António Cálem apostou forte no Brasil e "o negócio com este país correu tão bem" que acabou por dar um passo mais ousado, criando "uma frota própria de caravelas" para exportar os seus vinhos, recorda Ana Pereira, responsável pela comunicação do grupo espanhol Sogevinus, que detém a Cálem e a Barros, a Burmester, a Kopke e a Velhotes.
Depois de um longo período quase sem alterações, a imagem desta marca que só tem vinhos do Porto sofreu agora uma "renovação" para a transformar "referência para todo o tipo de consumidores através da capitalização da sua história, da diversidade do seu portefólio e da sua notoriedade internacional".
"A figura de António Alves Cálem, fundador da empresa, serviu de inspiração para a renovação da imagem desta casa centenária, numa simbiose entre passado e presente", explicou Ana Pereira à agência Lusa.
"A icónica caravela" mantém-se, por ser parte essencial da secular história desta marca, "a persona do fundador passa a assumir um lugar de protagonismo em toda a comunicação da Cálem", surgindo agora em alto-relevo nas garrafas, e foi adotada uma paleta cromática variada na rotulagem".
"A Cálem era toda muito preta e o próprio museu, nas caves, espelha isso. Com esta renovação, fomos buscar as nossas raízes", afirma a mesma responsável.
A velha imagem podia ser um pouco contida, mas não a ambição demonstrada por António Cálem quando decidiu, em 1859, investir também nos vinhos, ele que até aí "negociava em madeiras exóticas".
O Brasil foi o seu alvo, numa altura em que as Ilhas Britânicas eram o mercado que a maioria cobiçava, e os resultados deram-lhe razão, levando-o também a avançar para o Douro para aí comprar quintas e produzir os seus vinhos.
"O que resultou desta aposta foi que a Cálem se transformou numa marca muito virada para fora e pouco para dentro", resume Ana Pereira, acrescentando que tal "constatação teve como consequência o lançamento da submarca Velhotes, que nasceu em 1930 e é o mais jovem membro da família".
"Os vinhos do Porto Cálem Velhotes são os mais vendidos em Portugal" e surgiram em 1939 devido à necessidade de "criar uma marca doméstica com um espírito de convívio e de partilha", como sugere a reprodução do quadro presente nas suas garrafas, com três anciãos, "um advogado, um juiz e um boticário, cada um com o seu copo de vinho" .
O referido quadro é uma das "joias da coroa" do museu que a empresa instalou nas suas caves, em Gaia, e chegou à empresa nos anos 30 do século passado proveniente da Holanda, trazido por um comercial que se deslocou a este país, e é de "autor desconhecido".
Os vinhos Cálem e Velhotes representam 38% dos 40 milhões de euros que a Sogevinus fatura anualmente, segundo disse Ana Pereira, sendo de salientar que o turismo contribui já com 20% das receitas totais do grupo.
Com 250 mil visitantes por ano, as caves Cálem destacam-se por serem as mais procuradas em Portugal e a loja que nelas funciona responde por 51% das vendas do vinho da marca homónima.
"O Brasil perdeu entretanto expressão nas exportações" de vinho do Porto desta marca e foi substituído por mercados como Alemanha, Canadá, Dinamarca e Holanda, num total de cerca de 60 onde os vinhos do Porto Cálem estão presentes.
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