A Cidade Proibida é hoje o “Palácio Museu” e continua a ser um lugar apaixonante e uma fonte quase inesgotável de prazer para um turista que conheça razoavelmente a história chinesa. Neste texto apresentamos algumas curiosidades da sua longa história, confiantes de que elas vão aguçar o seu apetite em conhecer esse lugar fantástico.

14 anos, 200 mil homens e caminhos artificiais de gelo

A construção da Cidade Proibida demorou 14 anos e ficou concluída em 1420. Foi mandada construir pelo Imperador Yongle, da dinastia Ming. Acredita-se que foram precisos mais de 200 mil homens para concluir a obra. A empreitada requereu uma logística complexa, porque foi necessário transportar a madeira da Província de Sichuan e a pedra de uma pedreira que ficava a cerca de 70 quilómetros de distância. De facto, a pedra foi trazida através de uma habilidosa técnica, o que implicou criar um caminho artificial de gelo durante o inverno para facilitar a passagem dos trenós carregados com a matéria-prima.

Nenhum detalhe é fruto do acaso

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Cada detalhe foi pensado para fazer sentido na complexa mitologia projetada para este sítio que sumariava o conjunto da vida política e religiosa da China. Por exemplo, crê-se que a Cidade Proibida tinha 9.999 assoalhadas, uma a menos que o imperador celestial tinha no seu Palácio Celestial.

Cada detalhe, incluindo a cor e o design dos azulejos, ou o número e o tipo das esculturas usadas foi planeado e executado para ilustrar hierarquias e valores dentro da corte imperial. Repare-se, por exemplo, nas Pontes das Águas Douradas que estão no Pátio Exterior, perto do Portão do Meridiano: a ponte do meio era conhecida como Yuluqiao (Ponte do Caminho Imperial) era usada apenas pelo Imperador, enquanto as pontes de cada lado eram para a família imperial e as duas pontes exteriores serviam para os oficiais militares e funcionários do governo.

Cidade Proibida
créditos: Andreas Jancso | Dreamstime.com

A Cidade Proibida era habitada sobretudo por eunucos

Quando a dinastia Ming caiu, em 1644, havia cerca de 100 mil eunucos em Pequim. Na prática, eles controlavam o Palácio e muitos eram ricos. Os eunucos tinham muitas funções: tratavam da comida do imperador e das suas necessidades diárias, transmitiam éditos imperiais, alimentavam os vários animais do complexo, tratavam da burocracia imperial, ou até trabalhavam na prevenção de incêndios.

Era um sítio perigoso para viver

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Execuções por traição ou desobediência eram comuns na altura e, de facto, havia muitos crimes cometidos por guardas, concubinas e servos por razões de ciúme ou honra. Há muitas lembranças disso no complexo. Um desses sítios é o Poço da Concubina Zhen, concubina do imperador Guangxu, no tempo em que quem mandava realmente na China era a Imperatriz Dowager Cixi. No ano de 1900 uma coligação de oito países atacou Pequim e a família real fugiu para a cidade de Xian. A imperatriz Cixi mandou os eunucos atirar Zhen para um estreito poço (que podemos ver ainda hoje) e colocar uma pesada pedra por cima. O corpo dela ficou lá por mais de um ano.

Algumas festas acabavam mal

Os imperadores eram senhores absolutos e as suas mudanças de humor podiam ser perigosas para quem estava perto deles. Em 1644, quando a dinastia Ming enfrentava revoltas internas e uma invasão Manchu, o imperador Chongzhen organizou uma festa para a sua família no Palácio da Pureza Celestial. Num acesso de ira, ele matou a maioria dos presentes, incluindo as suas concubinas. Depois disso, Chongzhen foi para o parque Jin Shan, a norte da Cidade Proibida e enforcou-se.

Os incêndios eram muito comuns

Os edifícios da Cidade Proibida têm bastante madeira. Como tal, são vulneráveis a incêndios e os registos históricos sugerem que existiram mais de 50. Havia várias medidas de prevenção e até mesmo corpos de bombeiros. Por exemplo, o Departamento Jitong era um corpo com 200 bombeiros preparados para guardar os livros arquivados no Salão do Valor Marcial.

Uma burocracia complexo

A gestão de uma autêntica “cidade dentro da cidade” requeria um grande número de escritórios e pessoal. De acordo com a autobiografia do último imperador chinês, Pu-Yi, o departamento que administrava os assuntos domésticos do imperador tinha 7 gabinetes e 48 escritórios sob a sua alçada. Muitos deles tinham funções triviais. Por exemplo, havia um escritório chamado 'Seja assim como desejar', cujo único objectivo “era pintar quadros e desenhar caligrafia para a Imperatriz Dowager e as Altas Consortes; se a Dowager quisesse pintar alguma coisa, quem trabalhava no escritório 'Seja assim como desejar' desenhava os contornos para ela, de maneira que ela só tinha de pintar e colocar um título.”

Cidade proibida
créditos: Pixattitude | Dreamstime.com

As refeições eram levadas muito a sério

O serviço de refeições, citando mais uma vez o imperador Pu-Yi, requeria uma procissão que partia da Sala dos Mantimentos, que fazia lembrar uma “procissão de casamento que costumava levar o enxoval de uma noiva à casa do seu noivo. Ela consistia em cerca de 100 eunucos de libré. Eles levariam cerca de sete mesas de jantar de vários tamanhos e dezenas de caixas vermelhas lacadas".

Há uma Cidade Proibida dentro da Cidade Proibida

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Enquanto envelhecia, o Imperador Qianlong considerou abdicar do trono a favor do seu herdeiro e, em 1771, ordenou a construção de uma residência para o servir durante a aposentação. Isso resultou no Palácio da Longevidade Tranquila, também conhecido como o Jardim de Qianlong.

Algumas pessoas acham que ela está assombrada

Muitos acham que a Cidade Proibida é um sítio assombrado. Na década de 1940 o Palácio Imperial foi submetido a um profundo processo de renovação, com o objetivo de o converter num museu e várias histórias vieram a lume nessa altura: parece que os guardas que faziam a segurança da zona, costumavam ver estranhos animais a correr por lá. Mas houve ainda outros avistamentos: uma mulher foi vista a chorar nos quartos das concubinas, houve quem se assustasse com uma mulher de vestido preto sem cara, ou com fantasmas de eunucos. Alguns dizem que é por causa destas coisas que a Cidade Proibida nunca fica aberta até muito tarde!

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