Em Luang Prabang, capital turística do Laos, o fluxo de visitantes afeta a tranquilidade da cidade, onde monges budistas começam a pedir esmolas nas ruas lotadas assim que o sol nasce.

"Não havia ninguém na rua quando nos levantávamos, mas agora parece uma inundação humana", diz Shi Qii, um turista de 30 anos que veio da China.

Na lista de património mundial da Unesco desde 1995, Luang Prabang destaca-se pelos seus altos pagodes amplamente decorados, testemunho do passado da antiga capital.

Luang Prabang
Uma mulher a oferecer comida e esmola a monges budistas numa das ruas de Luang Prabang, em 28 de janeiro, 2024 créditos: AFP/Tang Chhin Sothy

A cidade histórica, que tem menos de 25 mil habitantes, atraiu cerca de 800 mil visitantes durante os primeiros nove meses de 2023, segundo os últimos dados divulgados pela agência estatal de notícias.

A província de Luang Prabang aposta em atrair três milhões de turistas em 2024, ou seja, grande parte dos 4,6 milhões de visitantes esperados este ano no país, que espera obter receitas de 712 milhões de dólares (662 milhões de euros), segundo a imprensa oficial.

O turismo, impulsionado pela recente construção de comboios de alta velocidade, é uma das poucas fontes de moeda estrangeira para uma economia que está moribunda desde a pandemia, a par da inflação e da enorme dívida com a China.

Mas em Luang Prabang, o fluxo de curiosos é acompanhado por perturbações que afetam a serenidade da cidade adormecida numa curva do rio Mekong.

Investimento chinês

Todas as manhãs, monges vestidos com túnicas laranjas caminham pelas ruas para recolher dinheiro dos habitantes, um costume colorido que gera milhares de fotos todos os dias.

Os moradores queixam-se que a procissão, típica dos países budistas do Sudeste Asiático, se transformou numa sessão fotográfica.

Luang Prabang
Turistas a assistirem ao pôr do sol a bordo de barcos ao longo do rio Mekong, em Luang Prabang, em 31 de janeiro, 2024 créditos: AFP/Tang Chhin Sothy

"Tiram fotos ao invés de comprar alguma coisa para oferecer aos monges", lamenta uma comerciante de 30 anos, que vende cestos de oferendas contendo arroz glutinoso por 50 mil kips (2 euros).

Todavia, "se não houver turistas suficientes, perdemos dinheiro", reconhece a comerciante, que não quis dar o nome. Falar com a imprensa estrangeira é considerado perigoso no país, onde o poder comunista exerce um controlo quase total dos média.

O governo do Laos está empenhado no desenvolvimento da linha ferroviária de alta velocidade, que desde 2021 liga a capital Vientiane à fronteira chinesa, através de Luang Prabang, para tentar abrir este país montanhoso sem saída para o mar.

A nova estação de Luang Prabang fica a cerca de 30 minutos do centro pela estrada. Tem uma inscrição em laosiano e mandarim, o que lembra que a China financiou grande parte dos 6 mil milhões de dólares (5,5 mil milhões de euros) para construir a linha.

Os especialistas saudaram o potencial económico oferecido por esta primeira ferrovia no Laos, mas também fazem notar os riscos que esta nova dívida representa para a modesta economia do país.

Moradores ouvidos pela AFP destacaram que as receitas geradas pelo comboio chinês são distribuídas de forma desigual.

E os passeios de barco pelo rio Mekong ao pôr do sol têm se transformado cada vez mais em cruzeiros de karaoke. "O estilo mudou", reconhece o proprietário de três barcos. "Isso destruiu a tranquilidade".