Odemira, o maior concelho do país, é um destino procurado por milhares de pessoas que aproveitam o verão para relaxar e estender as toalhas nos areais das praias da costa alentejana.

Contudo, essa sazonalidade da procura, que caracteriza o turismo de "sol e mar", não garante a sustentabilidade e estabilidade das empresas do setor ao longo de todo o ano.

A aposta no turismo de natureza, aproveitando os recursos naturais do território do concelho, entre a costa e o interior, foi a forma encontrada por atores públicos e privados para diversificar a oferta turística disponível e, simultaneamente, conquistar mais visitantes fora da época alta.

"O ‘sol e mar' é um produto associado a alguns meses do ano e, portanto, há necessidade, com a profissionalização do setor do turismo, de aumentar a época de atração para os turistas e tivemos de ir à procura de outros produtos", explica à agência Lusa Ricardo Cardoso, vereador com o pelouro do Desenvolvimento Económico no município de Odemira.

E "não foi difícil encontrar" uma resposta, revela. "Em Odemira existe, de facto, um território de natureza com valores que são inigualáveis e diferenciados e, por isso, apostámos no turismo de natureza, baseado principalmente na aventura, no desporto e no turismo ativo e isso dá cada vez mais os seus frutos", assegura.

Passeios de barco no mar e no rio Sado, pesca desportiva na costa ou no interior, na barragem de Santa Clara, caminhadas, passeios de BTT, canoagem e surf são exemplos de atividades que podem ser aproveitadas no verão, mas também noutras alturas do ano em Odemira, onde o número de empresas que promove este tipo de animação turística tem vindo a crescer.

"Antigamente, [este tipo de empresas] praticamente não existia, mas, neste momento, só em Odemira existe um terço da oferta de empresas de animação turística de todo o Alentejo", exemplifica o autarca, contabilizando 18 empresas do género localmente.

O número de camas em alojamento em espaço rural tem também vindo a aumentar, principalmente nos últimos anos, sendo Odemira atualmente, segundo a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e do Ribatejo, o concelho do país com mais estabelecimentos do género.

"Só nos últimos três anos, passámos de cerca de 40 alojamentos em espaço rural para 60", destaca Ricardo Cardoso.

No final dos anos 1990, segundo recorda António Camilo, que presidiu ao município entre 1998 e 2009, "havia apenas dois ou três" estabelecimentos hoteleiros deste tipo no concelho.

"A sazonalidade era o problema desses turismos [estabelecimentos], regra geral, pequenos negócios de família", cujos rendimentos de verão nem sempre eram suficientes "para suprir as despesas da época baixa", um constrangimento que o ex-autarca acredita estar a começar a ser atenuado, com o fomento do turismo de natureza e com projetos como, por exemplo, a Rota Vicentina.

Inaugurada em 2012, a Rota Vicentina é um percurso pedestre, com cerca de 400 quilómetros, que atravessa, desde 2012, vários concelhos do sudoeste do país, entre Santiago do Cacém, no Alentejo, e Vila do Bispo, no Algarve.

Criado pela associação Casas Brancas, formada por pequenas empresas de turismo da Costa Alentejana e Vicentina, o projeto está sediado em Odemira e conta com a parceria do município, bem como das autarquias do território que percorre e das entidades regionais de turismo.

O presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e do Ribatejo, António Ceia da Silva, aponta esta parceria como "um exemplo" da aposta concertada entre entidades públicas e privadas para o desenvolvimento estratégico da atividade turística.

Onde antes havia "uma sazonalidade extrema, muito concentrada no verão, hoje há taxas de ocupação" entre os meses de fevereiro e novembro, "o que significa que se alterou claramente o paradigma ao nível das dinâmicas de turismo", exemplifica.

É intenção do município de Odemira continuar a apostar no turismo de natureza, assegura Ricardo Cardoso. Exemplo disso é o atual processo de "candidatura conjunta" entre a autarquia e a associação Rota Vicentina a fundos comunitários, no âmbito do Portugal 2020, para "criar 1.200 quilómetros de percursos cicláveis" no concelho.

Caso a candidatura seja aprovada, o projeto, orçado em "cerca de 500 mil euros", deverá ser implementado entre 2017 e 2018.

A principal atividade económica do concelho de Odemira continua a ser a agropecuária. No entanto, o turismo "tem crescido cada vez mais", destaca Ricardo Cardoso, revelando que, em época alta, o setor já proporciona emprego a cerca de "três a quatro mil pessoas" em "estabelecimentos hoteleiros, restauração e empresas de animação turística".