De um lado, temos o Tiago Grácio, um condutor experiente que não hesitou em alugar carro na sua primeira visita à Madeira. No outro, o Pedro Neves (da equipa do SAPO Viagens), que não está habituado a conduzir todos os dias e sabe uma coisa ou duas sobre ansiedade ao volante. Colocámos as mesmas questões aos dois viajantes sobre as suas diferentes experiências na Madeira. As respostas que nos deram podem ajudar quem esteja indeciso sobre a melhor forma de começar a explorar a ilha. Uma coisa é certa: o importante é ir!

Em que consistiu a tua mais recente viagem à Madeira? E como te descreves como condutor?

Tiago: A recente viagem à Madeira foi a minha primeira visita a esta bonita ilha. Tenho mais de 20 anos de experiência a conduzir e considero-me um condutor cauteloso.

Pedro: Já estive na Madeira duas vezes, mas só na minha última viagem de férias é que tive oportunidade para percorrer toda a ilha. Nunca conduzi diariamente e atualmente já não possuo carro. Sou o tipo de condutor que estuda a "lição" no Google Maps antes de sair de casa, para saber com o que contar e tentar gerir a ansiedade.

Como fizeste para te deslocares pela Madeira?

Tiago: Aluguei um carro com antecedência através de uma agência de viagens, mas não é essencial recorrer a uma agência. Pode ser tratado diretamente com as respetivas empresas de aluguer, com a devida antecedência ou apenas no local (por exemplo, na chegada ao aeroporto). Preferi ter logo tudo agendado e marcado aquando a minha chegada, pois fiquei alojado um pouco longe do Funchal. A nível de burocracias, existe apenas a necessidade de termos um cartão de crédito (para eventuais danos, outras situações associadas à viatura e para segurança da empresa de renting). Assinado o contrato e com chaves (para um carro novo) na mão lá fui explorar a ilha.

Pedro: Fiquei alojado no Funchal e para explorar o centro histórico e imediações não senti falta de carro. Caminhei e recorri aos transportes públicos para chegar aos pontos mais altos da cidade. Ainda pensei em explorar o resto da ilha usando autocarros regionais, mas os seus horários eram muito espaçados e implicavam uma gestão muito atenta para não ficar dependente de um táxi para o regresso. Acabei por recorrer a um serviço de visitas guiadas, marcado pela internet com alguns dias de antecedência. Escolhi fazer uma tour que se divide em dois dias, com cada dia dedicado a uma parte diferente da ilha (Oeste e Este, basicamente). Combinaram comigo um ponto de recolha perto do meu alojamento e seguimos a bordo de um pequeno autocarro com mais 8 a 10 passageiros (na maioria portugueses) e um guia (que também fez as vezes de condutor) que nos leva a conhecer os principais miradouros e pontos turísticos do circuito escolhido. Cada paragem durava 20 a 30 minutos, mais do que tempo suficiente para apreciar a paisagem e tirar algumas fotografias. Ao almoço, podíamos seguir a sugestão de restaurante do guia ou escolher qualquer outro sítio nas imediações. À volta, somos deixados no mesmo local da recolha.

Com que impressão ficaste das estradas da Madeira? Tiveste alguma situação mais complicada?

Tiago: Não achei que fossem complicadas, mas depende da perícia de cada um. Ainda assim, existiram várias situações em que alguém com menos experiência podia sentir-se mais atrapalhado. Por exemplo, encontros em estradas muito estreitas (em que parecia serem apenas de sentido único) com outros condutores locais. Por estarem muito habituados àquelas estradas e aos declives mais acentuados, passavam ao nosso lado a grande velocidade, o que me deixou por vezes um pouco nervoso, pois o carro era alugado e não queria causar nenhum dano. Acabou por não acontecer nada nesse sentido. Refiro, no entanto, que há imensos túneis, muitos mesmo. Para dar a volta à ilha perdi a conta aos túneis em que passei, enormes e com bastante fumo do escape das muitas viaturas que lá circulavam, o que não achei propriamente agradável.

