Para quem vai para o Gerês, a Ponte do Diabo, ou Ponte da Misarela - ou Mizarela - às portas do parque, é um local imperdível. A ponte de pedra sobre o Rio Rabagão, está a cerca de um quilómetro da sua foz no rio Cávado, e liga as freguesias de Ruivães, em Vieira do Minho, e Ferral, no concelho de Montalegre. A Ponte do Diabo, com 13 metros, foi erguida na Idade Média e reconstruída no início do século XIX. Reza a lenda que a ponte foi criada pelo próprio Diabo e, por isso, está envolta em mistério e fantasia, sendo local de rituais de origem pagã. Acredite-se ou não nas lendas, de uma coisa não podemos duvidar, a Ponte da Misarela é um local incrível e muito bonito. As quedas de água junto à ponte e toda a envolvência natural fazem do local um cenário encantado digno de um filme de fantasia.

Como assim, o Diabo construiu uma ponte?

Reza a lenda que um criminoso fugia da justiça quando encontrou um rio que não conseguia atravessar. Com o desespero do momento, invocou o diabo para o ajudar na travessia e, em troca, ofereceu-lhe a sua alma. O diabo aceitou e fez aparecer uma ponte que se destruiu logo depois de o criminoso atravessar.

Decorridos alguns anos, a "morte" bateu à porta do antigo criminoso. Aterrorizado, o homem pediu ajuda, mandando chamar um padre para lhe dar os últimos sacramentos e quebrar o velho pacto com o diabo. O Padre não nega ajudá-lo e dirige-se ao local onde havia existido a ponte. Como a ponte já lá não estava, o padre pede para que a ponte se forme, por Deus ou pelo Diabo.

O padre avista a silhueta do Diabo na outra margem e deitou a água benta que trazia consigo em direção à outra margem. De imediato, vê surgir uma ponte em arco, materializando a curva formada pela água sagrada lançada sobre o rio. O padre recita a ladainha do exorcismo e, com isto, o diabo foge e, até hoje, a Ponte permanece intacta.

Os rituais de fertilidade

O carácter mágico desta ponte não se fica pelas lendas que a ligam ao diabo. O local está também associado a rituais de fertilidade. Reza a lenda que as mulheres com um historial de vários abortos e que queiram ser mães devem a dirigir-se à ponte e esperar pela primeira pessoa que a atravesse depois da meia noite. Depois, devem convidá-la a apadrinhar o bebé. A pessoa deverá então derramar alguma água do rio Rabagão sobre a barriga da grávida enquanto diz as palavras sacramentais: “Eu te batizo, criatura de Deus, pelo poder de Deus e da Virgem Maria. Se fores rapaz serás Gervaz, se fores rapariga, serás Senhorinha.”

Segundo a crença, a cerimónia deve terminar com a oferta da ceia. Claro, este ritual pode ter de se repetir durante vários dias, até que se encontre o padrinho ou madrinha.

As Invasões Francesas

Deixando de lado as lendas e tradições, a ponte da Misarela teve um importante papel na história de Portugal, tendo sido palco de um combate sangrento entre as tropas francesas do exército de Napoleão e as tropas portuguesas, durante a segunda Invasão Francesa.

Em maio de 1809, o exército de Soult, instalado no Porto, estava sob ameaça de ataque iminente das tropas aliadas e decide abandonar a cidade e fugir para Espanha.

ponte do diabo
créditos: Susana Sousa Ribeiro

Como os principais itinerários estavam cortados, o exercito de Soult opta pelos caminhos sinuosos da Serra da Cabreira para chegar a Montalegre. Os invasores acabaram acossados na Ponte da Misarela, lugar onde muitos soldados franceses perderam a vida de forma trágica.

Esse facto perdura no cancioneiro popular:

“Chorai meninas de França, Chorai por vossos maridos, Na ponte da Misarela eram mais mortos que vivos!”

Como chegar à Ponte do Diabo

Para chegar a esta ponte, terá de se dirigir pela N103 a partir de Braga até Ferral. É possível estacionar o carro a poucas centenas de metros e percorrer o caminho a pé. Existem duas opções. Uma delas é seguir pela calçada romana que leva ao local. Outra, menos acessível e mais sinuosa,  é descer até à zona do rio e seguir pela margem. É possível encontrar vários caminhantes a fazer este percurso que, embora seja um pouco mais árduo do que a primeira opção, é mais curto.

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Artigo originalmente publicado no blogue A Cachopa.

Publicado originalmente a 12 de setembro de 2022.