Bilhete-postal enviado por João Viana

Abri a porta de casa, com o pão acabado de sair do forno da padaria do Sr. Fonseca, que se lamentava uma vez mais do tempo, do negócio, da política e das dores das costas que tardavam em se aposentar.

A Andreia tinha acabado de acordar e, como em todos os dias até hoje, aquele olhar ensonado mas meigo e aquele sorriso da manhã, com os braços esticados para o primeiro abraço, derreteram-me o coração e encheram-me, desde logo, um dia inteiro.

O pequeno-almoço estava pronto. Sumo de laranja colhida no Alentejo e acabada de espremer, fruta fatiada, o pão do Sr. Fonseca e uma rosa na mesa. Não ia ser um dia normal, mas a Andreia não o sabia e continuou agradecida enquanto passava os olhos pelas notícias da manhã e aquecia as mãos na chávena de café, inspirando aquele odor que a conforta em dias mais cinzentos.

Sugeri-lhe que vestisse algo confortável, tinha-lhe prometido que íamos aproveitar o fim-de-semana para dar um passeio sem destino, parar para almoçar e voltar quando os raios de sol desvanecessem.

Não fomos. Distraída, enquanto cantarolava uma ou outra música que a rádio (em zapping interminável) nos impunha, só se apercebeu que estávamos a caminho no aeroporto quando o avistou. Nem queria acreditar! Aqueles olhos esverdeados revelaram uma mistura de sentimentos. Estaria feliz? Surpresa? Receosa? Ansiosa? Perguntou, incrédula, "onde vamos?" enquanto simultaneamente lhe ocorreu "2ª Feira trabalhamos, não tenho roupa, não avisei ninguém". Olhei-a nos olhos e tranquilizei-a: "Descansa meu amor, confia em mim, está tudo tratado".

Paris era o destino! Só a deixei perceber quando não o pude mais evitar. Programado minuciosamente, debaixo do radar, há uns meses atrás. O desejo de a ver feliz, de a surpreender, de lhe realizar um sonho foi superior à tentação de lhe desvendar o segredo da viagem!

O avião saiu de Lisboa, a Andreia não parava de dizer que não acreditava ao mesmo tempo que dissimuladamente me tentava repreender por não ter avisado de nada. Perguntas e mais perguntas, beijos e mais beijos, abraços seguidos de abraços, e chegámos à Cidade Luz. Neve (que mais podia eu pedir?)!

O caminho para o Hotel foi de táxi, por entre as luzes da cidade e flocos de neve, por entre casais a passear na rua e restaurantes a receber os primeiros clientes, por entre avenidas gigantes cheias de glamour e brilho e ruas misteriosamente sedutoras, por entre as pontes, mágicas à noite, a proteger o Sena, gélido e altivo que desenha a cidade. Paris é a cidade do amor e era ali que eu queria estar.

Não fomos para o Hotel. A morada que eu tinha dado ao Sr. Robert era outra. Saímos, a neve caía-nos nos ombros com uma leveza reconfortante, o frio esbarrava nos cachecóis, mas gelava-nos a cara e aquecia-nos os corações. As luzes da Torre Eiffel, imponente e majestosa, intermitentes entre as ruas e os prédios, atraíam-nos e puxavam-nos para ela. Caminhámos num misto de calma e tranquilidade e de excitação, como quem quer apreciar tudo mas ao mesmo tempo, mas desejar que o tempo pare e que os momentos não fujam da nossa memória. Quando demos por nós estávamos frente a frente com a Torre, parados a admirá-la e incrédulos por umas horas antes ser apenas mais uma manhã chuvosa de Sábado.

Não foi a máquina fotográfica que me saiu do bolso do casaco. Foi um anel. Jamais esquecerei aquele momento em que o coração disparou, as pernas fraquejaram, as mãos tremeram, os olhos se encheram de emoção e se vidraram nela, como se tudo à volta não estivesse lá se e as palavras ganharam coragem. Ela disse que sim. Passaram 3 anos, continuam a ser os melhores da minha vida e, We will always have Paris!

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