Imersa na vegetação tropical e a uma altitude de 930 metros, Hell-Bourg é um tesouro precioso, escondido no oceano Índico. É uma aldeia longe de tudo onde não há engarrafamentos, barulho ou confusão.

É impossível não sucumbir à sua beleza intemporal assim como ao espetáculo avassalador da natureza do Cirque de Salazie — uma das grandes depressões erosivas da Ilha da Reunião — onde Hell-Bourg se aninha. 

O verde exuberante destaca-se por entre cascatas, fontes cristalinas, casas de arquitetura colonial, quilómetros de trilhos pedestres, orquídeas selvagens e cinco imponentes picos a espreitar pela neblina, incluindo o famoso Piton des Neiges com 3,071 m.  

Os habitantes "dos Altos", como são chamadas as micro-comunidades instaladas nos vales e nos planaltos do interior da Reunião, cultivam uma relação direta com a terra e na verdade são eles que guardam a essência da ilha, a sua alma e espírito.

Apesar de “Hell”, lembrar o inglês “inferno”, o seu nome nada tem a ver com este lugar, que na realidade parece um paraíso. Na sua origem está uma homenagem à antiga governadora da ilha — Anne Chrétien Louis de Hell.

A história

A história de Hell-Bourg tem quase duzentos anos. Começou em 1832 quando dois caçadores que perseguiam uma cabra selvagem pelos trilhos da  montanha, se depararam com uma fonte termal e resolveram investir na hidroterapia. 

Nasceu um balneário, depois um hotel, um casino, outras casas que compõe a bela vila crioula e rapidamente o lugar ganhou fama. Cientistas atestaram as virtudes das águas de Hell-Bourg, comparando-as até ​​às de Vichy e ajudaram a atrair quem procurava ajuda no tratamento de dores articulares, eczemas, sistema arterial, e outros achaques. 

Infelizmente, ao fim de pouco mais de um século, o caudal da água começou a secar, a estação balnear rival de Cilaos ganha relevância e as infra-estruturas termais de Hell-Bourg deterioram-se. Finalmente, um ciclone em 1948 cimenta o destino da aldeia. Destrói tudo no seu caminho e quando o vento acalma, o acesso às nascentes fica totalmente bloqueado. Uma tentativa de limpar o acesso com explosivos falha e torna a situação pior, impossibilitando a remoção dos destroços.

Terminados os dias de glória com o encerramento das Termas, restou a bonita aldeia com casarios de traça colonial — “as casas da mudança de ares", como lhes chamavam os colonos do século XIX, que ainda hoje encantam os visitantes.

Hell-Bourg Ilha da Reunião
créditos: Travellight e H. Borges

As atrações 

As mais belas destas moradias crioulas podem ser encontradas ao longo de um percurso bem sinalizado de Hell-Bourg: a Maison Folio, ainda habitada pela família dos Moranges que abriga um interessante museu de instrumentos musicais, a casa Fonlupt, a villa Lucilly e várias outras com fachadas de madeira pintadas, ora com cores vivas, ora com cores suaves. Tem janelas trabalhadas e algumas, um jardim. 

No centro da aldeia, frente à Igreja e ao antigo Hotel Ville Salazie (onde hoje funciona a Câmara Municipal) existe uma belíssima fonte e muito perto fica um jardim com uma magnifica estátua que segura na mão direita um ramo de oliveira e no braço esquerdo um escudo. É a perfeita representação do ditado: “quem quer a paz tem de se preparar para a guerra. Feita em bronze, tem 3,20 m de altura, é obra do escultor Carlos Sarrabezolles e data de 1930. O seu nome? “A Alma da França”. 

Este monumento que celebra o heroísmo dos soldados da ilha da Reunião que combateram durante a Primeira Guerra Mundial tem também ela uma história heróica: primeiro foi vítima do padre de Hell-Bourg que a derrubou no chão por considerar imoral os seus seios desnudados. Depois foi o ciclone de 1948 que a atirou para o fundo de um jardim. Esquecida por muitos anos, foi por fim encontrada, restaurada e agora serve como símbolo da aldeia.

Hell-Bourg Ilha da Reunião
créditos: Travellight e H. Borges

Um antigo coreto, funciona como miradouro e dá uma bela perspetiva de Hell-Bourg. Já a pequena zona comercial está repleta de lojinhas com apetitosa fruta fresca e coloridas lembranças da Ilha da Reunião.

Explorando mais a aldeia, entre a neblina e as antigas casas, descobrimos ainda fantásticos túneis  formados por enormes bambus, que aumentam a sensação de estarmos a percorrer um lugar mágico.

Hell-Bourg Ilha da Reunião
créditos: Travellight e H. Borges

Para mais inspiração e ideias para passeios, férias e fins de semana em Portugal e em todo o mundo, espreitem o The Travellight World e minha página de Instagram