Bilhete-postal enviado por Inês Carvalho

Estávamos em 2012, conversávamos sobre algo banal e subitamente:

- Eu nunca fui a Paris!

- Eu também não.

- Eu muito menos... Porque não vamos os três?

Assim foi! Estudantes e sem "um tostão furado" decidimos comprar um voo low-cost, o que implicava que o mesmo não fosse às horas mais oportunas do dia, assim, optámos por passar a noite no aeroporto. Às 2h00 estávamos deitados nos bancos a tentar dormir, mas não houve olho que se fechasse.

Já em Paris, depois de descodificar as linhas de metro, dirigimo-nos ao hostel que tínhamos marcado. À chegada, percebemos que aquele que seria o nosso abrigo durante os próximos dias estava rodeado de vendedores e única forma de circular no passeio era "em fila indiana". Deixámos as malas no quarto e voltamos para a confusão da rua.

Estávamos próximos do Sacré-Coeur, pelo que decidimos começar a nossa visita ali mesmo. Subimos uma grande escadaria e sentámo-nos no santuário a contemplar o seu interior, enquanto trocávamos algumas impressões. Pelo canto do olho direito, vejo a minha carteira andar lentamente para trás! Viro-me... e estão dois miúdos, ajoelhados, agarrados a ela. Eu puxo e eles fogem! Coração a mil! Quase fiquei sem documentos, dinheiro e telemóvel nas minhas primeiras horas em Paris. A mesma sorte não teve outra senhora alguns bancos atrás.

Depois de umas voltas pela cidade, pés e olhos cansados, decidimos procurar um supermercado para no hostel preparar o jantar. Chegámos à cozinha e percebemos que um dos frigoríficos não devia ser limpo há meses, as bancadas estavam imundas e a pia cheia de loiça suja. Conquistámos um bico no fogão e com alguma dificuldade jantámos. O dia tinha chegado ao fim e íamos finalmente descansar.

Novo dia!

- Vai correr melhor!

O primeiro a ir tomar banho percebe que o cubículo do duche não tem mais do que as suas dimensões. O segundo explica como foi difícil vestir-se naquele espaço que, pelos vistos, tem um cheiro pouco agradável. O terceiro elemento (eu!) depois de toda essa informação percebe que vai tomar banho de água gelada... em Fevereiro!!!

Estávamos decididos a aproveitar tudo o que a cidade tinha para oferecer, mas em Paris há objectivos difíceis de atingir. Superar a fila na Torre Eiffel é um deles. Primeira tentativa: a fila era demasiado gigante e desistimos só de olhar. Segunda tentativa: fomos para a fila e andámos poucos metros num grande espaço de tempo. Desistimos! Terceira tentativa: finalmente subimos e desfrutámos da vista.

Para rematar, no hostel tivemos ainda uma última surpresa: o quarto tinha um cheiro peculiar, havia um novo hóspede, estava esquecida (ou não) uma garrafa ao fundo da cama e havia barulho de fundo!

- Oh não...

Dormimos agarrados aos nossos pertences e eu com "um olho aberto e outro fechado" porque... aquele era o meu beliche!!!

Paris, dás-me uma segunda oportunidade?