A Casa dos Gessos do Museu Militar de Lisboa guarda o molde, em tamanho real, de uma das maiores estátuas do país, a imagem do rei D. José I, cuja versão em bronze está no Terreiro do Paço.

Com seis metros de altura, o molde desenhado por Machado de Castro no século XVIII continua intacto e preservado num edifício junto ao Panteão Nacional, ao cuidado do Exército português.

“Machado de Castro fez aquele molde em gesso que depois foi coberto com uma camada argilosa, o contramolde, que foi cheio com bronze para fundir a estátua que temos hoje no Terreiro do Paço”, afirmou à Lusa o diretor do Museu Militar de Lisboa, Luís Albuquerque.

Numa visita guiada à casa, ‘escondida’ perto de uma antiga fundição do arsenal do Exército, o diretor explicou que as 12 peças expostas “é que são as obras dos artistas”, os originais nos quais eles trabalharam diretamente.

“Aquilo que o artista faz é aquele molde em gesso que depois, então, é fundido em bronze”, salientou.

A acompanhar D. José I estão figuras como Afonso de Albuquerque, Sousa Martins ou Manuel Fernandes Tomás.

As versões em bronze das 12 estátuas expostas podem ser vistas na capital na Praça do Império, no Campo Mártires da Pátria ou nos Restauradores, mas também em Santarém, na Figueira da Foz, em Viseu, em Coimbra ou em Aveiro.

Quanto à estátua de D. José I, o molde permanece naquele local há quase 250 anos, tendo a casa sido construída em seu redor.

Já a versão em bronze, que ganhou vida na fundição do arsenal pelas mãos do general Bartolomeu da Costa, precisou de quatro dias e de maquinaria especial para ser levada até ao local onde é possível vê-la ainda hoje, a contemplar o rio.

A plataforma que a transportou “foi puxada unicamente por pessoas, dado que a imagem do rei absoluto não podia ser transportada por bestas”, precisou Luís Albuquerque, acrescentando que a manobra levou à demolição das Portas da Cruz para que a estátua de seis metros de altura e mais de 20 toneladas pudesse passar.

Também a atual Rua do Museu de Artilharia foi aterrada e criada nessa altura, para facilitar a passagem.

Apesar de ser considerada uma das obras mais bem executadas daquele período, ‘reza a lenda’ que o rei não pousou para a estátua e que a rainha não gostou do resultado final, pois considerou não ser semelhante às feições do monarca.

Já para as dimensões do cavalo, o escultor usou como referência o “Gentil”, um dos melhores equídeos do reino, esclareceu o responsável.

O diretor do museu afirma que anualmente a Casa dos Gessos não chega às mil visitas por ano, devido, sobretudo, à escassa divulgação.

Luís Albuquerque explicou que “o edifício está muito bem concebido, é um edifício pombalino, em que se consegue que haja alguma estabilidade quer em termos de humidade, quer em termos de temperatura, mesmo naturalmente, o que é o ideal”.

Para além de “alguma pequena limpeza ao pó” do espólio, o Museu Militar está a estudar, com a Faculdade de Belas Artes de Lisboa, uma parceria com vista ao restauro “de algumas das estátuas que começam a apresentar algumas fissuras e algumas outras pequenas deficiências”.

Luís Albuquerque recusa, porém, a possibilidade da mudança de instalações das peças, referindo que ali “elas estão perfeitamente aclimatadas e a tentativa de as tirar certamente seria desastrosa” e provocaria danos.