A confirmação da realização de voos de baixo custo para a ilha Terceira foi feita pela Ryanair, numa conferência de imprensa, em setembro, depois de nos últimos dois anos vários políticos e governantes o terem anunciado sem que se tivesse concretizado.

Segundo o diretor de rotas da Ryanair, Niall O’Connor, a operação para a ilha Terceira permitirá o transporte de 100.000 passageiros por ano.

O novo modelo de transporte aéreo entre os Açores e o continente português, que contempla a liberalização das rotas das ilhas de São Miguel e Terceira, entrou em vigor a 29 de março de 2015.

Nessa altura iniciaram-se operações de baixo custo para São Miguel, com as companhias aéreas Ryanair e easyJet, mas as ligações à ilha Terceira continuaram a ser asseguradas apenas pelas companhias portuguesas SATA e TAP.

Em setembro de 2015, o presidente executivo da Ryanair, Michael O’Leary, revelou que a companhia aérea tinha apresentado uma proposta para voar para a ilha Terceira, mas que tinha sido recusada pelo Governo da República, sem qualquer explicação.

Já este ano, em abril, o atual primeiro-ministro, António Costa, anunciou, na ilha Terceira, um financiamento por parte do fundo nacional do turismo, para iniciativas de promoção da ilha da Terceira e melhoria da oferta de transporte, que incluía duas novas rotas low cost para Lisboa e Porto.

Reservas online de alojamento na Terceira aumentam em 500%

O anúncio do arranque da operação de voos de baixo custo para a Terceira provocou um aumento de reservas de alojamento na Internet de cerca de 500%, segundo a Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH).

“Tivemos informações do Booking (site de reservas de alojamento) com aumentos de 500% no número de reservas online, o que é bastante positivo para a ilha Terceira”, adiantou, em declarações à Lusa, o presidente da CCAH, Sandro Paim.

A chegada dos voos low cost à ilha é encarada com expectativas elevadas pelos empresários, não só pelos preços baixos, mas pela visibilidade que estas companhias dão.

“Já se começa a sentir a maior notoriedade que a Terceira e os Açores têm nesses canais de distribuição. Isso é muito positivo e vai-se cada vez mais começar a sentir quando a operação efetivamente começar”, salientou Sandro Paim.

Mesmo sem voos “low cost”, a Terceira registou crescimentos significativos no número de dormidas, no último ano.

Entre janeiro e abril, por exemplo, as dormidas na hotelaria tradicional cresceram 164%, em comparação com o período homólogo.

A Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo não espera, por isso, grandes oscilações com os voos low cost, mas que a ocupação hoteleira se mantenha elevada.

“Acreditamos que vamos começar a estabilizar, ainda com crescimentos entre os 10 e os 20%, o que é bastante positivo para o setor do turismo. O que é importante é qualificar, para que as pessoas que vêm agora voltem mais tarde, se não para esta ilha, para outra ilha”, frisou.

A associação empresarial promoveu, em colaboração com as autarquias da ilha Terceira, ações de formação para os empresários do setor e a adesão foi “muito positiva”.

Segundo o presidente da CCAH, o objetivo foi não só melhorar a qualidade dos serviços prestados no turismo, mas adaptar as empresas aos turistas que viajam em low cost, que normalmente adquirem diretamente os serviços.

“É uma tipologia diferente, que obriga a que os hotéis e as empresas de animação estejam preparados para esta nova realidade, nomeadamente inovando nos seus sites e inovando na sua forma de captar o fluxo turístico que chega à região”, explicou o presidente da CCAH.

Para o presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Roberto Monteiro, os voos de baixo custo representam um “grande desafio”, tanto para as entidades públicas, como para os privados, porque, em termos teóricos, significam a presença de “mais mil pessoas em permanência”, que deixam rendimento na ilha.

“Temos a obrigação de prestar bons serviços, de integrar e articular a oferta de tudo, seja privado, seja público, seja num concelho ou noutro, de forma a que as pessoas tenham sempre que fazer, independentemente das condições meteorológicas, que tenham oferta permanente”, defendeu o autarca.

Também Guido Teles, vereador da autarquia de Angra do Heroísmo, realçou a importância da aposta na qualificação da oferta turística e o impacto que a possível deslocação à ilha de 100 mil passageiros por ano em voos low cost terá na economia local.

Segundo o vereador, muitos turistas estão a procurar alojamento local ou unidades de turismo rural, contrariando a ideia de que têm intenção de gastar pouco dinheiro na ilha.

“São turistas que aproveitam o facto de existirem voos mais baratos e de existirem alojamentos que têm maior privacidade e conforto para depois, muitos deles, à partida poderem ter mais recursos para gastar no destino”, declarou Guido Teles.

Mais de um quarto dos passageiros para Ponta Delgada viajaram em low cost este ano

Mais de um quarto dos quase 650 mil passageiros que este ano desembarcaram no aeroporto de Ponta Delgada viajaram em voos de baixo custo, segundo informação da ANA – Aeroportos de Portugal.

De acordo com a ANA, empresa que gere o único aeroporto da ilha de São Miguel, para onde em março de 2015 começaram a voar as companhias Ryanair e easyJet, dos passageiros desembarcados no aeroporto João Paulo II entre janeiro e outubro deste ano 28% eram provenientes de voos low cost.

Dados da Secretaria Regional dos Transportes e Obras Públicas dos Açores indicam que, neste período, foram 643.490 passageiros que chegaram a Ponta Delgada, mais 55% que no período homólogo de 2014 (414.481). Em 2015, o número de passageiros ultrapassou meio milhão.

O secretário regional dos Transportes e Obras Públicas, Vítor Fraga, disse à agência Lusa que a operação das companhias low cost, que chega à ilha Terceira na sexta-feira, “enquadra-se num conceito mais vasto”, o do “modelo de acessibilidades à região, que tinha objetivos muito claros”.

“Por um lado, proteger os residentes e estudantes, criando condições para aumentar a sua mobilidade e a sua capacidade de acessibilidade ao exterior da região, por outro, criar condições para que entrassem novos operadores e, com isso, o acesso aos Açores passasse a ser mais competitivo, possibilitando a captação de maior número de passageiros, o que se traduz também em impacto direto num setor fundamental para a região, o turismo”, declarou Vítor Fraga.

O governante, que na legislatura anterior assumiu a pasta do Turismo no executivo açoriano, realçou que houve um efeito multiplicador na economia regional do novo modelo de acessibilidades aéreas.

“O turismo, por si só, é um setor indutor de desenvolvimento de outros setores de atividade e isso faz-se refletir, porque quem cá vem acaba por consumir produtos que nós produzimos e acaba por utilizar um conjunto de serviços conexos que potenciam o desenvolvimento económico da região”, destacou.

Vítor Fraga referiu que os efeitos estenderam-se a todas as ilhas do arquipélago, notando que, no âmbito do modelo de acessibilidades, a “revisão das obrigações do serviço público de transporte aéreo inter-ilhas” determinou a redução de preço das viagens, mas também o aumento da conectividade entre todas as ilhas.

A consequência foi um “incremento muito expressivo ao nível do número de passageiros desembarcados por todas as ilhas, na maior parte delas acima dos 20%”, observou.

Sobre a operação low cost na Terceira, o governante está convencido de que “tanto as organizações públicas como a iniciativa privada estará habilitada a dar uma resposta cabal” às expectativas, que são “o incremento de pessoas a visitar a ilha”, mas ressalvou que a operação “terá um outro efeito”, o aumento dos níveis de mobilidade dos residentes.

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