas ou acompanhamento do apadrinhamento. Depois do horário das aulas terminar, muitas vezes ficávamos a conversa com as mães e tias ou simplesmente fazíamos companhia aos nossos meninos até às suas casas.

Estes foram dois projetos que deram sentido à palavra “voluntariado”. Para mim o voluntariado é o contribuir para o crescimento destas crianças que, muitas vezes, sentem falta de alguém que os valorize, que lhes diga o quão bonitos são, que brinque com eles, que os oiça, que lhes fale sobre sonhos.

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