Passados 25 anos, Sandra ainda sente arrepios e emoção ao recordar como, passo a passo, se ergueu a Casa Nova – Country House, que hoje, partilha com os seus hóspedes.

Na altura estudava em Chaves, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Num passeio pela região, cruzou o terreno onde viria a edificar o seu grande sonho. “Ao ver aquela paisagem fantástica deu logo para imaginar, as ideias fluem-me muito”, conta.

O terreno que a havia seduzido, apresentado por Paulo Fernandes, localizava-se em S. Pedro de Veiga de Lila, em Valpaços. Não tinha nenhuma ligação à terra, mas apaixonou-se pela paisagem.

“Fiz o desenho da casa numa aula da Universidade, de Educação Visual e Tecnológica. Devia fazer outro trabalho, mas tinha um papel milimétrico à frente e não conseguia pensar em mais nada. Sabia que queria desenhar a casa e que fosse à nossa medida e de preferência tudo simétrico”, conta.

Com o desenho na mão, nem precisou de arquiteto. Com Paulo, procurou um gabinete de engenharia, de seguida um empreiteiro e deram início a um projeto de vida, que passava por viver a tempo inteiro em Valpaços. Professores do Ensino Básico, Sandra e Paulo queriam dar aulas naquele concelho transmontano, mas nunca conseguiram colocação.

“Fui colocada em Cascais, depois fui para a Madeira, mas ainda assim acompanhei passo a passo a construção da casa. Numa altura em que as viagens eram caríssimas vim de propósito para ver a construção da primeira placa, era apenas um camião a despejar betão armado, mas eu estava aqui”, recorda com emoção. “Até me arrepia, ver o retângulo a aparecer”, continua. Depois as paredes, o telhado a colocação de portas e janelas, a casa transformou-se na “primeira filha de Sandra”, que não perdeu pitada do seu crescimento.

Regressou da Madeira, foi colocada na Maia, onde até hoje mantém residência e a casa de S. Pedro de Veiga de Lila permanecia fechada. Porque Sandra e Paulo também têm gosto pela agricultura começaram a plantar vinha e olival e a componente agrícola também foi crescendo. Possuem 2,5 hectares de terreno, com uma vinha constituída por 11 castas diferentes, olival e amendoal.

Entretanto nasceu a primeira filha de Sandra, que ainda em criança, acabou por batizar a casa. “A minha filha gostava de cá vir e dizia sempre vamos à Casa Nova, era nova para ela”, recorda Sandra.

Os anos passaram e só em 20/21, com o confinamento imposto pela pandemia da COVID-19, a Casa Nova ganhou a vida que a proprietária sempre idealizara. O trabalho era online, tinha Internet na casa de Valpaços, mudou-se com filhos durante esse duro período, enquanto Paulo permanece na Maia exercendo funções enquanto segurança numa empresa particular. Ainda que, com alguns constrangimentos, foi uma fase boa para esta família por finalmente conseguir viver, ainda que temporariamente, o sonho. E foi neste tempo de confinamento, que surgiu a ideia de fazer algo mais com a Casa Nova.

“Comecei a ouvir as pessoas com queixume que não havia hotéis, locais para passar férias e eu achei que era a minha oportunidade de dizer que tinha uma casa no campo, com uma paisagem bonita onde se podia descansar, percorrer as vinhas o olival, o amendoal”. Partiu para esta nova etapa sem grandes expectativas: “Eu não tinha noção nenhuma do que é o turismo. Não tinha experiência de fazer férias nem em hotel, nem em alojamento local. Mas eu sabia bem o que queria! Queria dar a conhecer este lugar com uma paisagem tão ímpar e que propicia um bem estar psicológico. Então pensei, se conseguisse trazer cá alguém, se eu me começasse a esforçar e tentar aumentar o conhecimento nesta área, talvez fosse correr bem”.

