“É outra janela”, afirma João Fiandeiro, com orgulho, enquanto nos conduz pelo interior do Convento de Cristo, em Tomar. O especialista na história dos Templários referia-se à Janela do Capítulo, uma das mais conhecidas do país pela grandiosidade da obra de escultura que a rodeia.

Elogiada no século XIX como “a mais estupenda criação da arquitetura de todas as épocas” (Albrecht Haupt), a janela manuelina (assim chamada por ter sido encomendada por D. Manuel I), mostra-se agora ao mundo mais próxima do aspeto original que teria há 500 anos, quando foi concluída.

O restauro, no valor de um milhão de euros, durou um ano e abrangeu toda a fachada ocidental da igreja conventual do Convento de Cristo. Os trabalhos terminaram em agosto, mas o novo "visual" do elemento escultórico ainda espanta os visitantes repetentes. A própria página oficial do monumento ainda não teve tempo de atualizar os registos fotográficos da famosa janela, apresentando-a como se encontrava até agosto de 2022: enegrecida pelo tempo, com os seus adornos de pedra cobertos por fungos.

A intervenção envolveu a colocação de uma estrutura de madeira em torno do perímetro da janela de modo a evitar a exposição da pedra ao sol. Esperava-se que a ausência de luz e de humidade direta ajudassem a mitigar os microrganismos agarrados à superfície da escultura, sem necessidade de recorrer a produtos biocidas. Durante a ação de conservação, os visitantes ficaram limitados a ver uma enorme fotografia da Janela impressa em tela e erguida sobre a fachada.

Janela do Capítulo
A intervenção envolveu tapar o perímetro da janela à luz solar para libertar os microorganismos presos à pedra créditos: Pedro Neves

A Janela deve o seu nome ao facto de estar instalada na sacristia conhecida por "Casa do Capítulo" e é considerada o expoente máximo do estilo manuelino, caraterizado pela referência à esfera armilar (a divisa do D. Manuel I) e a elementos naturalistas, alguns dos quais marítimos. O desenho da monumental escultura é atribuído ao mestre arquiteto Diogo de Arruda e considera-se que alude à Árvore de Jessé (representação artística da árvore genealógica de Jesus Cristo a partir de Jessé) e ao programa "imperial" de D. Manuel e da Ordem de Cristo.

Um dos maiores monumentos do país

A Janela do Capítulo é uma obra associada à era dos Descobrimentos, mas João Fiandeiro é rápido a acrescentar que o Convento de Cristo “é muito mais do que isso”. Para o guia, o monumento nacional “é uma aula de História tremenda”, devido às sucessivas ampliações que lhe foram feitas ao longo dos séculos por vários monarcas, de D. Manuel I a D. João III e Filipe II de Espanha.

O conjunto arquitetónico é um dos maiores do país (com 45 hectares de área total, 5 dos quais ocupados por edifícios) e inclui o castelo, surgido em 1160 com a fundação de Tomar pelos Templários, a espetacular Charola templária e igreja manuelina adjacente e o convento renascentista da Ordem de Cristo.

Charola do Convento de Cristo
A impressionante Charola onde os Cavaleiros Templários realizavam as suas cerimónias religiosas créditos: Pedro Neves

João Fiandeiro destaca ainda que o Castelo Templário foi um “ponto fundamental da peregrinação” até Santiago de Compostela, pelo Caminho Português, devido à defesa e hospitalidade garantida pela Ordem dos Templários. Assim o testemunham a antiga hospedaria instalada no local e a Calçada de Santiago, que ainda hoje liga o centro de Tomar a uma das portas do Convento (precisamente, a Porta de Santiago).

O Convento de Cristo foi classificado em 1983 pela UNESCO como Património da Humanidade e faz parte dos monumentos que podem ser visitados gratuitamente aos domingos e feriados por cidadãos residentes em território nacional.

O SAPO Viagens visitou o Convento de Cristo a convite do Turismo Centro de Portugal.