“É uma honra ser recebido com uma capa de honras e é uma honra vesti-la".
"A Capa de Honras honra quem a veste e quem é recebido com ela. Honra a criança no batizado, honra os noivos no casamento, honra os defuntos e honra também as cerimónias religiosas e as festividades ao longo de todo o ano.” A descrição é de António Rodrigues Mourinho, investigador em Miranda do Douro.
Na altura em que falei com ele vestia uma Capa de Honras e tinha acabado de falar numa Cerimónia de Exaltação das capas que decorreu na Concatedral de Miranda.
Muitas outras pessoas, nomeadamente autarcas portugueses e espanhóis, também vestiam a capa castanha de burel e decorada com aplicações recortadas.
Uma das personalidades que também partilha esta honra é o Papa que recebeu uma Capa de Honras.
Sandra Nobre foi uma das costureiras que fez a capa. Ela diz que é uma arte que exige precisão no corte – “dá muito trabalho como qualquer outra atividade e não é qualquer pessoa que faz. O desenho é sem decalque. É tudo feito a olho. A minha mãe costuma dizer que desenhamos como se fosse um pintor”.
No concelho de Miranda do Douro, há apenas duas costureiras e um alfaiate que continuam a produzir a Capa de Honras cuja origem, segundo António Mourinho, remonta aos monges beneditinos que “marcaram significativamente a economia, a cultura e a religiosidade do Baixo Douro, incluindo a Terra de Miranda que é a terra entre o Sabor e o Douro.
Por isso, esta capa é uma peça de vestuário extraordinária e única porque só existe na terra que foi de Leão e se conserva nos sitos principais que é parte da Sanábria, Aliste e na Terra de Miranda.”
Apesar da sua origem ser muito antiga, só no início do século XIX aparece referenciada com a designação de Capa de Honras, “é num acórdão da Câmara Municipal, de 18 de Dezembro de 1819 (faz agora 200 anos). É estipulado que por uma Capa de Honras bem feita à jeira custava 500 réis. Por uma Capa de Honras lisa só custava 170 réis porque esta era para gente pobre ou que a usava no campo.”
No passado, a capa lisa, sem efeitos decorativos, foi muito usada pelos pastores e também no Inverno para proteção do frio. Na atualidade é mais para uso cerimonial –“uma capa destas é muito cara, custa mais de 600 euros”.
Por outro lado, também mudou a forma como é feita. Na descrição de António Rodrigues Mourinho, “no princípio seria de pardo. O burel é um tecido mais fino.
A lã era tecida em teares manuais e não era necessário tingir porque a maior parte do gado era de ovelhas pretas. O vestuário desta região, porque era à base de lã, era predominantemente preto e castanho escuro.”
Uma das consequências da mudança da matéria prima é um alívio para o corpo. Antes uma Capa de Honras pesava mais de 15 kg enquanto agora anda próximo dos 8 kg.
Capa de Honras e da identidade mirandesa faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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