Sem aderir a nenhuma central de reservas, sem outra forma de promover o espaço que não fosse o passa-palavra, a procura foi significativa. A proprietária, com um desejo incessante de fazer mais e melhor, deixava inquéritos aos hóspedes e pedia sugestões. A construção de uma piscina era uma das sugestões mais pertinentes e foi o que fez. Para realizar o investimento, Sandra e Paulo arregaçam mangas e cada um assume a sua função. Sandra assume o papel de anfitriã, gere as reservas, as páginas nas redes sociais, o serviço de limpeza e manutenção da casa e piscina. Paulo, também professor do Ensino Básico, integra nos quadros de uma empresa de segurança onde realiza serviços noturnos. Tudo para fazer face às despesas e alimentar e sustentar a irreverência de um sonho desafiante a quilómetros de distância da Maia.

Mais do que um alojamento, uma experiência genuinamente transmontana

A 20 de agosto de 2022, data escolhida para a inauguração da casa enquanto alojamento local, em tributo do filho mais novo, a casa passou a chamar-se Casa Nova Country House AL, uma casa de campo disponível para famílias ou grupos de amigos. A casa é alugada por inteiro, quem ali vai fica com a casa toda a dispor.

A casa é ideal para acolher entre 10 a 12  pessoas. Cada quarto recebeu o nome de uma localidade vizinha: “Deimãos”, “Santa Maria de Émeres” e “Veiga do Lila”, são os quartos principais, mas há ainda, no que poderia ser um sótão, dois quartos extra,  o mais pequeno o “Santa Comba”, que é o preferido da filha. A cozinha é ampla, completamente equipada, a sala de estar e o espaço de refeições têm vistas privilegiadas sobre a paisagem sobre a qual se construiu o sonho desta mulher aventureira.

No inverno, a lareira, faz a delícias de quem ali fica hospedado, no verão a piscina. Seja qual for a estação do ano, a paisagem é sempre arrebatadora, o conforto também faz parte e os mimos que a proprietária faz questão de deixar aos hóspedes. “Deixo sempre algumas coisas típicas da terra, folar de Valpaços, pão de centeio e  bolinhos económicos produzidos pela panificadora Moutinho, alheiras e linguiças produzidas pela Valfumeiro, Bolo Podre produzido pela Manuela de Santa Maria de Émeres. Tudo produtos característicos da região. Desta welcome drink fazem ainda parte a jeropiga, amêndoas e o azeite  produzido na casa”, refere.

Na promoção, ao passa-palavra, Sandra juntou as redes sociais e sempre que pode faz questão de estar presente em feiras e festas que acontecem no concelho de Valpaços, para dar a conhecer o seu alojamento. Também decidiu fazer parcerias com outros empresários locais, na área da restauração e da produção artesanal, e com empresas de animação turística, para arranjar atividades que sugere aos hóspedes, desde a radical ascensão da Via Ferrata, em Valpaços, com a PORTUGALNTN, à prática de canoagem no rio Rabaçal com a Gondiana Desportos, ou aos passeios tranquilos no barco solar com a Sun Cruzeiros Azibo, em Macedo de Cavaleiros.

A professora empresária aproveita as caminhadas que se fazem pelo território para conhecer com maior profundidade a região, especialmente nesta componente de natureza, as festas e manifestações culturais para acrescentar no conhecimento do ADN da região. A gastronomia, os azeites e os vinhos também fazem parte dos seus interesses, pelo que lançou a possibilidade aos hóspedes de participarem no ciclo da vindima e do azeite em formato blending. Assim, pouco a pouco, se vai transformando numa verdadeira embaixadora de Trás-os-Montes.

Passo a passo, Sandra vai-se tornando mais profissional, sem nunca perder a simpatia, a simplicidade e a atenção dispensada a cada cliente. “Existe uma expressão de um cliente que cristalizei porque espelha bem o conceito que pretendo continuar a implementar: “This country house, feel like country home”.

Agora sonha em “crescer” na área do Turismo: “Eu gosto muito de ser professora. Atualmente no local onde leciono sinto-me muito útil, o meu trabalho é reconhecido e a minha missão vai muito mais além do que ensinar um grupo de crianças com idades compreendidas entre os seis e os oito anos. No entanto, se reunir as condições necessárias, deixo o ensino e vivo só disto. Troco a Maia por Valpaços. Mudo-me para cá sem pensar duas vezes”, remata sem reservas e muito menos hesitações.