"Inclui a vivência da pesca tradicional, trazer o pescado fresco consigo, o passeio e ainda muitas vezes ver golfinhos ou, com sorte, cachalotes. É o pacote completo", salientou, em declarações à Lusa, Sara Silveira, presidente da Associação de Mulheres dos Pescadores e Armadores de São Mateus (AMPA), que coordena o projeto.

Durante três a quatro horas, os turistas colocam-se na pele dos pescadores e não se limitam a observar, experimentando as artes artesanais, como a pesca à linha ou a pesca de salto e vara.

No final, cada turista pode levar para casa dois quilogramas de peixe fresco ou comer meio quilo de peixe já confecionado num restaurante situado no Porto de São Mateus. O restante peixe capturado é entregue na lota, como em qualquer outra saída para o mar, até porque, tirando a inexperiência dos novos tripulantes, a pescaria é igual.

Este ano, há duas embarcações no Porto de São Mateus a fazer pesca turismo, com o apoio da Associação de Mulheres de Pescadores e Armadores, mas quando o projeto arrancou foi difícil convencer os pescadores das mais-valias que poderia trazer.

"No início tivemos muita dificuldade e eles não quiseram aderir de maneira nenhuma. Foi um armador que tinha duas embarcações que iniciou o projeto, indo ele próprio com o filho à pesca turismo", lembrou Sara Silveira.

Passados cinco anos, a presidente da associação acredita que os pescadores "já começam a ver o projeto com outros olhos" e, este ano, houve até um armador que por sua iniciativa decidiu iniciar a pesca turismo.

"Eu gosto de passear com os turistas", adiantou Carlos Cassis, de 36 anos, que tem uma embarcação própria desde os 17, mas aos nove já ia à pesca com o pai.

Foi a bordo do barco "Cassis" que três jovens da ilha Terceira tiveram a experiência, no âmbito de um seminário sobre desafios do turismo jovem, organizado pela associação AJITER, que decorreu em São Mateus.

Durante cerca de duas horas no mar, o peixe não mordeu o isco, mas a experiência foi enriquecedora, segundo Rui Rocha. "Experienciámos a vida deles. O senhor Carlos preparou-nos o equipamento, explicou-nos como é que se fazia e ficámos à espera do peixe, mas o peixe não quis nada connosco", frisou.

Ainda assim, os jovens garantiram que valeu a pena pelo passeio de barco do Porto de São Mateus à baía de Angra do Heroísmo e pela oportunidade de conhecerem melhor a profissão. "É uma vida um bocado paciente. Eles perdem muito tempo, não é só deitar o isco ao mar", salientou Pedro Pacheco.

Carlos Cassis está já habituado à imprevisibilidade do mar, mas diz que os turistas, normalmente, sabem que esta atividade requer paciência. "Fui dois dias para o mar. No primeiro dia só apanhei cinco peixes e fiz a pescaria no segundo dia. Tem de se ter um bocadinho de paciência, porque a gente é que tem de esperar pelo peixe, não é o peixe pela gente", explicou.