Pedro: A Madeira é atravessada por túneis relativamente recentes e essa é a boa notícia. Isso faz com que, atualmente, seja possível atravessar facilmente a ilha de carro por vias rápidas iguais às que existem no continente. A maior dificuldade pode surgir na hora de alcançar pontos de interesse situados no interior da ilha (onde ficam as regiões mais altas) ou de gerir o estacionamento em ruas mais apertadas e inclinadas. Algumas das estradas antigas seguem de perto o relevo da ilha e isso implica subidas/descidas vertiginosas. A situação mais complicada que senti foi mesmo quando o nosso autocarro trocou a via rápida por uma estrada antiga até ao Cabo Girão, a oeste do Funchal. O caminho era muito inclinado e com curvas apertadas que nos davam uma ideia demasiado "tridimensional" da subida que estávamos a fazer. Admito que procurei evitar olhar algumas vezes para o abismo em volta. À chegada, a nossa guia informou-nos que podíamos ter seguido até ali pela estrada moderna...

Que sítios visitaste na ilha?

Tiago: Tentei explorar os locais mais turísticos e conhecidos da ilha, tendo feito uma volta à mesma parando nos diversos miradouros e pontos de interesse. Esta parte não é complicada, pois na maioria dos casos existem parques de estacionamento específicos e bem localizados. O mais complexo pode ser estacionar no Funchal, devido ao maior fluxo de carros aí existente. Se optarmos por estacionar nos parques pagos e cobertos, a dificuldade é reduzida, pois conseguimos deixar o carro bem estacionado sem nos preocuparmos em demasia com isso.

Pedro: A nossa visita guiada levou-nos a conhecer a ilha de uma ponta à outra. Sinto que fiquei com uma boa ideia dos diferentes cenários que formam a Madeira e que isso poderá ajudar a planear uma nova visita.

Estrada na Madeira
Um dos túneis rodoviários que atravessam a ilha da Madeira créditos: Unsplash/Ries Bosch

Como se compara a Madeira com outros sítios montanhosos onde já tenhas conduzido?

Tiago: Comparando com outros locais, ou mesmo outras ilhas (no caso dos Açores, por exemplo), achei a Madeira com mais trânsito e movimento, pelo que o grau de dificuldade foi maior. Além do tráfego, existem os grandes declives, ruas muito íngremes e com bastantes carros, em circulação ou estacionados na berma, dificultando mais a nossa passagem. Para quem não tem segurança a fazer pontos de embraiagem ou manobras ligeiramente mais complexas, pode sentir uma maior dificuldade nestas situações.

Pedro: A Madeira tem uma geografia impressionante e, arrisco a dizê-lo, sem termo de comparação óbvio com qualquer outra região no continente. Mesmo assim, se tivesse que puxar muito pelas comparações, diria que faz a experiência de conduzir até à Torre da Serra da Estrela (a partir de Manteigas) parecer uma subida suave e quase impercetível.

Que recomendações darias a alguém que esteja a pensar visitar e conduzir na Madeira?

Tiago: A recomendação que posso deixar é tratarem da reserva da viatura com alguma antecedência, antes de viajarem, para garantirem que o levantamento da mesma é mais rápido. Os locais em que senti mais dificuldade, devido ao muito movimento, foi mesmo no Funchal. De resto, é uma ilha muito acolhedora, com pontos de interesse bastante bonitos e que merecem ser visitados. Para os condutores menos experientes recomendo que conduzam com as devidas precauções, mas não precisam de ter receio de explorar a ilha por causa disso.

Pedro: Se já têm alguma experiência de condução mas estão na dúvida sobre o que vos espera numa primeira visita, experimentem explorar o Funchal a pé (existem vários autocarros rápidos que ligam o aeroporto à cidade em 15 minutos) e depois alugar carro para chegar a alguns pontos de interesse bem assinalados no litoral da ilha, usando as vias rápidas. Embora o centro histórico do Funchal seja plano, não é preciso sair da cidade para ficar com uma pequena ideia do grau de inclinação de certas estradas mais antigas. Se sentirem alguma ansiedade, também podem optar por fazer um reconhecimento inicial da nova geografia através de uma visita guiada. Isso pode ajudar-vos a decidir se querem explorar o resto da Madeira por vossa conta. Além disso, com tanto para ver, dificilmente irão precisar de repetir uma visita aos pontos mais elevados (e interiores) da ilha, pelo que a visita guiada até lá pode ser uma boa opção. Em resumo, podem conjugar estas diferentes formas de ficar a conhecer a ilha de acordo com a duração e finalidade da vossa viagem.