Com que idade se tem uma primeira melhor amiga? Imagino que não haja uma idade certa, dependerá, talvez, do momento em que o coração está pronto para receber mais gente – para lá dos que estiveram sempre presentes, desde o primeiro dia.

- Mia, a Froya foi a tua primeira melhor amiga, conheceste-a no Bornéu:  tu tinhas pouco mais de dois anos e ela tinha cinco. Vivemos todos juntos, numa casa de madeira, erguida sobre estacas, assentes na terra, no meio da selva.

Ela ensinou-te a fazer bolas de sabão, quando tu mal conseguias controlar o sopro de ar. Ensinou-te a enxotar as galinhas, que teimavam em seguir-vos. E juntas analisaram – olhos bem abertos – um escaravelho.

Primeira Melhor amiga  - Bornéu
créditos: Menina Mundo

Foi a primeira vez que caminhaste de mão dada, sem que a outra mão fosse a minha ou a do papá. Viajaram de barco vezes sem conta, pelas águas do rio Sarawak. Estavam as duas nessa caminhada de 5 horas selva adentro e juntas lançaram pedras ao rio, na pausa de almoço.

Visitaram a aldeia onde ela nasceu, nesse dia levavam uma saia igual onde cabiam todas as cores (tu tinhas trazido duas do Vietname e quiseste partilhar uma com a Froya) e nas cabeças apenas a cor distinguia os travessões que vos enfeitavam os cabelos.

Num dia de chuva calçaste as suas galochas, eram grandes e tu caminhavas de forma cuidadosa, para não tropeçar e foi assim que esperaste que a Froya chegasse da escola, para brincarem.

Primeira Melhor amiga  - Bornéu
créditos: Menina Mundo

Ás vezes a Froya vinha zangada, não queria brincar, não te queria perto e tu chamavas:

- Froya, Froya.

Tentávamos explicar-te que a Froya podia estar cansada, que o dia podia não ter corrido bem, mas tu não entendias nada dessas coisas. Esperavas e ias brincando connosco, com o gato. Esperavas. E, às vezes, a Froya chamava-te de volta, ou aparecia:

- Mia, Mia.

E tu – feliz – sorrias e dizias:

 - É a Froya, ela já quer brincar com a Mia. Ela é a minha amiga.


Este artigo foi originalmente publicado em Menina Mundo.