Bilhete-postal por Isabel Silva

Um país diferente, que visitei durante cinco dias, e que comecei no meu dia de anos num autocarro durante toda a noite.

Não estava nos meus desejos conhecer Marrocos, mas proporcionou-se, e avançamos. Não me arrependi, não há arrependimentos para o conhecimento e para novas experiências.

Como disse, fomos de autocarro numa excursão e isso sim é para arrependimento. São muitas horas de caminho, tanto cá como lá. De Ceuta a Marraquexe, passando e parando por Tânger, Larache, Casablanca, Rabat e Asilah é carne para canhão!

Mas em todas as cidades encontramos diferentes pontos de interesse e diferentes paisagens.

O que é que dá vontade de fazer em sítios em que a oferta de artigos está na rua à mão de semear? Pois é, comprar! Mas, tivemos um guia chamado Mohamed que não permitia paragens, prometendo sempre que nos levaria a melhores sítios, homologados e de confiança, onde poderíamos efectuar as compras dos souveniers em segurança. Tramou-nos bem tramados, porque os sítios não eram assim tão bons e o que ele queria era comissões. As compras tiveram de ser feitas à pressa, o que foi benéfico pois assim não se perdeu a cabeça como poderíamos ter perdido.

O trânsito caótico ia-nos deixando com os cabelos em pé, sempre na iminência de assistirmos a um motociclista a ser passado a ferro por um dos veículos que não respeitando regras ou semáforos passam por todo o lado, sem olhar e sem medos porque julgam ter Maomé a olhar por eles.

Comer durante cinco dias o mesmo tipo de comida não é muito simpático, mas as saladas salvaram a situação. Os avisos e recomendações sobre a água, são muitos, até os dentes lavávamos com água de garrafa, tal era o medo. Deve de ter resultado, porque não houve problemas intestinais ou outros e tudo correu bem. Já a falta de álcool deixou alguns senhores com saudades de casa, saudades de uma cervejinha com o calorzinho que se fez sentir alguns dias. Nas refeições, houve sítios em que, choramingando como deve ser, se conseguiu um rose fresquinho, sempre pago à parte.

Algo que chama muito a atenção, é o contraste entre grandes palácios e zonas de casas que parece não terem acabado a sua construção, mas que têm os telhados (ou falta deles) cheios de parabólicas. Enfim, mais do mesmo, como no resto do mundo.

Foi uma experiência forte, vigorosa, mas não para repetir. Ficou visto, não me parece que umas férias de uma semana para descansar fossem ali passadas. É um sítio para calcorear, olhar, ver e cheirar. É um sítio com história, muita história que parece passar ao lado dos habitantes, como se não fosse nada com eles e com as suas vidas tranquilas de trabalho e convívio ao fim do dia, quando mesmo sem álcool, se juntam aos magotes nas praças das cidades.

Estamos no mês do Ramadão, às 7 horas da tarde não se viam homens na rua, estavam todos metidos em casa a começar a sua primeira refeição do dia. Esperava com expectativa ouvir os chamamentos dos minaretes, espalhados por todos so sítios. São feitos por homens, nunca por mulheres, e em directo, não são permitidas gravações. São momentos que tocam, há muita fé e dedicação da parte de um povo a quem parece que tuda dá igual, mas que seguem à risca as suas convicções e hábitos.

Salam Aleko

A Isabel escreve no blog Pessoas e coisas da vida, onde gosta "de divagar sobre tudo o que me chama a atenção tanto pela positiva como pela negativa".